30/04/07

O Triunfo da Vontade

28/04/07

Perversões

Sua excelência o senhor Pinto de Sousa inaugura a Ovibeja deste ano, a 24ª , depois da barraca do ano passado, como bom matarruano.

Fica assinalada a efeméride.

24/04/07

RTP, 50 anos depois

A nossa RTP vai com 50 anos. ("Nossa" pelo que dela também eu ajudo a pagar!...)

50 anos. Uma bela idade.
Ainda fresca e aí para as curvas, mas já longe dos 15 ou dos vinte aninhos saltitantes nos écrans, sem oposição nem concorrência.

Daí algum carunchito que se lhe vai já constatando...

Como exemplo, cinco singelos minutos no Telejornal de anteontem, para aí...

Em menos de um nada, o rosário de notícias foi uma rajada de tiros numa linha de melros, caídos direitinhos um após outro.

1º Melro

Começou com a inauguração da linha telefónica Saúde 24.
Pretendendo alargar o conceito da linha de saúde infantil "Dó-dói Trrim-trrim" que já existe, a ideia objectiva da sua criação é "retirar 13 mil utentes das urgências por mês", dissuadidos que sejam telefonicamente de ir entupir as urgências com os seus casos menos graves.
Acontece que o óbvio, por sê-lo, ocorre a qualquer um. Por exemplo à Ordem dos Médicos.
Que defende que um enfermeiro a operar um protocolo telefónico importado de país onde foi já foi usado não dá qualquer garantia de eficácia na triagem dos doentes para "consulta de urgência", assistência por "uma equipa do INEM", "consulta nas 4 horas seguintes", "consulta no intervalo de dois dias", ou para uma "consulta de rotina".
Óbvio!
Contudo, o responsável pelo contrato com o "Governo", a Linha de Cuidados de Saúde, SA, pela bela soma de 45 milhões de euros em quatro anos, afirma peremptório: a linha está isenta de falha na avaliação clínica do estado do telepaciente para encaminhamento, pela palissádica e cristalina razão de que a linha "como não faz diagnóstico, não pode errar".
A RTP faz a montagem da reportagem, confere privilégios de última palavra a quem entende e assim formata e publicita a idiótica mensagem.

2º Melro

Reportagem sobre o arranque da campanha para as Legislativas Regionais de dia 6 de Maio.
Muitos lugares comuns, umas imagens requentadas, outras vistas e revistas em todos os outros noticiários de todos os outros canais, mas com um fim de laçarote único.
Entalado num plano genial entre dois cartazes dos candidatos dos maiores partidos concorrentes - João Jardim pelo PSD e Jacinto Serrão pelo PS - o repórter deixava ao espectador a incerteza do resultado da votação, sendo que aqueles dois candidatos foram responsáveis nas eleições anteriores por "80% dos votos" dos eleitores...
Bom, digamos que me fez lembrar o outro, que perguntava "quanto é que quer que isto dê?".
É possível associar o PS-Madeira à bela cifra de 80% dos votos do eleitorado. É.
Como era possível associar 87% dos votos e o resultado do CDS.
Ou 92% ao do PCP.
Ou 95% ao do BE. Grosso modo.
Como era possível, entalado entre as duas carantonhas dos dois grandes repetentes nestas eleições ao Governo Regional, relembrar que em 2004 o PSD obteve 54% dos votos madeirenses e o PS quase 28%.
...Tudo é possível, queira-se e lá chegará a língua.
Basta é querer.

3º Melro

A inauguração do Túnel do Marquês, em Lisboa.
Numa breve reportagem com o historial do túnel, incluindo os projectos, as Providências Cautelares, o Metro, a passeata no 25 de Abril, etc., chegou-se ao momento histórico presente e à sua abertura ao tráfego - envolvida também ela em polémica.
E com um plano de luz ao fundo do dito, a sentença lapidar da jornalista, que dava a abertura do Túnel como chegada, após "atrasos, precalços e oportunismos políticos" (sic).
Palavras misteriosas que o rigor e o esclarecimento jornalístico não lograram clarificar...

