30/12/06

FIM

Foi noticiado que acabou.
A vida de Saddam Hussein. Um capítulo da história do mundo.


E é absurdo perdermo-nos a conjecturar sobre a crueldade da pena de morte - que lhe foi aplicada.
Ou sobre a justiça da pena a que um tribunal iraquiano o sentenciou.
Ou sobre a conivência, implicação ou patrocínio do processo pelos "vencedores" da intervenção no Iraque.
Ou sobre a justeza da intervenção no Iraque. Sobre os seus fundamentos e os seus resultados...
Tudo, em suma, em que se queira pegar para, discutindo tudo, não se discutir nada.


É absurdo.

Quando durante décadas o mundo civilizado e humanista assistiu indiferente às atrocidades do regime iraquiano - que os americanos supostamente sozinhos apoiaram - sem fazer o que quer que fosse.
Quando anos a fio a relapsa intelectualidade internacional nunca obrigou a ONU (ou a própria a si mesma por auto-iniciativa) a mexer-se como era sua obrigação na imposição do cumprimento de resoluções às dezenas do Conselho de Segurança, que Saddam mandou bugiar - por exemplo no folhetim tragicómico da escalada de suspeição sobre as WMDs iraquianas.
Quando buscando argumentos para condenar a invasão do Iraque - sem qualquer ideia ainda do que viria a revelar-se mais tarde a sua vergonhosa fundamentação - muitos invocaram a "soberania" e a "independência" de um Iraque totalitário no desmando da sua política interna e externa. Ou a existência de outras ditaduras onde a invasão não se dera - como se se a aconselhasse!...
Quando a "comunidade internacional" se opôs a que Saddam acabasse preso numa Gitmo qualquer, porque deveria ser julgado pelos seus e colocar-se uma pedra na exploração mediá
tica americana do circo da captura do ditador.

De repente, houve quem achasse que o julgamento devia ter lugar noutro lado. Onde não se aventasse sequer a possibilidade da condenação à morte - sugerindo um julgamento e uma pena à la carte, de privilégio, para este réu. À imagem e vontade da ocidentalidade com súbito rebate de consciência.
De repente, surgiram esboços de cumutações de pena ou transformações deste julgamento numa mera catarse simbólica, que salvasse a cara de um Direito dos Homens aparentemente servido (que com a "comunidade internacional" ninguém brinca!), mas ao mesmo tempo sublimasse a responsabilidade severa e extrema de ver condenado à morte um monstro que se pretendia de certa forma ver julgado num certo limite de um certo abstracto Justo Direito.

Invadido, Saddam terminara.
Encontrado como um bicho num buraco escavado no chão, Saddam terminara.
Sentado num tribunal iraquiano, Saddam terminara.

Apenas agora o inultrapassável complexo do complexo?...
Apenas este um último reduto do desesperadamente correcto?

Simplesmente um fim.

29/12/06

Grandes Portugueses

Marcus Aurelius Antoninus Augustus
26 de Abril de 121 - 17 de Março de 180

Sem dúvida, um tipo que fará parte da lista.

Eh pá!... Mas o gajo já nem sequer esta vivo!...
Olha, deixa lá, leva na mesma o meu voto.

28/12/06

Saúde pública em risco

( Podem chamar-me picuínhas, mas é para o vosso bem.)

Enquanto praticava o alambazanço ritual natalício de tudo que é porcaria, deparei-me com uma caixa (vazia) de Mon Chéri (que patrocina este post).
...E com a lista de ingredientes no verso.

Qual não foi o meu choque quando me apercebi que os ditos bombons, fonte de tanta alegria abstémia por esse mundo fora, graças aos seus 13% de licor e à famosa cereja bêbeda, podem conter também, afinal... leite.
Leite! Esse autêntico veneno para a saúde!

Ainda bem que o fabricante tem esta franqueza para com os seus clientes.
Mas sabendo agora o que sei, não sei se voltarei a comer deles e a sujeitar-me a tal risco alimentar!

Maldito PC!


Como é desprezível o "Politicamente Correcto"!
Não o fosse e não me teria parecido tão obsceno o embrulho da notícia da morte de James Brown.

A bem dizer, não me espantou que a sua morte fosse noticiada. E, bem visto, sequer que a notícia merecesse relevo...
Goste quem goste, James Brown é uma figura relevantíssima do soul e não preciso de vir eu por aí abaixo explicá-lo.


Mas quando é tão hábito no óbito a vassalagem avassaladora, fiquei a pensar.

Naquele James Brown do "preso por assalto". Ou o outro do "pena de prisão por posse de arma, de droga e fuga à polícia". Ou o das (pelo menos) "três detenções por violência doméstica"...

Quer isso dizer que James Brown está sujeito a embargo cá em casa? Claro que não.
Ou que tirei o dia para (literalmente) bater em mortos? Nada disso.
Os actos são de quem os pratica, a justiça dos homens chega onde chega e por esta altura já o senhor dissipou a dúvida se teria de responder pelas suas faltas depois de partido e chegado.

Só me repugnam as beatices do PC!

27/12/06

Falar Claro - II

Eis a questão. Ser e não ser.

O Referendo do Aborto tem questão formulada: «Concorda com a despenalização da interrupção voluntária da gravidez, se realizada, por opção da mulher, nas primeiras 10 semanas, em estabelecimento de saúde legalmente autorizado?».
Tendo sido enviada pelo Presidente da República ao Tribunal Constitucional para análise, mereceu a aprovação dos juízes que o constituem.

Mas a questão levanta questões.

Em primeiro lugar, "a" questão em si.
Mesmo dispensados juízos de valor, é relevante que a questão colocada aos portugueses a 11 de Fevereiro sobre IGV e legislação associada seja rigorosamente a mesma do referendo de há oito anos atrás.
Dificilmente evita a crítica fácil da "água mole em pedra dura", segundo a qual o que se pretende (ainda que legitimamente...) com este referendo, não é senão massacrar a sociedade com um mesmo assunto, um mesmo "dilema" com as mesmas saídas, macerá-la com um mesmo processo e com uma mesma questão, até que, por exaustão, a resposta dos eleitores acaba um dia por ser diferente e satisfaz a facção de opinião que usou os recursos do Estado para uma vitória privada.

