(Têm-se passado as semanas e eu sem "espaço" para postar este texto...)
Está a correr na RTP1, às Terças, o Telerural com os actores Pedro Alves e João Paulo Rodrigues.
Portugal, como já alguém disse, é um País com dificuldade em rir-se.
Não em fazer a chalaça na tasca, em contar a anedota porcalhota, dizer o dichote sobre o ##### do governante ou sobre o clube do odiozinho, não em gozar com o patrão, com o subalterno ou com o vizinho que é coxo. Nisso o português não tem dificuldade nenhuma - pelo contrário!
Falo de uma incapacidade séria de se expor ao ridículo. De expor o seu ridículo.
De partilhar o ridículo do outro descobrindo nele a sua parte.
Isso sim, dói bastante ao Português. Inseguro e cioso da sua frágil dignidade.
Por isso, de ter em conta quem salta o obstáculo.
O duo do Telerural começou na Praça da Alegria do canal público - hino àquela televisão que só compreenderei quando reformado reconhecer como o Jorge Gabriel é um "grande profissional" ou como a Sónia Araújo é "o maior sex symbol da têvê" - e até aí conseguiu sobressair...
...Pôs-me muitas vezes a assistir ao prolongamento da pepinada para apanhar a rubrica que no programa levava poucos minutos (e que agora dá para rever em arquivo).
Basicamente o Telerural é um clone ruralo-bruto de um serviço de informação televisivo.
Que ainda que enganasse pelo formalismo de noticiário credível (?...), serve uma deformação grotesca de "critério editorial".
- Qual o raio de alcance desta mundivisão rústica?
A aldeia de Curral de Moinas e uma área nortenha indistinta de um País que forçosamente será Portugal...
- Qual a importância dos intervenientes da notícia?
A dos protagonistas do dia-a-dia desse microcosmos agrário.
- Qual o relevo do acontecimento ocorrido, justificativo da notícia dada?
Por um lado, absolutamente nenhum; reduzido à saliência do ocorrer, por isso destoar na sintonia da monotonia campestre e tornar-se divulgado.
Por outro lado, todo; cada acontecimento torna-se relevante e noticiável em Curral de Moinas pelo decalque grosseiro e rigoroso que constitui do que fora da aldeia não é (?) absurdo mas ali, por distorção de escalas, é caricatura em choque de dimensões.
Curral de Moinas é uma amostra do tão apregoado "País real".
Pequeno - minúsculo - em extensão e mentalidade, virado sobre si, conhecendo o mundo nessa estrita medida, embasbacado, redundante, estéril, ridículo.
Ridículos, absurdos... nós.
O Telerural faz-me recordar o genial britânico League of Gentlemen, que já andou igualmente em tempos pela têvê portuguesa...
Um programa cómico de outra divisão. Outro orçamento, outra maturidade.
Mas no mesmo espírito. A recriação monstruosa de um idílico paraíso de província em que a normalidade é muito mais voraz do que aparenta.
Uma inglesa Royston Vasey brutal, no country side.
Um lusitano Curral de Moinas boçal, na parvónia.
Dois universos.
Dois convites à viagem. À descoberta. De si.
Dois exemplos - muito diferentes - de um humor sinónimo de inteligência.
Mas no mesmo espírito. A recriação monstruosa de um idílico paraíso de província em que a normalidade é muito mais voraz do que aparenta.
Uma inglesa Royston Vasey brutal, no country side.
Um lusitano Curral de Moinas boçal, na parvónia.
Dois universos.
Dois convites à viagem. À descoberta. De si.
Dois exemplos - muito diferentes - de um humor sinónimo de inteligência.
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