4º Melro

Parece que morreu Boris Ieltsin.
O continuador da Perestroika, da Glasnost e da Uskoreniye de Gorbachev, coveiro definitivo da União Soviética, padrinho de novas Nações de Leste, combatente e resistente ao fantasma de um comunismo mal extinto, incentivador de um novo modelo social, económico e político russo, investidor num novo equilíbrio mundial sem complexos históricos.
O alcoólico inveterado de dedo trémulo no botão nuclear, o debochado governante de mãozinha lampeira no traseiro da secretária (talvez daí algumas afinidades
que se descobriram...).
Seja como fôr, celebrado pelos que ainda cá andam.
Daí José Rodrigues dos Santos ter dito que "P
utin elogiou o se assessor". Eventualmente seria o seu antecessor...
Mas mais coisa menos coisa....

A RTP mostra-se pronta para muitos mais cinquentas anos que venham.
Aguentemos nós.

Kcidade


Parece que o doutor Marques Mendes estendeu a manta e começou a venda.

Por absoluta falta de vontade (!...) e de verve (...domínio em que permitirá a Paulo Portas fazer flores!) para condenar a acção do "Governo", o líder do PSD iniciou um novo ciclo político pessoal: o das promessas eleitorais de longa duração.

Parece que
prometeu para Portugal não-sei-quanto "do rendimento da UE" até dada altura do milénio, caso seja eleito nas próximas legilativas - tal a sua capacidade de antecipar e produzir quadros económicos à distância de legislatura e meia sem fazer sequer actualmente parte do "Governo".

O que é de lamentar é que o assombroso prodígio de adivinhação que lhe permite antever ciclos e concretizações não possa ser posto ao serviço do esclarecimento público: adivinhar se em 2009 vai ser eleito (está-se mesmo a ver...).

Caso fosse, não precisaria de aliciar-nos com drops.
Caso não fosse, não teríamos de ser melgados com a sua demagogia de pacotilha.

Mas talvez a explicação seja simples.
O ter-se tratado de uma criancice própria do encerramento de um congresso da sua jota.

23/04/07

Semiótica ideológica

Lançado a quem o pretenda, o desafio de interpretar os sinais de um inofensivo acesso à net para saber do debate Castro/Portas...

* A presença da seta laranja - que relação?;
* ...Em sentido descendente - que alusão?;
* A referência ao "outlander" - que antecipação?;
* A possibilidade do "test drive" - que sugestão?.

Coincidências cósmicas... Ou talvez não.

22/04/07

Hélder e o Rei do Kuduro

No princípio era o verbo...

...Inflamado, no
Conselho Nacional do CDS-PP.

Por entre acusações trocadas de falta de "pêpêsismo" e insultos de f*lh* d* p*t* a voar das bocas assumidamente mais queques da política nacional - que queques na política portuguesa há muitos, mas não se assumem... -, Ribeiro e Castro e Paulo Portas esgrimiram os seus argumentos no fito de seduzir a nação democrata-cristã a arrebanhar-se à beira de um ou de outro.

É que, rasgada uma manhã de nevoeiro pelo troar de um Maserati, soube o País e o mundo que
Paulo Portas estava de volta à presidência do PP.
(Isto posto sem cerimónias, que mal o senhor apareceu estava o desfecho traçado!)

Obrigado a abandonar o posto no caótico fim do Governo PSD-PP, agradeceu a Ribeiro e Castro ter-lhe mantido o lugar quente e firmou-se no propósito fácil de o apear em público e sem apelo.
Propósito ética e moralmente fácil.
Precisava apenas de conseguir vender ao partido a necessidade de eleições directas, sem recurso a congresso nacional - que mais dificilmente controlaria.
Foi o que pretendeu no Conselho Nacional de todas as peixeiradas.
Por exemplo a
alegada agressão à presidente do Conselho Nacional do CDS-PP, Maria José Nogueira Pinto, pelo deputado Hélder Amaral, durante a refrega...