Em segundo lugar, a aprovação da questão no TC.
A
questão referendária foi aprovada por maioria, assentando o acórdão que a valida no voto de sete juízes, contra outros seis que votaram derrotados.
Estes números resultam na aprovação (repito-o) da mesma questão de há oito anos atrás, acrescentada a curiosidade de que a votação no TC é igualmente um decalque da de 1998: sete votos contra seis.
O que acumula na falsa "particularidade" deste referendo, cada vez mais um desmentido de que a "sociedade" se tenha "transformado" (tenha "evoluído"!...) tanto nestes oito anos que uma nova consulta popular sobre o assunto era inevitável.

Em terceiro lugar, a essência da questão.
...Contaminada tanto na forma como no conteúdo.
Se alguém se recorda da polemicazita do Referendo à Constituição Europeia, recorda-se que na altura houve divisão entre "especialistas" sobre a pergunta a referendo - a memorável "Concorda com a Carta de Direitos Fundamentais, a regra das votações por maioria qualificada e o novo quadro institucional da União Europeia, nos termos constantes da Constituição para a Europa?".
O Tribunal Constitucional (sim, o mesmo...) acabou por considerar em acórdão, "que a Proposta de realização de referendo sobre a Constituição para a Europa
[não respeitava] os requisitos de clareza e de formulação da pergunta para respostas de sim ou não exigidos, [havendo] a junção de três questões numa só fórmula de resposta única, [...] atenta a exigência constitucional e legal de o mesmo dever ser formulado de modo unívoco e explícito, sem ambiguidades".

Pior!... O TC deixava suspeições no ar...


"Podemos afirmar [...] que, tal como formulada está, a pergunta em causa escamoteia ou faz um «encapotamento» da finalidade que nela se contém, ou seja, questionar, e só, se concorda com a Constituição para a Europa".

Mas perante a proposta de questão referendária "Concorda com a despenalização da interrupção voluntária da gravidez, se realizada, por opção da mulher, nas primeiras 10 semanas, em estabelecimento de saúde legalmente autorizado", o Tribunal Constitucional não foi tão lapidar (como já há oito anos não o fôra!).

Usando as palavras do referido acórdão, no ponto 8, não será lícito considerar que também neste caso "o cidadão eleitor não é levado a formular um juízo de ponderação global, [...] apontando nesta direcção a circunstância de estarmos perante três questões que não têm entre si qualquer relação de dependência, podendo subsistir cada uma delas e fazer sentido sem a(s) outra(s), sem que, portanto, a concordância ou não concordância do cidadão eleitor quanto a uma das questões se repercuta na concordância ou não concordância quanto às demais"?

Explico.
Não é possível ser-se favorável à "despenalização da interrupção voluntária da gravidez" genericamente considerada?
...E estar-se ao mesmo tempo contra a despenalização da IVG "nas primeiras 10 semanas"?
Ou estar em concordância com ambas as primeiras e discordar da formulação "opção da mulher"?
Ou apoiar todas elas e rejeitar frontalmente a "penalização" de mulheres que interrompam a gravidez "em estabelecimento de saúde não legalmente autorizados"?

Era disso que falava o acórdão ao afirmar que "A interpretação da pergunta no sentido de nela se conterem três questões autónomas compromete a exigência constitucional e legal de que seja formulada para uma resposta de sim ou de não".
Porque "cada uma das questões, por si só, pode conduzir quer a uma resposta de sim quer a uma resposta de não, colocando o cidadão eleitor perante a dificuldade de saber como votar quando a resposta não for a mesma para todas as questões que lhe são postas. Hipótese em que somos levados a concluir que a pergunta abre espaço para soluções matizadas, quando o princípio da bipolaridade ou dilematicidade impõe que a pergunta, devendo ser respondida por uma afirmativa ou uma negativa"!!

Desta vez o TC não "[considerou] que a proposta de realização de referendo [...] não respeita os requisitos de clareza e de formulação da pergunta para respostas de sim ou não exigidos".
O que é estranho. E grave.

Até porque "a mera possibilidade de se atribuir mais do que um sentido à pergunta põe em causa a exigência de intelegibilidade ou compreensibilidade e clareza dos quesitos referendários, cuja razão de ser é 'evitar que a vontade expressa dos eleitores seja falsificada pela errónea representação das questões'".

E aqui temos um bom argumento... para quem?

Festas felizes


"Compras de Natal: Mil euros gastos por segundo".

23/12/06

Natal, a paz e a boa-vontade dos homens da terra.


Certamente coisas da velhice, estas...
Mas isto do "Natal" provoca-me uma exaustão crescente. Uma saturação progressiva e acumulada de anos.

Numa época tão vácua como outra qualquer, cristalizam-se concentrados as intenções e os voluntarismos que durante um ano inteiro, tíbios e egoístas, se retraíram nas palavras e nos actos.
...Que culposamente se retraíram.
E assiste-se esmagado à hipérbole de uma coreografia redentora, aos maneirismos mesclados de tradições e automatismos.

"Festa da família"? Apenas.
Mas que diferença deste encontro de família para qualquer outro?
(À parte de M.A. estar comigo?)
Recordar amigos? Sim. Mas como se eles esquecessem...

O que é realmente frustrante, numa época tão pirilampada e cheia de grinaldas e iluminações kitsch nas ruas e papel de embrulho rasgado mas dobrado a preceito e fitas cortadas e laçadas à medida e enchentes de gente, manadas sem vontade própria a que pertenço por natureza, comedoras de fritos e passas - que o "Ano Novo" funciona exactamente da mesma forma -, é que se pretexta a época com o nascimento de um boneco de massa deitado num semi-círculo também colorido, também iluminado, também decorado, a que ora se condescende na sujidade do desagradável musgo, ora se adere sazonalmente na montagem de umas peças design quaisquer, alusivas "à quadra" mas sem perda da sobriedade.

Frustrante para um homem para quem a referência de Jesus Cristo não se confunde com a do Pai Natal.
Nem o seu legado se mistura com o consumarismo.
Nem as tradições de um povo se confundem com as traições à identidade de uma modernidade global e mixordeira.

