27/06/08

Acabar Com os Ricos II



E neste processo revolucionario-milagreiro educativo há mesmo duas barricadas - chamemos-lhes... maneiras de o encarar.
Barreiras cada vez mais nítidas na exuberância com que um dos partidos da questão tentam enfiar boca-a-baixo a sua mistela.

Há dias a senhora Ministra da Educação correu o risco mal calculado de ir à SIC, em directo, ser entrevistada por um Bento Rodrigues que não esteve para lhe servir papinhas e a mandou eficazmente contra a parede por mais que
uma vez, sentenciar sobre os resultados de Provas e Exames.


Negando a pés juntos o alegado crescente facilitismo do ME, explicou que perante uma prova "usam-se técnicas estatísticas para avaliar a complexidade [...]. E quando apenas 5% dos alunos conseguem completar a totalidade da prova com êxito, isso diz tudo, ou alguma coisa".

Isto é, se numa prova hipotética de questões do tipo "Gostas mais de carne ou de peixe?"
95% dos alunos não fossem capazes de responder a uma última: "Em que está a Ministra a pensar neste momento?", reservada naturalmente aos 5% de alunos com poderes paranormais, a prova seria classificada decerto como de considerável dificuldade global!...

Foi bom de ver a dificuldade com que a senhora está em engolir o petisco que optimista sonhou digerir no refestelo da 5 de Outubro com a sua congregação...
Apesar do tom auto-suficiente da entrevista.


Dificuldade desesperada que levou a senhora a calcorrear de novo as ruas da demência e do desprezo, já percorridas muitas vezes durante o seu mandato.

Perante a questão desconcertante do entrevistador, "se estariam os nossos alunos a estudar mais ou as provas do Ministério a ser mais fáceis", e face a opiniões dos cra
ques da Matemática nacional, a Ministra da Educação deu com uma questão a resposta inimaginável:
"NÓS SABEMOS O QUE SE PASSA COM A MATEMÁTICA?"


Da boca da Ministra, num socratismo fora de tempo, foi posta a possibilidade de nada sabermos - isto é, de nestes anos todos do seu mandato ela mesma não se ter mexido para saber - "o que se passa com a Matemática".
Absurdo exercício de fuga e negação...



Mas foi mais longe, desorientada pela questão das queixas de impreparação dos jovens pela boca dos professores do Ensino Superior.

"AQUILO QUE É EXIGIDO CONHECER-SE COMO COMPETÊNCIAS BÁSICAS A MATEMÁTICA E A LÍNGUA PORTUGUESA, AS NOSSAS CRIANÇAS DO QUARTO ANO DE ESCOLARIDADE [CONHECEM-NAS]".
"NÃO É AS QUE ESTÃO A ENTRAR PARA A UNIVERSID
ADE".
"SE AS CRIANÇAS NÃO CONTINUAREM A TRABALHAR DEPOIS DOS 10 ANOS O PORTUGUÊS E A MATEMÁTICA... NÃO HÁ MILAGRES, VÃO COM CERTEZA REGREDIR..."

Fora o absurdo das "competências bás
icas que se conhecem", terminologia de uma cientificidade de vão-de-escada, fica a afirmação de que no percurso escolar dos jovens portugueses, desde os dez anos até à faculdade, é sempre a regredir.

E no exercício, já tão bem conhecido de todos, de desprezo por qualquer profissional que atravessado no seu caminho lhe aligeire o fardo da má-consciência ou da má publicidade, depreende-se que a regressão fica a dever-se à - má - qualidade do trabalho que se realiza nas escolas de 2º e 3º Ciclos e Secundárias, que dão cabo dos nossos meninos...

E porque não ir ler o Pisa com atenção? Mesmo que fossem só os bonecos a cores; que já lhe davam uma certa ideia.
..


clicar p/ aumentar - fonte: Relatório Pisa; 2006 ( a ler, mesmo!!... )



clicar p/ aumentar - fonte: Relatório Pisa; 2006 ( ...mesmo, mesmo!! )

No Ensino Português (pré-Milagre), não sendo nenhuma avaria nem surpresa, a literacia nos domínios da Matemática e do Português são crescentes durante a escolaridade dos jovens.
Pelo menos desde 2000. Pelo menos até 2006!

A solidez de uma "verdade" boçal, criada de circunstância, à la minute, muleta para amparar um esquema de pensamento improvisado mas rígido, imagem de uma marca!



Mas a fuga continua. Sempre. Desembestada. Em frente.

E se a propósito da facilidade das várias provas de anos e ciclos na boca de jovens em êxtase o entrevistador comenta "Eu não me lembro dos meus exames serem 'fáceis demais'!", resta a fuga para o beco.
A fuga para o farol da razão.

"HÁ UNS QUANTOS PESSIMISTAS DE SERVIÇO NESTE PAÍS. [...] O PAÍS TEM QUE ESTAR SEMPRE MAL E OS ALUNOS TÊM QUE SER SEMPRE MAUS. QUANDO OS RESULTADOS SÃO POR SI MAUS E REVELAM FRAGILIDADES NO CONHECIMENTO DAS COMPETÊNCIAS, AÍ ESTÁ A PROVA DE QUE O PAÍS ESTÁ MAL. QUANDO MELHORA, COMO O PAÍS NÃO PODE MELHORAR, É PORQUE AS PROVAS ESTÃO ERRADAS."

É verdade que há pessimismo. E que de tão crónico que é nos impede de abandonar o posto - estar de serviço vigilante a esta gente.
É verdade que com gente assim se vai confirmando que o País tem, forçosamente, de estar sempre mal. E que os alunos, como nós os fazemos, sempre maus. Não é opinião, é facto.
É verdade que maus resultados educativos revelaram fragilidades.
E é verdade que melhorias destas, abruptas, sem fundamentos, só podem revelar que, de facto, as provas estão erradas...
Concordo com a Ministra da Educação em cada um destes pontos.

Mas não me cheira que a senhora apreciasse essa coincidência.




Por isso creio que continuaremos a divergir.

Mesmo quando a senhora Ministra diz dos "FACTOS CONCRETOS, [COMO] AS HORAS QUE ESCOLAS E PROFESSORES TIVERAM PARA MELHORAR OS RESULTADOS".

Sei falar-lhe da ilusão que é o reforço da leitura em sala de aula, só por si, recuperar resultados de alunos neste intervalo de tempo...
...E da indecente sovinice de um Ministério que regateia crédito horário docente para os apoios em Língua Portuguesa aos alunos que deles precisam.

Como sei falar-lhe de um Plano Nacional da Matemática cujos resultados espelham a sujeiição às mesmas burocracias, às mesmas restrições orçamentais, à mesma engrenagem ministerial castradora de sempre.

Mas isso cheira-me que será assunto para mais tarde.

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