Mais denúncias, menos
desmentidos, mais disparates, menos melindres, fica o burlesco episódio, representativo do que uma família honrada (...) pode tornar-se com despiques de galarós.

Visto de fora, sinceramente, não tenho grande dificuldade em perceber melhor uma Nogueira Pinto que
desabafava vir a não ser "nada nem ninguém" num partido "território onde alguns assaltam o poder" - ameaçando sair -, do que um Telmo Correia que inacreditavelmente lia dessas palavras a "tentativa de cisão" do partido.
Honestamente - como simplório cidadão - não me custa apontar a dedo onde vejo o grupo dos bandoleiros.

Não carecia o País do
"debate" entre os concorrentes, na RTP.
Uma conversa de semi-chacha, de "tu-cá-tu-lá", que não foi para nenhum, não foi para o PP, nem foi para ninguém.
Portas apontando a frouxidez de Ribeiro e Castro (já que criaria "uma oposição mais sólida a José Sócrates"); Ribeiro e Castro apontando Portas como "o líder da oposição ao longo deste ano".
Grandes novidades...

E Ribeiro e Castro
não prescindia de um congresso... até ter de capitular.

E vieram as directas. E a vitória de Portas.
Esmagadora. Previsível.

Numa época política em que estamos, do chamado "pragmatismo", tanto me espanta num partido socialista um homem que de socialista nada tem - apenas um "certo ar promissor" vital para um partido em jejum -, como noutro democrata-cristão ver chegar à direcção um (re)novo presidente através da mais soez das manobras - totalmente irrecusável a promessa do melhor cão para a resposta ao do adversário.

Ainda que os Hélders desta "nova" vaga, discípulos do "novo" líder que optaram, se contem pelos 22% do total dos militantes do PP... (Uma vergonha que trespassa todo o País.)
...E que não se confundam com democratas-cristãos veneráveis como Narana Coissoró, que ameaçou "afastar-se
do partido" no caso da “via Portas” voltasse a dominar o PP.

Diz Paulo Portas, no discurso presente da "Primavera do CDS" e da "síntese de que o CDS precisa": “Também sei que na sociedade portuguesa há preconceitos sobre este vosso amigo que aqui está. Vou lidar com eles com inteira naturalidade, prestar-lhes atenção e ter alguma ironia, que em política, como na vida, é preciso estar nisto com alguma boa disposição”.

Tem razão. Há preconceitos. Como o meu.

Contra indivíduos sem carácter que se pavoneiam por aí imaculados; como quem passeia no Parque.
Contra indivíduos cuja leveza de consciência atropela o pudor e aflora a demência.

Abatido o único líder partidário que me merecia algum respeito - pela sua evidente incapacidade de sobrevivência no meio - estamos cada vez mais entregues a um surrealismo político degenerativo.
Quem se seguirá nesta Arca de Noé?
O que se seguirá nesta orgia delirante?


19/04/07

Realidades

Para quem goste de visitar a fronteira do real.

(Com os cumprimentos do Desculpe Qualquer Coisinha.)

18/04/07

A TLEBS? Outra vez?! Claro.

"A nova terminologia gramática entra em vigor em 2010/2011", noticia-se.

Já não há muito mais a dizer sobre a TLEBS.

Talvez que é mais um caso de requintada impunidade em que "Governos" sucessivos brincam com coisas sérias e não com quem lhes fez as orelhas.
Sem censura. Sem punição. Sem registo na história dos torpes.

Talvez que sendo um desgosto morno não é nenhuma novidade que a coisa vá em frente (tive essa mesma conversa à porta da minha escola ainda não há uma semana...).
Como salvar a cara o Ministério da Educação, depois das vergonhas passadas e presentes, senão levando o andor até ao fim?
(E bem pode o "Governo" queixar-se da herança de outros, que o compromisso com a TLEBS é muito maior que a sua obrigação para com ela.)
Agora que os experts da Língua deixados antes de fora passam a sentar-se à mesa dos pagos para legitimar a TLEBS, nada se lhe oporá.