O Natal. Que chega e passa.
À medida e usança da vontade de cada homem que o aproveite para tornar-se melhor.

04/12/06

O Capuchinho Vermelho

Era uma vez uma menina que vivia numa casinha isolada, na orla da floresta, com a sua mãe.

Um dia a mãe deu-lhe um capuchinho vermelho. Que a menina experimentou em ânsia e nunca mais largou.
Passaram mesmo a confundir-se, a menina e o capuchinho vermelho. Que a um aproveitava os passos da
juventude vigorosa e do outro tomava emprestado um nome que não era o seu.
E nunca mais se puderam separar.

Certo dia, o Capuchinho Vermelho encaminhou-se para a flloresta. A menina ficou deslumbrada. Com um cenário que nunca conhecera na pacatez da orla da floresta.
Nessa floresta havia um lobo. Que a habitara desde sempre.

O
Lobo encontrou a menina e disse-lhe - Olá! Queres fazer uma corrida? A menina respondeu - Não sei... Porquê? - Porque é o que os lobos fazem!, respondeu o Lobo. - Anda! Corremos até àquela casa e quem lá chegar primeiro come a velhinhna que lá mora! A menina sorriu com o disparate que o lobo disse.

Mas num segundo o Capuchinho Vermelho deu um salto em frente e começou a correr sem olhar atrás.
No seu encalço seguia o Lobo. Que não mostrava qualquer interesse em disputar com a menina a chegada à casa.

Quando o Capuchinho Vermelho chegou à casa, bateu à porta. - Não está ninguém... Afirmou a menina. - Abre a porta e entra, ordenou o lobo. - Está escuro, disse a menina. O Lobo pousou-lhe a pata peluda no ombro e deu-lhe um pequeno empurrão.

O Capuchinho Vermelho entrou.
Estava muito escuro e a menina respirou com dificuldade o ar pesado e bafiento. - Não vejo nada, disse como pedido de ajuda ao Lobo. - Espera um segundo, e verás. O Lobo estava de braços cruzados, imóvel, atrás da menina, que esbracejava como nadadando, tentando descobrir com as mãos o que os seus olhos não viam.

De repente, o Capuchinho Vermelho começou a vislumbrar sombras, contornos, uma figura deitada na cama, a poucos metros.
A menina aproximou-se devagar da cama e o Lobo saiu da sua posição de estátua para segui-la pé-ante-pé, de braços estendidos, como que com receio que ela caisse para trás.

Ao lado da cama, a menina parou. - Vá!, podes comê-la! Ofereceu o Lobo. Mas a manina não percebia o que ele queria dizer com aquilo. - Vá!, come-a!, insistia o Lobo.

Mas nessa altura a menina já perdera a noção do que a levara àquela casa e observava com curiosidade o Lobo, como se pela primeira vez o visse. - Porque é que tu tens uns olhos tão grandes?, perguntou a menina. O Lobo, desconcertado, não desarmava, - Capuchinho, come-a!, anda!... Mas a menina, já a perdera.
O Lobo sentia-se a ficar sem paciência. - Tu não me ouves? Come-a!! Mas a menina continuava - Porque é que tu tens umas orelhas tão grandes?, e o Lobo não queria crer no que lhe estava a acontecer. - Porque é que tu tens uma boca tão grande?...

Naquele momento, a menina fizera a pergunta errada. A única que não poderia ter feito, antes de comer a idosa.
O Lobo abriu a bocarra e enguliu de uma vez a menina, a quem ninguém poderia valer.
No segundo seguinte, abriu de novo a bocarra e bocejou.
Colocou a touca de dormir na cabeça, afastou a roupa da cama, deitou-se, aconchegou os cobertores e adormeceu.


Orçamento familiar


Tudo muito previsível. Tudo muito familiar.
O Orçamento de Estado acabou sendo aprovado.

Como qualquer maioria com meios para o fazer, a maioria aprovou-o, as oposições contestaram e ensacaram a viola, e, vá lá, não apareceu nenhum indigente que entalado entre uns e os outros manjasse os restos da mesa...

Como sempre (...nem o povo já se espanta), as
escolhas duvidosas para o comum dos mortais de quem as pode fazer - que afinal, quem pode, pode. Os fiéis gatos escondidos com o rabito de fora, que ajudam a guiar a mão hesitante e trémula dos gestores da coisa pública (por mais que sejam negados...). As calculadelas marotas de números, cifras, parcelas - demasiada areia para o comum cidadão - que por obras de magia tanta volta dão e redão que acertam no que convém! As sólidas bases com que os caminhos se traçam...
Desfilaram como é uso, aos olhos de um País que nem por isso parou.

Mas a proverbial descrença do povão nos seus eleitos, a secreta reticência nas manobras e nos jeitos, que mesmo que não transpareça lá habita em hibernação, estancou com um abanão.
Foi bem lindo de se ver como
as vozes mais insólitas se coiraram sem rubor na ladaínha crescente do caminho inevitável.
E o povão, tranquilizado, ficou mais sossegadito, um pouco mais optimista, que a vida anda tremida...

Que se não for o Governo a ressuscitar em nós a partilha e a comunhão, o espírito de família, de Natal e de cristãos, Portugal é frio e triste, sem a sua governação.
Abençoados governantes, que velam pelo nosso bem.
Extremosos pais do povo, que com sua sabedoria e com sua inspiração hão-de fazer desta coisa uma espécie de Nação.


Morte silenciosa

Dia 1 de Dezembro - Dia Mundial da Luta Contra a SIDA.



Quando o maior genocídio do planeta é o provocado pela SIDA, que galga fronteiras e mentalidades, há que pensar e agir.


Mais ainda.
Há que "pensar" e "agir", mas antes ainda fazer uma coisa sem a qual não é possível nem pensar nem ag
ir - ainda que hoje em dia não se pretenda que se faça - que é parar.

Parar para pensar e poder escolher.
Parar antes de agir, para agir em consciência.

Hoje, o "politicamente correcto" (filosofia dos acríticos) aconselha a que não se pare.
"Parar" é uma coerção da liberdade individual de avançar.
"Parar" é uma repressão do impulso criativo e apaixonado do movimento.
"Parar" é uma manifestação de temorosidade, de superstição, de recalcamento, de tacanhez.

