...boicotar este fim-de-semana (e não só) as principais petrolíferas.
Apesar de antigo cliente da BP.
Vivemos um momento-chave para testar a saúde da(s) nossa(s) democracia(s ocidentais).
Por motivos que ninguém sabe explicar (isto é, sustentar) os preços dos combustíveis escalam tabelas.
E se em Fevereiro deste ano era notícia surpreendente a queda da barreia psicológica dos 100 dólares por um barril de matéria viscosa tirada de um buraco lá para o Médio Oriente ou quejando, em Maio ouvia-se com espanto que esse valor já ia nos 124 dólares e não parou entretanto de subir...
Parecendo certo a todos - excepto para algum iludido - que a subida não tem fim certo.
A morte deixa sempre uma desculpa e por isso vários motivos de passado recente têm servido para explicar as altas do petróleo nos mercados e nas carteiras: a aventura americana no Iraque, a superprocura de combustíveis de uma Índia e de uma China em expansão industrial, as doideiras de Chávez na Venezuela, o dólar enfraquecido em que se negoceiam os combustíveis, comportamentos histéricos nos mercados e reservas influenciados pela fobia de más notícias sobre diminuição de capacidade de poços em exploração, etc.
Mas dizem que nenhum motivo chega aos calcanhares do maior responsável pela subida em flecha dos preços dos combustíveis: a boa da especulação.
Há por aí uns gabirús (mais ou menos singulares, mais ou menos corporativos) que se entretêm a brincar com os preços de matérias combustíveis; como quem o faz com acções, moeda, ouro, açúcar ou carne de porco, obtendo daí avultados lucros sem mexer uma palha...
Eu disso sei pouco.
O que sei são duas coisas: os preços vão subindo e niguém faz nada.
Os preços irem subindo atribui responsabilidade às petrolíferas, imorais.
Os mercados de origem dos combustíveis não só não são infinitos, como vendem os barris de crude a preços concertados, como também quem o adquire são multinacionais que o aspergem sobre todo o globo. Logo, não se justificariam disparidades gritantes de preços que disparam nuns países e não tanto noutros.
E mesmo a questão fiscal não é justificativa neste ponto já que os impostos aplicados, se não sobem, não estão no grosso de tais aumentos.
Tudo agravado por uma crónica "coincidência" dos valores de aumento de uma petrolífera poderosa para a outra do lado, situação que sitia o consumidor, encravado pela comodidade na sujeição a regras despóticas de mercado em cartel.
Mas subsiste a questão do fazer-se algo contra tal situação.
"Fazer-se", quem tem a responsabilidade delegada pelos portugueses para agir: o "Governo" da Nação.
Que em vez de assistir de poltrona aos saltos de preços - já na casa das duas dezenas desde o início do ano - deveria ter-se mexido em tempo útil e exigido à Autoridade da Concorrência que se tivesse já manifestado quanto às suspeitas de cartelização combustível que correm pela praça.
Um "Governo" a quem - por ter dado tanto trabalho a inventar o travesti do défice de 7% em 2005 e a "equilibrar" as contas do País de lá para cá - não passa pela cabeça desenvolver qualquer intervenção fiscal ou financeira, qualquer medida de estratégia nacional de salvaguarda de cidadãos ou sectores-chave. É que as ajudas de emergência poriam alguns cidadãos "em situação de desigualdade face a outros sectores" (!!) e as "medidas de apoio apenas [a sectores-chave] não colheriam, seguramente, o apoio da opinião pública". (!!!)
Um "Governo" que sobre a situação de ruptura que se vive tem saídas como as do Ministro da Economia - em termos de "demónios", "especulação selvagem", "fazer o que se pode" e "aposta nas energias renováveis" - que nos deixam sérias dúvidas sobre se o incompetente estará ou não a gozar connosco.
Isto é, longe da terra, das gentes deixadas à sua sorte, com a anuência do próprio País lorpa que somos.
Um "Governo" que em vez de sacudir a água do capote quando comparada a taxa de IVA em Portugal e Espanha, devia assumir sem rodeios a fatia choruda que lhe cabe no arrecadamento de impostos sobre o preço artificialmente elevado dos combustíveis e que por critério exclusivamente político não intervém.
Por isso, aderir ao boicote. Este fim-de-semana e não só.
Não se pode boicotar de uma só vez todos os responsáveis por esta situação - recordar que em 2004 a Cepsa e a Esso foram investigadas por poder ter concertado preços - , mas já me fico pelas maiores petrolíferas a operar por cá. Que maior sangria nos provocam ao atestar um depósito.
A BP, a Repsol e a GALP...
...A nossa GALP, a nossa menina, a nossa jóia da coroa, que já este ano está a ter lucros colossais graças a uma chulice consentida que não reverte a favor do Estado que a favorece nem sequer dos desgraçados dos gasolineiros que vêm a clientela a retrair-se ou a fugir para Espanha.
Mas também um boicote simbólico ao actual "Governo" socialista.
Porque não nos iludamos: quando um País amorfo se mobiliza e provoca prejuízos eventuais a uma petrolífera na casa da dezena de milhão, é possível que comecem a fazer-se as perguntas certas.
Os portugueses já estão obrigados a alterar as suas rotinas em função da carestia descontrolada dos preços dos combustíveis.
Os sectores económicos que mais poderiam ser afectados, estão de facto a sê-lo. Indústria, transportes, agricultura, pescas, enfrentando em muitos casos um abismo só mitigado pela transferência do peso dos custos da sua actividade para as costas dos consumidores.
Os portugueses têm a consciência de que não sendo um Governo a estabelecer os preços de um mercado liberalizado ele pode e deve ter uma postura diferente da de mero espectador.
E neste - mais um - momento em que nas democracias ocidentais os cidadãos de corpo inteiro estão convocados para tomar uma posição perante um atropelo grosseiro e absurdo do conforto e da segurança com que os governantes tanto acenam, hipócritas, há os que a tomam e os que não.
Partíssemos nós do princípio que o "Fim das Ideologias" era uma realidade, temos frequentes oportunidades de solidariamente nos opormos a uma lógica egoísta, corrupta, dissimulada e fria que rege a nossa vida global.
Que a militância pode ser partidária mas tem sempre de ser de consciência.
Por isso vou. À minha meneira, à minha escala, pôr contra a parede quem me quer fazê-lo. Como atitude de auto-defesa, de auto-determinação.
Participar no boicote.
Vou!
Já ao Rock in Rio é que não. Não tenho muita pachorra para aquele tipo de coisas...
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