Talvez que tudo isto é uma enorme vacuidade.
O que é a escola, o ensino, a aprendizagem, a Língua Portuguesa, a competência de comunicação dos cidadãos em formação, o seu sucesso futuro, nada disso depende da entrada em vigor e da aplicação da TLEBS.
Grandes entreténs; pouca seriedade.

E a TLEBS não passa de um zombie destes.
Morta por dentro que ainda mexe.
Um zombie de borracha que nunca chegou a morrer e a ser enterrado.
Uma falsificação simpática para impressionar os incautos numa festa de mascarados que alguém quer que fique na memória.

E que ficará mesmo.

YMBA


Nunca o senhor Pinto de Sousa imaginaria que os seus "15 minutos de fama" se estendessem desta maneira.
(Mas mal por mal, antes o mal da fartura...)

Os pormenores da sua saga académica não param de brotar do chão, como cogumelos - o que não basta para que os irredutíveis gauleses que se fecham sobre o Primeiro-Ministro lhe aliviem a cintura de protecção; numa cena patética de teatro do absurdo.

O ter sido dito pela UnI que a conferência de imprensa para divulgação das "conclusões da averiguação interna realizada ao processo José Sócrates" incluiria "revelações bombásticas" (sic) e "dados [...] inesperados"...

...Para à última da hora adiar a conferência de imprensa da "clarificação definitiva" e a seguir esvaziar a bolha que encheu, esclarecendo que afinal as eventuais "revelações bombásticas" não se relacionariam "com o percurso académico" do Primeiro-Ministro!

O ter vindo a lume que Luís Arouca afinal nem sequer era reitor quando autorizou a matrícula de José Sócrates.

O ter sido admitido pela UnI a "falsificação de certificados para denegrir a sua imagem" - objecto enigmático que se espera poder desvendar.
"Falsificação" quando? Hoje? À data da polémica? Para "denegrir" a já defunta UnI?
Ao tempo de Sócrates? Para denegrir o quê ou quem?...
"Falsificação" por quem? Pelos media que noticiaram a paródia? Pelos órgãos institucionais que têm em sua posse os documentos frutacores que deveriam ser um só em conteúdo? "Falsificação" pela própria UnI?
"Falsificação" com que fim real? (Já que o de "denegrir" a universidade é neste oceano um fim risível...)
"Falsificação" com que nível de conhecimento - eu não disse "cumplicidade" - do senhor Pinto de Sousa? Pobre ingénuo, que anos a fio teve "falsificados" documentos pessoais que durante anos foi disseminando pelo País, sem que a alma se lhe bolisse em alerta, tão puro é o jovem no cuidar do mundo...

O ter sido tornado público um "trabalho" rançoso que o senho Pinto de Sousa fez no aconchego do lar e lhe granjeou a cadeira de Inglês Técnico do professor Luís Arouca. Uma mísera folha A4 enviada para o reitor da UnI "acompanhada de um cartão com o timbre do seu gabinete de Secretário de Estado" (noblesse oblige!!), peça-chave da sua obtenção do canudo.
Passaporte dourado para o mundo dos drºs e engºs, que ainda não é claro que lhe tenha sido carimbado antes ou depois de acabado o seu (per)curso...

...E a pronta resposta do Gabinete do Primeiro-Ministro, segundo a qual a apresentação da rançosa folha "prova [que o cavalheiro]
obteve aproveitamento na disciplina"!!!!!
(Exacto, porra!, é esse precisamente o meu problema!)