Mas o que é certo, certinho, é que o campeão no combate ao flagelo SIDA vem sendo o Uganda. Ah pois!...
O Uganda que irrita tanta gente tão "sapiente", com a sua chamada política "ABC" - "Abstinence-Being Faithful-Condom" (por esta ordem!).
Isto é: num território africano em que grassa a SIDA, a melhor protecção é evitar o contacto sexual de risco ("branco é, galinha o põe"...), não indo ao ponto de abandonar o sexo, o mais seguro é a fidelidade a um parceiro ("cai no chão, fica amarelo"...) e não optando por nenhuma destas, usar o preservativo nos contactos esporádicos!

Evidente e eficaz!...

Ora, esta política "ABC" do Presidente Yoweri Museveni, irritou e irrita muito boa gente. (Independentemente do sucesso de ter reduzido numa década o massacre das mortes por SIDA no Uganda em 2/3!)
É que também o "humanitarismo", também a "ajudinha ao Terceiro Mundo", são por vezes bons negócios; reais jogos de poder. E ninguém quer ser minimizado por uma espécie de País com aspirações a governar-se segundo as suas ideias e práticas, independente da superiormente capaz assistencialidade ocidental! (Por exemplo, organizações internacionais que a gente bem conhece e que movimentam muitos milhões de dólares anuais em "assistência do tipo pronto-a-vestir"!)

Portanto, vale tudo para deitar abaixo a "ABC" - repito: apesar dos resultados notáveis, já a alastrar a países vizinhos - "porque não se adequa à realidade socioeconómica e à estratégia local ideal", "porque está dominada por uma mentalidade religiosa repressiva de comportamentos", "porque age em consonância com o discurso da administração americana", "porque não promove o sexo seguro" (o Uganda distribui anualmente milhões de preservativos gratuitos!...), etc.

Mas o que interessa aos ugandeses é que a sua situação deles continue a melhorar.
Ao mundo, interessa que se apliquem as estratégias mais eficazes, aqui e ali, no combate à disseminação da doença, minorando o sofrimento e a desolação...

E a nós, tão "civilizados" e "pós-modernos" que somos, que possamos aprender sempre alguma coisa com os outros.

Nesta caso, por exemplo... a parar.

Falar Claro - I

Referendar o aborto. De novo.

Não me surpreende.

...Que se referende uma matéria destas.
Parece-me muito mais ético que se referende do que se decida em Parlamento (como o PCP defendia.)
É matéria de índole civilizacional relevante, em que importa ouvir os portugueses (que se dignarem expressar-se...). E tendo-o feito em 98, como não fazê-lo agora?

Nem me refugio no argumento de que se esteja a arrombar, com a proposta de nova convocação, o resultado da votação de há oito anos.
(Qual é o intervalo que devia mediar entre uma consulta e outra? Está previsto? Quem o definiria? ...O bom-senso? Qual? De quem?...)
Tudo é sempre oportuno.
Ainda que seja cristalino que a iniciativa da convocação de novo referendo serve (?) o propósito de quem, não se sentindo satisfeito com o resultado da consulta anterior, pretende aproveitar uma janela de oportunidade para fazer vingar agora a sua pretensão na matéria...

Apenas me entristece.

...O facto de referendar de novo o aborto. Pelo contexto em que revela estarmos atolados.
Que a facilitação legal da prática do aborto se force a si mesma a vir à tona. Considerada uma necessidade lógica e inadiável desta sociedade.

Pilares da memória

Há 26 anos atrás deu-se um dos acontecimentos mais marcantes da história política portuguesa. A queda em Camarate do avião em que viajavam o Primeiro-Ministro português Francisco Sá Carneiro, a sua companheira Snu Abcassis, o Chefe de Gabinete António Patrício Gouveia, o Ministro da Defesa Adelino Amaro da Costa e os dois pilotos do aparelho.

26 anos de intrigas, influências, manobras, desvalorizações e insultos à memória (perfeitos sinónimos...) foi o tempo que levou a um País o confirmar da "tese" de atentado na noite de 4 de Dezembro de 1980.

Uma "tese" defendida pelos mais tenazes, honrados e insuspeitos dos proponentes, mas que ainda assim não mereceu mais que o desdém dos párias, a complacência com estes da Justiça e a escandalosa passividade dos políticos.

Hoje, a "tese" confirma-se, por fim.
Mas só porque a boca imunda de um dos implicados - um dos antecipados, reconhecidos, tolerados, triunfantes, inimputáveis implicados - se abriu com escárnio e desplante para assumir a sua parte na matança...

Hoje a "tese" confirma-se, sem surpresa nem brilho.
Já sem utilidade sequer?...


Espancada e violada na rua a democracia para vergonha dolorosa de todos.

01/12/06

"- 'Independência': já ouviste falar?...

- ...Não, mas tenho um telemóvel de 3ª geração."



Ide trumbicar-vos todos, auto-pretensa nova gesta de portugueses!

Por motivos alheiros a este belogue
ocoreu uma parajem subíta das postações.
Penistenciamos-se por qualquer enconviniencia porvocada.
O chorrilho porsegue dentro de momentos.

22/11/06

Distopia futurista


Bradbury está à solta em Paris e em França.

Visões distópicas de um futuro previsto?

"Uma mensagem imperial"

"O imperador – assim dizem – enviou-te, súbdito solitário e lastimável, sombra ínfima ante o sol imperial, refugiada na mais remota distância, justamente a ti o imperador enviou, do leito de morte, uma mensagem.
Fez ajoelhar-se o mensageiro ao pé da cama e sussurrou-lhe a mensagem no ouvido; tão importante lhe parecia, que mandou repeti-la em seu próprio ouvido. Assentindo com a cabeça, confirmou a exatidão das palavras. E, diante da turba reunida para assistir à sua morte – haviam derrubado todas as paredes impeditivas, e na escadaria em curva ampla e elevada, dispostos em círculo, estavam os grandes do império –, diante de todos, despachou o mensageiro.
De pronto, este se pôs em marcha, homem vigoroso, incansável.
Estendendo ora um braço, ora outro, abre passagem em meio à multidão; quando encontra obstáculo, aponta no peito a insígnia do sol; avança facilmente, como ninguém. Mas a multidão é enorme; suas moradas não têm fim. Fosse livre o terreno, como voaria, breve ouvirias na porta o golpe magnífico de seu punho. Mas, ao contrário, esforça-se inutilmente; comprime-se nos aposentos do palácio central; jamais conseguirá atravessá-los; e se conseguisse, de nada valeria; precisaria de empenhar-se em descer as escadas; e se as vencesse, de nada valeria; teria que percorrer os pátios; e depois dos pátios, o segundo palácio circundante; e novamente escadas e pátios; e mais outro palácio; e assim por milénios; e quando finalmente escapasse pelo último portão – mas isto nunca, nunca poderia acontecer – chegaria apenas à capital, o centro do mundo, onde se acumula a prodigiosa escória. Ninguém consegue passar por aí, muito menos com
a mensagem de um morto.
Mas, sentado à janela, tu a imaginas, enquanto a noite cai."

Franz Kafka

(Obrigado à cantinho)

As time goes by

Saudades.
De espaços. Tempos. Caras.


Recordados ao encontrar a S.B. numa visita de estudo. A D.C. numa editora. A C.M. no Parque das Nações. A A.V. ou a V.F. num centro comercial. O J.L. na manifestação do 17 de Outubro. A L.C. num evento em Loures... (Estes, os seus nomes de então. Perdoem-me, ...mas os que para mim ainda valem.)
Ao manter contacto com o C.S., com a F.P., com a C.A. e com a E.F.
E ao vislumbrar uma figura familiar no meio da multidão. A uma distância improvável.

Todos estão presentes. Aqui. Como sempre estiveram.

A todos um beijo de boa-sorte e felicidade.

19/11/06

O Estado liquidatário

Cada vez mais o estado deste Estado é o de um administrador liquidatário (nesta, pago direitos de autor a um jornal que não é de referência).
Um administrador que pegou "nisto" - como diria o ex-Presidente Sampaio - com a lúgubre função de fazer as contas, pendurar a tabuleta, apagar a luz e fechar a porta.


Por isso a presente estratégia de gestão governativa da Nação é a do fecho. Do corte. Da eliminação.
...Que poderiam ser razoáveis. Que poderiam fazer sentido e dar resposta a problemas prementes que careciam de solução ampla e firma.
Mas não quando o fecho, o corte e a eliminação são mecânicos e meramente instrumentais - para não acrescentar sumários.
Quando visam simplificar a actividade governativa e não os processos organizativos.
Quando visam descartar problemas e não resolvê-los.

Tal tem sido, nos últimos tempos, a causa de várias decisões espantosas.

A dos cortes a esmo nos orçamentos dos vários ministérios, com referência a um número astrológico de 5%, a que o Governo chegou (não 4%, nem 6%, nem 5,5%, nem...), mostrando no "padrão" total falta critério, completa falta de capacidade de diferenciação e priorização de gastos.
Nada se muda, nada se resolve, apenas se corta a direito e assim se enche um balãozinho de oxigénio.

Ou a machadada sem anestesia
sofrida pelas universidades e politécnicos nas verbas provenientes do Estado para o seu funcionamento.
Sem qualquer manifestação de interesse ou vontade de participar da mudança de procedimentos em estruturas que se tutela,
corta-se a direito. Fecha-se a torneira, manda-se pastar que está no terreno e mesmo os amados media são mandados ir ver se chove. (Ver como remata a notícia referida!)

Ou, soube-se agora, a decisão de amnistiar (na prática) os prevaricadores até finais de Outubro do não pagamento de portagens e viagens em transportes sem bilhete.
Descriminalizando os actos, o Governo transformou estes crimes em contra-ordenações e resolveu a chatice que era ter estes 200 mil casos a ser julgados e a entupir o sistema de Justiça! Acontece que este Governo-canalizador, ao desentupir o cano, não aliviou a questão, aluviou-a! (E seria curioso apurar quantos portugueses sabem disso.)
Através da "simples" transformação destas transgressões em contra-ordenações puníveis com coima, na prática, o legislador prescinde do início de novos procedimentos criminais contra este tipo prevaricadores, extingue os já iniciados (por falta absoluta de enquadramento criminal) e mesmo os casos "condenados" vêem cessada a sua execução.
Em comple
mento, como a nova legislação descriminaliza actos passados, torna impossível sequer que aqueles sejam sancionados retroactivamente com aplicação de coimas!
Em suma: cerca de 200 mil transgressões ficam impunes, vão directamente para o arquivo e muitos milhões de euros ficam por arrecadar pelo Esta
do.
...Porque se decid
e matar o doente como forma de curá-lo.

Mas pensar-se-á: "caramba, nada se acautela nesta revoada de 'reformismo'?"

Sim, claro!


Quando se decide passar para juristas privados a acessoria jurídica dos ministérios - até agora da responsabilidade de magistrados do Ministério Público - com o fito cego de esvaziar mais um bocado os quadros do Estado, no âmbito do PRACE (Programa de Reestruturação da Administração Central do Estado), está a acautelar-se alguma coisa...
Não só o corte, o fecho, a restrição, mas também o negócio dos escritórios de advogados, que passam a prestar acessoria aos ministérios!
É unânime que o custoo do serviço até aqui prestado por quadros do Estado aumentará. (Até a Ordem dos Advogados refere esfingicamente que "é preciso considerar variantes além da folha de pagamentos da Função Pública".)
Mas não podemos acusar o Governo de não se preocupar com nada.

Que ideia mais parva!...

Chuva vermelha

"Em 2001, o sul da Índia foi assolado por uma misteriosa chuva vermelha, para a qual os cientistas encontraram uma rápida explicação. No entanto, há quem defenda que estas gotas traziam organismos alienígenas".
Assim começava a notícia do jornal Sol.

Esta autêntica plotline de filme de ficção-científica provoca-nos com uma hipótese chocante: e se a vida na Terra devesse a sua origem a uma longa viagem cósmica?...