Ou a possibilidade de o tetra-professor do Primeiro-Ministro na UnI, António Morais (que enquanto lhe dava aulas demorou apenas um mês a entrar para o "Governo" Guterres e quatro a receber de mão beijada a Direcção do influentíssimo Gabinete de Estudos e Planeamento de Instalações do Ministério da Administração Interna) ter contratado o pai do senhor Pinto de Sousa - Fernando Pinto de Sousa -, para a fiscalização em Castelo Branco da construção do quartel da GNR .
Só duques.

Mas enfim, seja como for, o que é certo é que os "15 minutos de fama" do Primeiro-Ministro devem estar a ser saboreados, uma vez que continua a dar o flanco.
Para além do desnorte da biografia do senhor Sousa na Wikipédia - que já terá tido "mais de 70 versões diferentes nas últimas duas semanas"-, a "breve nota biográfica" do senhor Sousa no Portal do Governo não inclui o MBA em Gestão de Empresas que terá feito no ISCTE. Porquê?
Uma das "perguntas que esperam uma resposta", do Público, há já largo tempo.

Qual o motivo da hesitação?
Porquê deixar a pós-graduação de fora do seu curriculum?
Porquê o MBA?

Ou como se diz em Inglês Técnico: "YMBA"?

Lisboa menina e moça

Olha que ele há coisas!...

Então não é que pode havar "ilegalidades na contratação de assessores e falsificação de documentos para pagar horas extraordinárias a avençados" na Câmara de Lisboa?!...

Olha que esta!...

Parece que se calhar "alguns trabalhadores avençados ganham muito mais do que os que pertencem ao quadro da autarquia", com o "expediente de alegadamente incluir no contrato um cálculo de horas extras"!...
Sendo que "as irregularidades poderão abranger sobretudo os contratos de prestação de serviço, [...] que não passam pelos recursos humanos e são tratados directamente pelos vereadores", tratando-se de um problema "transversal a todos os pelouros, mesmo a gabinetes da oposição".

C'um catano!... Que choque!...

Choque que ninguém tenha levantado estas lebres sarnentas já há mais tempo!!
Afinal parece mesmo que se justificavam algumas perguntas.


"Quem pára a gangrena de Lisboa?
Ou posso perguntar melhor: porque não pára ninguém a gangrena de Lisboa?
Tantos assuntos pendentes para acertar...
"

Gato por lebre

O Gato Fedorento anda cada vez mais na boca do mundo.

Não obstante a desvalorização em bolsa que vão sofrendo semana a semana, como que tocados pela maldição da mediocridade da (actual) RTP, sei que semanalmente lá estou eu, a peneirar aturadamente o cascalho da "Espécie de Magazine" - não encontrando senão uma "espécie de pepitazita" aqui e ali, para amostra.

É o que há cá na terra,
pronto... paciência. E não será mau de todo.

Mas a sua meteórica mediatidade das últimas semanas decorreu, não de qualquer nova lufada de génio televisivo, mas do raid nocturno do felino a um cartaz plantado na mais movimentada praça lisboeta.
Um cartaz do PNR em que o mal-estar nacional dos nossos dias vazava pelos poros da propaganda fácil contra os imigrantes.

Sem deixar cair a bola no chão, os bichanos decidiram esgalhar um cartaz de réplica ao original, fizeram-se caracterizar e fotografar, fizeram-no compor, imprimir e afixar, pagando do seu bolso (segundo se disse...) um cartaz-sósia do original, postado mesmo ao seu lado para chacota geral.
Tudo no intervalo de uma semana...

Lembrei-me disso neste Domingo, ao serão, ao dar mais uma vez uso à peneira.
Os Gatos aludiam sem cessar ao canudo da Farinha Amparo do senhor Pinto de Sousa e eu fazia contas de cabeça...

O Primeiro-Ministro manteve o seu esfíngico silêncio uns vinte dias ("silêncio", porque os socialistas não têm "tabus"!) antes de se dignar falar... a "espécie de sátira" aconteceu no programa do fim-de-semana seguinte, mais quase meia-dúzia de dias... o que dá uma engonha dos miaus de quase um mês, desde a vinda a lume das notícias dos canudos do senhor Pinto até ao pegarem na deixa!
(Numa paródia, aliás, inofensiva, digna de meros gatinhos de colo!)