Renasce uma teoria dos anos 60, a da "Panspermia" (que me era estranha!), que propunha precisamente isso. O desenvolvimento de uma vida na terra, originada previamente noutro lugar.
Basicamente, que os "extraterrestres" cuja existência sempre nos questionou e inquietou, somos nós mesmos.
Que a vida que suspeitávamos existir algures no universo tem em nós, que a conjecturamos, e na vida à nossa volta, a sua prova.

A teoria, ainda que chocante, já terá sido mais desconsiderada que nos dias de hoje, e coloca-nos uma questão apaixonante: se fosse comprovada, deixava-nos mais perto da teoria creacionista ou evolucionista da vida na Terra?...

Chuva vermelha.
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Chuva vermelha.

Peter Gabriel foi eleito "Homem da Paz 2006", nomeação de tipo Liga de Honra, decorrente da escolha de um grupo de nobelizados da Paz.
A nomeação, ainda que discreta, já terá tido menos relevância que nos dias de hoje, e coloca-nos uma questão apaixonante: e se "o Nobel" fosse, de facto, como alguém já o caracterizou, um mero colégio de anciãos, fechados, à janela sobre mundo, num país frio e deprimente com uma elevada taxa de suicídio?
E se um "Homem da Paz" fosse mais isto?...


Peter Gabriel - Red rain.
De quando a música era (parecia ser?) mais música.

17/11/06

Grandes Portugueses


Franz Kafka; 3 de Julho de 1883, Praga, Império Austro-Húngaro (República Checa) – 3 de Junho de 1924, Viena, Império Austro-Húngaro (Áustria).

Sem dúvida, um tipo que fará parte da lista.

Eh pá!... Mas o gajo nem sequer é português!...
Olha, deixa lá, leva na mesma o meu voto.

Face A, face B

Momento televisivo de antologia.

Não, não!... Não estou a falar de nenhuma das duas entrevistas que tiveram lugar ontem.
Falo do facto genial de, simultaneamente, termos tido duas entrevistas deste coturno; mais: duas entrevistas que são cara e corôa, verso e reverso, a face A e a face B de uma mesma realidade política recente e actual.
Os espectadores tiveram de optar entre ver uma e outra (ou então ir dar uma volta para apanhar ar fresco), num acto de consciência e arbítrio. O que é muito bom.
Pessoalmente preferi assistir à entrevista de Santana Lopes (como uma boa parte dos portugueses preferiram), não dei o tempo por mal gasto e consideradas as análises que hoje já ouvi foi, de longe, mais interessante.

(Só gostava de saber qual das entrevistas foi atrás de qual - não acredito em "coincidências" destas. Seria muito revelador.)

Na entrevista, Santana demonstrou mais uma vez de forma linear e inequívoca - só ele neste País é obrigado a dar provas permanentes e sucessivas - que lhe foi feita politicamente a cama e ao seu Governo, por muito boa gente que lhe tirou proveitos.

Jorge Sampaio, com o interesse socialista - o inconveniente Ferro Rodrigues já estava fora de jogo e o caminho aberto para o primo-ministeriável Sócrates.
Cavaco Silva e a sua mira da eleição presidencial - sem Santana e PSD no Governo, mais facilmente se escolheria um social-democrata (?) para Belém com um socialista (?) em S. Bento.

Jorge Sampaio, com o interesse próprio - como disse ontem Santana Lopes, o magistério de Sampaio só brilhou (?) por ter aberto a porta da Presidência a Cavaco (com a ascensão de Sócrates) e não a porta a Soares, que o poria "entre parêntesis".
Marcelo Rebelo de Sousa e a sua sede de protagonismo - com proverbial "informação privilegiada" sobre o que se há-de passar no rectângulo, o prof. Marcelo soube que Santana era para (a)bater e pretendeu aos olhos da Nação renascer em popularidade e saliência pessoais, por compaixão pela pseudovítima que talhou em postas o Governo com as suas próprias mãos.
E o PS em bloco, evidentemente...
E algumas figuras do PSD, que assim ascenderam (ou não)...
E sectores - relevantes - da sociedade que viam a vida andar para trás.
Et cætera...

O livro de Santana Lopes está escrito. Toda a gente escreve um.
A história escrever-se-á sozinha.

...E o que é certo é que (o ingénuo) Santana ainda anda por aí anda.



(Aplauso para o DN e uma das capas mais bem conseguidas que vi nos últimos tempos.)

...Mas vai raiando a luz na imprensa

O assunto ainda dura.

Não porque seja preciso explicá-lo aos lentos. (E só se fossem muuuuito lentos!)
Mas porque é preciso repeti-lo.

Porque de tanto o repetir...

16/11/06

A um pequeno português

Parabéns a este homem. E só...

Aos 84 anos Saramago alcançou o improvável.
Os píncaros do máximo reconhecimento literário, confrontado com o discurso de um douto popularismo barroco desconfortavelmente moderno.
A fama do homem e do escritor das liberdades, à pendura com o alforge de um pensamento missionário, prosélito e decadente.
O enaltecimento pela verticalidade e pela coerência do serviço à frágil República, a alguém que lhe virou costas num capricho cobarde, não tolerando as escolhas e as mudanças de um País livre, que o tolera ao limite do bom-gosto e do bom-senso.

Um homem que um povo generoso e humilde insiste em assinalar em festa.
Quando o contrário não acontece.

A história não se conta toda hoje. Aqui.

Hoje, parabéns e só.

Sem Comentários 3

Não tentem isto em casa


"Quem é este caramelo?"... Boa pergunta.

É o sôdôtor Amir Khadim. Milagreiro dos olhinhos dos desamparados.

Face à realidade mundanal de os problemas oftálmicos tanto tocarem rico como pobre, o sôdôtor criou o revolucionário sistema LASIK@Home, que universaliza o acesso dos necessitados oftálmicos a uma intervenção de correcção, agora também possível aos mais "desafortunados" (sic).

Mas as boas notícias não ficam por aqui.
O LASIK@Home é um processo do tipo faça-você-mesmo!

Basta encomendar online o kit por uns módicos $99.95 (mais envio...), preencher com os dados clínicos do lorpa, perdão..., do doente, (isto é: duas quadrículas) e realizar na volta do correio, tranquilamente no sossego do lar, sem esterilizações esquisitas nem cheiro a éter, a sua própria intervenção oftálmica!!
(- Oh Zé, já desentupistes o ralo do bidé? - O rai's partam a mulher! 'Tâ nâ vês qu' êtô a operar as vistas?!...)

O Lasik vem já calibrado (!) de acordo com as dioptrias de cada um dos olhos da vítima, quer dizer..., do paciente (ora aí estão as duas quadrículas) pelo que vem personalizado e pronto a usar.

Segundo o site, tudo exactamente como num estabelecimento credenciado (!).
Excepto o aborrecimento do "material e pessoal técnico" e respectivos custos associados.

E já está!

Para quem faça tiro com arco, pilotagem de monolugares, pintura ao ar livre ou visitas regulares àquela parte de Paris em que a Torre Eiffel está no meio de um bosque, não há melhor. É um autêntico upgrade da qualidade de vida.

Só dois alertas.
Primeiro: apesar de se tratar de um procedimento cirúrgico de máxima segurança, NÃO PESTANEJAR enquanto decorre! Caso o desgraçado, quer dizer..., o operador-operado o faça, sabe Deus o que pode acontecer.
Segundo: há que manter os cães afastados destas coisas - são uns bichos muito cuscos. (Bem, ou então... só se fôr para ajudarem a pôr as gotas...)

(Quem ainda não estiver convencido da história - ou suficientemente aterrorizado - pode confirmar tudo no site oficial da coisa.)

Um contra todos?

Está montado o quadro. Resta saber onde isto nos vai levar.

De um lado, "um" PS. (Não todo - e nem sei sequer qual!...).
Do outro, o País.

Sei que estou a facilitar o discurso. Que a coisa não é bem assim.
Mas sei, como sabe toda a gente, que o que se passa também não é o contrário: um PS no Governo da Nação bem-amado pelo povão (e quando digo "bem-amado" já nem digo com o povo "satisfeitinho", digo solidário com um projecto político que se perceba qual é que não se sinta como cilindro Caterpillar com que se leva em cima porque por azar se é apanhado à frente).
Só por demagogia - consentida pelos "opinadores" - se pode plantar esse discurso de adesão, união e comunhão do Governo com os portugueses.

Por um lado, o PS cerra-se. Claro! Como não? Não é senão natural.
Desde a votação do líder (com um resultado cubano), reconduzido e relegitimado por um partido grato, à aclamação em congresso (muito útil na forma e irrelevante em conteúdo), tudo é previsível e normal num partido vencedor nas urnas de uma maioria absoluta que não está virado para deitar fora - o(s) interesse(s) é (são) grande(s) em mantê-la.
Não perde a política, a democracia nem a honra do convento com isso.

Mas por outro, há um País. (E repito que sei que estou a simplificar.)
Um País de gente que sente que tudo vai estando cada vez mais na mesma, quer na marmelada que se convencionou chamar "Governos da Nação" (cadê a retoma?, cadê os 150.000 empregos?, cadê o controlo das contas do Estado?), quer no sino a rebate aos sacrifícios imprescindíveis e inadiáveis, com remetente e destinatário tão bem conhecidos.
Quando as "sondagens" e os "barómetros" (e olhem que ninguém lhes acha mais piada que eu...) vão dando os resultados que dão, não precisamos de mais provas.
(Barómetro TSF - "
Sócrates cai a pique". "PM perdeu 16 pontos".)
(Sondagem Intercampus - "Pelo menos 37,5% dos inquiridos dizem que o país está mal, 32,7% defendem mesmo que está muito mal". "Os mais jovens são os mais críticos. Vinte e dois por cento dos inquiridos acha que o Governo tem agido mal, uma opinião partilhada mais por mulheres do que por homens". )

O desencanto, o pessimismo, a desconfiança em relação à política, às políticas e aos políticos está como sempre.
Com a fatal agravante para quem chega de carregar com a insatisfação acumulada de décadas... (Mas também ninguém vai para a política por obrigação ou sequer às cegas, por isso não tem nenhuma razão para se queixar.)

Já lá vai o tempo em que o fashion engº Sócrates só tinha de aparecer para convencer.
Carinha laroca (?), corpinho de maratonista (?!), fatinho de bom corte (...) e palavras vagas.
Hoje, nem as votantes encantadas, nem os jovens esperançados ou sequer os convencidos eleitorais estão a ver o retorno que esperaram do seu voto.

E a situação arrisca-se a piorar muito.
Se o Governo espera cumprir o calendário da recta de mandato com uma gestão mais ergonómica, pode lá chegar tão estrangulado que não terá outra possibilidade que não o deixar cair a máscara à boca da urna.

O Primeiro Ministro continua pessoalmente em alta. (Tudo tem marés. Ainda se lembram da "onda" Guterres?, bonacheirona e fraternal? Acabou. Hoje está a dar a "pose-autoritarinha-de-quem-vai-pôr-a-casa-em-ordem". E tanto dar corda a uma como a outra revela a parolice extrema do povo que somos!)
Contudo, o País não está a perdoar o comportamento da Ministra da Educação (afinal a sua pega não é só com os professores?...), nem do Ministro das Obras Públicas (mas as SCUTS que passam a pagas não tocam só uns gajos sei lá onde e não trazem mais dinheiro ao Estado?), nem do Ministro da Saúde (afinal as taxas moderadoras não afectam só os mais endinheirados?, e os blocos de maternidade não tocam só umas centenas de interiorizados?), etc.

Se calhar o País não é tão burro como se pensa (e como muitas vezes se comporta!).
Talvez haja um resíduo de sentido comunitário e de atenção ao quadro mais amplo, que os políticos (todos) se recusam a entender.

Bem pode o engº Sócrates fazer os seus balanços à vontade.
Acontecer-lhe-á rigorosa e simplesmente o que tiver de acontecer...

Batem leve, levemente...

Alguém viu esta notícia?