Eu entendo perfeitamente que a onda nacional seja a de bater no ceguinho do PNR ("ceguinho" porque Deus Nosso Senhor não lhe deu mais vista que aquilo...). Ele foi Governo e oposição, foram sindicatos, Câmara de Lisboa, num côro politicamente correcto e apatetado, contra algo que logo se previu que estaria ao abrigo da lei que confere aos cidadãos o direito de dizer as anormalidades que lhes apeteça, conquanto não a fira - como o PGR evidentemente veio confirmar.

Mas era capaz de jurar que há aqui uma discrepanciazita entre a dificuldade de se mexerem para denunciar as deformações de personalidade do senhor Pinto de Sousa numa antena semanalmente escancarada sobre o País e a presteza de parir um outdoor daquele tamanho - coisa para valentes horas de parto - para bater caprichosamente no ceguinho (inválido), o que se propuseram fazer espontânea e diligentemente.

Porque entendamo-nos.
O cartaz do PNR só pode ser visto como um abuso democrático se fôr levado a sério (e tanto deve ser assim visto como assim levado)...
...Na medida em que o do Gato seja levado a sério também.

Humores à parte, não sei onde está maior "parvoíce".
Se na mensagem estapafúrdia mas politicamente legítima de "acabar com a imigração", se na mensagem satírica de "com os portugueses não irmos lá".
Passível de mil interpretações diferentes, "com os portugueses não irmos lá" é uma tirada infeliz, que não querendo ser nacionalista acaba não sendo sequer patriótica, que chega aos olhos dos portugueses numa fase difícil da vida em comum de um País congestionado, uma tirada chacoteira que atinge mais "os portugueses" referidos - diminuídos na sua capacidade -, do que os populistas visados, que agradecem a publicidade de uma dupla visibilização do seu monótono cartaz.
(...E refira-se, de passagem, a escandaleira constitucional que não seria qualquer outdoor que proclamasse "socialismo é parvoíce", ou "comunismo é palermice", ou "social-democracia é estultice", ou "democracia-cristã é lorpice", ou "lá-aquela-coisa-que-é-o-BE é sandice"!!!)

E ficou por dias decorado o Marquês com duas "espécies de anomalias".
Entre a destruição do cartaz - legal - do PNR e a remoção compulsiva do cartaz - ilegal - do Gato, pouca história fica.
Apenas a de um segundo cartaz do PNR,
que insiste em vender a sua pílula.
Certeiro na defesa inquestionável do seu direito à expressão, mesmo que em sacrifício do elementar bom-senso, que desmonta a falácia das "ideias" que não se podem "apagar" pela simples razão de não existirem!

O que é relevante é este novo duplo fenómeno.
O dos comediantes-políticos, totalmente novo em Portugal, e para o qual prevejo um tristíssimo fim.
E o dos Gato como novos pioneiros cívicos do Rectângulo à beira-mar.

O humor genuíno sempre incomodou os poderes fátuos.

Mas o humor de perfil, timming e propósitos selectivos arrisca-se a ser tão perigoso como os perigos que "zurze". A ser ainda mais ínvio e condenável que eles.
Arrisca-se a ser uma versão pós-moderna no humor de uma modernice que já campeia na política: a dos Homens Novos, dos cátaros, dos novos Iluminados que se opõem a uma velha tradição decadente (de que são eles parte integrante!).

Pode ser que não seja nada.
Pode ser que eu me engane.
Mas é bom não nos esquecermos de que esta lebre da democracia que hoje parece que o País segue com frenesi, não é senão o que é: um Gato.

12/04/07

Senhor Pinto de Sousa: Forte em Chocolate


Muito bem... Por força da boa educação e do bom-senso, deixei o Primeiro Ministro falar primeiro; agora falo eu.

Rola pela praça pública o Ovo de Colombo da vida académica do senhor engenheiro técnico (ai que mal que soa...) Pinto de Sousa.
Teve irregularidades?, não teve?, favorecimentos?, promiscuidades?... Pesa a polémica no que é a sua governação?, interessa sequer o tema ao País?

Como eu o vejo, muito se resume à epifania que tive ao pequeno-almoço: a vida académica do senhor Pinto de Sousa é uma caixa de Chocapic...

...Um autêntico "formato conveniência".

Não me meto entre o Ministro do Ensino Superior e Marques Mendes.
(Um, que subserviente
e regozijadinho louva o Pinto de Sousa-aluno "de certa maneira exemplar", outro, delirante, que clama por "investigações independentes" à procura de nada.)
Tenho uma opinião própria.

O confrangedor número do serão de ontem foi uma humilhação.
Mas muito menos para o Primeiro-Ministro que para um País incrédulo e chocado.
Ver o chefe do "Governo" despejar os bolsos do seu passado sobre a mesa da opinião pública foi espectáculo degradante que nunca esperei vir a ver.
Num formato absurdo e insultuosamente vendido ao espectador como "entrevista-de-balanço-de-dois-anos-de-mandato-porque-até-agora-o-PM-não-tivera-agenda-e-para-piorar-feita-por-jornalistas-pagos-pelo-próprio-Estado-em-que-aproveita-para-de-passagem-dar-umas-dicas-sobre-a-escandaleira-em-que-se-vê-envolvido".

Mais confrangedor ainda, resultar a triste emissão da total inépcia do Primeiro-Ministro em enfrentar a borrasca que se lhe formou sobre a cabeça.
Primeiro persuadindo a imprensa de que "não havia notícia" - fiando-se na sua influência -, depois dissuadindo a imprensa de dar notícias sob ameaça de "processos legais" - fiando-se no seu poderio -, finalmente refugiando-se no silêncio de um esquecimento que acabou por não acontecer - fiando-se na sua inteligência.
Num total fracasso de gestão.

E o que resta é Chocapic.

* Sócrates escolheu a UnI para acabar a licenciatura por "ficar perto do ISEL" (as severas dificuldades de mobilidade que toda a gente lhe conhece assim o ditaram);
* Escolheu a UnI para acabar a licenciatura pelo "prestígio da universidade" "pelo menos naquela altura" (enquanto sacode a responsabilidade pela sua bagunça de secretaria);
* Cumpriu um plano de estudos talhado à medida da sua "turma", a que um professor ministraria quatro cadeiras e um outro Inglês Técnico, "resumido a duas folhas manuscritas e com a menção quase ilegível de algumas disciplinas, sem data nem assinatura";
* Cumpriu o plano de estudos, ministraradas quatro cadeiras por um socialista duas vezes integrante de "Governos" PS com o senhor Pinto de Sousa (primeiro como co-integrante, depois por si próprio admitido no "Governo"), e a última pelo próprio reitor da universidade, Luis Arouca, disposto a excepcionalmente dar uma cadeira que nem sequer seria curricular;
* Recentemente Luis Arouca dizia à imprensa "nunca ter dado qualquer aula nem feito qualquer avaliação a Sócrates";
* "Frederico Oliveira Pinto, primeiro presidente do conselho científico da UnI e, na altura, professor de todas as cadeiras de Cálculo das licenciaturas de Engenharia, afirmou nunca ter visto José Sócrates naquela instituição";
* "Frederico Oliveira Pinto adiantou que o processo de licenciatura do primeiro-ministro decorreu sem o seu conhecimento, uma vez que o plano de equivalências e de estudos de Sócrates «não foi submetido a apreciação de qualquer órgão académico»".
* O diploma do senhor Pinto de Sousa foi emitido num solarengo Domingo, com assinaturas de Luís Arouca e de sua filha - reitor e chefe dos serviços administrativos da UnI, respectivamente;
* O senhor Pinto de Sousa disse não se lembrar já dos seus numerosos dois professores da UnI, quando confrontado com as "especificidades" da sua formação;
* Os documentos que provam a licenciatura de Sócrates, exibem o nome do aluno "manuscrito sem quaisquer referências adicionais, apenas com uma rubrica dos professores das cadeiras";
* Luís Arouca, reitor na UnI, praeclaro e acumulante docente de Inglês Técnico do senhor Pinto de Sousa, forneceu aos jornalistas versões variadas e incompletas do que seria o "dossier da licenciatura" do aluno na UnI - de uma das vezes faltando documentos com a identidade dos docentes das suas cadeiras, de outra pautas de classificação que contrariavam as do certificado de habilitações final.

Irregularidades?, favorecimentos?, promiscuidades?...
Uma intrincada história, com evidente "formato de conveniência" e absoluta falta de clarificação.

Há quem sugira que a culpa deste bailado é dos blogs. Que na inconveniente modernidade levantam lebres como esta sem medos de donos que não têm, com os meios incensuráveis que a net coloca à sua disposição.
Há quem sugira que a culpa é da imprensa. Que se apega a histórias da vida privada das figuras públicas em vez de às "grandes questões".
Há quem desenterre as "cabalas", sempre úteis nestas ocasiões.
O que é estranho é que poucos admitam desbragadamente a pouca-vergonha latente em toda esta saga.
A evidência da mixórdia que vai na sociedade portuguesa, manietada por facções de uma mesma malfeitoria transpartidária, tentacular, contaminante, cleptómana e supralegal, cujo aparecimento desdenhoso mais uma vez ocorre em plena luz do dia em completa impunidade.

Em última análise, cada um acredita no que quer. No que está formatado para acreditar. Como lhe é permitido admiti-lo.

Mas para quem milita fielmente desde há dois anos na virtude do senhor Pinto de Sousa - cimento de um PS fracturado e céptico, garante de um "Governo" frágil e hipercentralizado - homem novo da política, da democracia, do civismo, perfeito de corpo e de espírito, aconselha-se uma pausa. Uma reflexão honesta.

A quem desde há dois anos escuda o senhor Pinto de Sousa das línguas do mundo com a superioridade das suas intenções e a lisura das suas práticas, escudando na sua altiva figura a pequena fé pessoal, aconselha-se o recolhimento. Pudor nas palavras e nos actos.

Porque se é certo que o Primeiro-Ministro saiu "vitorioso" da espécie de prestação política televisiva de ontem - pelo menos asssim a imprensa obediente o declara e as rigorosas sondagens telefónicas confirmam -

não é menos verdade que a reconstituição da sua carreira pública permite a construção do perfil de uma personalidade deformada.
Ou não indo mais longe, pelo menos tão deformada como a de demais protagonistas políticos; o que à sua escala divina já é mau o suficiente.

Cada vez mais somos uns tablóides. Que chafurdam no escândalo pelo ruído e pela poeira mas que não lhes retiram, por mais óbvias, as severas e dolorosas consequências.
Uns brasileiros. Rendidos ao princípio que já ousamos verbalizar do "desde que ele governe"... Abrindo desavergonhadamente a porta da condescendência à transgressão e à indignidade. Actualizando a paleta da ética, raspadas as cores secas da vigilância e da censura, e deixado em branco o que cabe a cada um de responsabilidade e crescimento.

Contrariamente à banalidade do senhor professor doutor engenheiro calista picheleiro Pinto de Sousa, que dava os que "
temem as tempestades" a acabarem "rastejando", apetece-me perguntar como será o céu de quem passe uma vida inteira a rastejar, a serpentear invertebrado por entre os pés, as pedras e o esterco do caminho...

Pesa a polémica no que é a sua governação?
Por mais que viva Pinto de Sousa, nunca se dirá decerto de si o que se pode dizer hoje de Sousa Franco.