Segundo ela, o consumo de "drogas leves" "pode conduzir à amputação de membros ou mesmo à morte celular contínua".
É o que afirma Armando Mansilha, um português a coordenar o “European Registry of Training Centers”.
O professor e investigador da Faculdade de Medicina do Porto afirma que o consumo deste tipo de drogas actua "de forma lenta mas progressiva".

Essa é a parte fácil de perceber.
Difícil de perceber é nesta notícia a conjugação de palavras "Contrariamente ao que normalmente se pensa, não são apenas as drogas 'pesadas', como heroína e cocaína, que provocam doenças de foro vascular mas também as chamadas 'leves'".

É que para "jornalismo a sério" (...) esta conjugação peculiar soa muito a cantiga do bandido.
"Contrariamente ao que normalmente se pensa"?!?... O que é que isto quer dizer exactamente?

"Normalmente"?!
"Pensa"?, quem?!...

Eu não penso isso. Nunca pensei.
Por isso é que me oponho, como sempre, às despenalizações, liberalizações ou lá o que querem, de "drogas leves".

Por ser demasiado evidente e antecipável uma "conclusão" destas!

A quem pode aproveitar uma notícia destas, desculpabilizadora, que mete toda a gente no mesmo saco do "pensa-se" (portanto é normal) para não se salientar ninguém, é quem possa estar entalado por obra da sua grande bocarra em relação ao tema.
Um algué
m - todos os alguéns - que possa já ter assumido compromissos populistas nesta matéria e agora precise de mão amiga que lhe alije a carga.

Não sei... Eventualmente...
Alguma juventude partidária, ou algum partido político...
Será?...


Mas lá que a notícia dá jeito, isso dá!

Grandes Portugueses

Borat Sagdiyev; 1972, Kuçzek, Cazaquistão.


Sem dúvida, um tipo que fará parte da lista.

Eh pá!... Mas o gajo nem sequer existe!...
Olha, deixa lá, leva na mesma o meu voto.

12/11/06

Universos paralelos

Para orgulho nacional, teve lugar no nosso País a reunião periódica do globalismo comunista, no Encontro Internacional de Partidos Comunistas e Operários.

Em Lisboa, estiveram presentes 70 delegações de países, que reflectiram sobre o estado do mundo actual, deram conta aos parceiros das suas lutas proletárias (?) locais e - porque estas coisas são mesmo assim - aproveitaram para ter algum tempo de antena.

(Gosta quem gosta. Interessa a quem interessa.)

A festa só terá sido entristecida por duas ausências de vulto: a do Partido Comunista da Coreia do Norte e a das FARC colombianas - cuja presença prevista acabou por não acontecer.

Sobre a Coreia do Norte, não tenho muito a dizer para além do que é o senso-comum.
(Aliás, terei é menos a dizer do que muita gente.)
Sobre as FARC é que... vamos mais devagar.

As FARC, "Fuerzas Armadas Revolucionarias de Colombia", são um grupo guerrilheiro que luta há décadas pelo ensejo a uma sociedade colombiana conforme à sua visão política da realidade. A partir do seu acantonamento na densa selva sul-americana...

Mas cuidado!, quem tenda a inebriar-se com o aroma romântico das lutas libertárias de heróis revolucionários.
Porque quem diz "guerrilheiro", diz terrorista!
(E não sou eu que o digo. Se quiserem vão ler o que a União Europeia listou como organizações terroristas e verifiquem se as FARC lá estão, ou não...)

Quem diz "guerrilheiros", diz criminosos por grosso. Pilhadores. Raptores. Homicidas - genocidas aprendizes, de populações indígenas.
Narcotraficantes que - a par das organizações paramilitares direitistas pró-governo - se sustentam sem vergonha nem escrúpulos do rentável comércio da coca, partilhado por uma vasta matilha.

Ora, por isso se estranha que a abominável comitiva das FARC estivesse na lista de convivas da reunião de comunistas na capital portuguesa.
E que os senhores sejam reconhecidos e respeitados pelo "comunismo global".
E que o PCP ande em tão más e íntimas companhias...

É que (para quem não deu por isso...) as FARC estiveram representadas na última Festa do Avante!, no Seixal.
Lá se encontrava para distribuição a revista ‘Resistência’. E por isso o Estado português ainda teve de prestar contas
à diplomacia colombiana pela gracinha da propaganda pública em solo nacional ao grupo terrorista!

É demasiado para mim. Demasiado bizarro, para que eu perceba.

Que o comunismo persista hoje, talvez seja um capricho histórico. Mas legítimo.
Que uma certa ideologia de esquerda continue a mitificar narrativas-modelo e figuras sinistras (que um dia poderão aqui desfilar) como heróis românticos, pode ser um mero fetiche. Mas cada um endeusa o que quer.
Que a cegueira ideológica (de qualquer quadrante) force a percepção da realidade, o equilíbrio das propostas e a perspectiva de viabilidade de um futuro militante, pode ser uma excentricidade. Mas o que se pode fazer?...

...Não se pode é deixar de considerar que uma certa forma de pensar, de agir, de viver, se enquadram mais numa realidade alternativa, num universo paralelo paranóico-concebido, do que neste universo, nosso, quotidiano, falível mas palpável.

E assusta a influência filosófica que ainda exerce esta esquerda (tal como outras!), hoje, na "forma correcta de pensar", no "politicamente correcto" que nos envenena, compelindo-nos ao formalismo ético de um pensamento único, que nos afasta do rumo desejado por todos os democratas e cidadãos do futuro.

A ditadura de uma certa intelectualite de esquerda dominante? É isto.

10/11/06

América

Os Estados Unidos foram a votos.
E já se conhecem como resultados definitivos as vitórias dos democratas em ambas as câmaras do Congresso.


Na maior democracia do mundo, votou-se livremente e os americanos optaram claramente por uma mudança de rumo.
(Que a acontecer, influenciará consigo o mundo inteiro. É esse o signo da América.)


Na maior democracia do mundo, as alterações de política interna e externa ocorrerão, trazidas pela nova maré partidária, mas a Nação não abalará por isso.
Não ameaçará colapsar sob a sofreguidão da mudança ou com a sua brusquidão, porque a mudar será sempre profunda e silenciosa como o rio caudaloso.


A América é um grande País. Eu já o sabia. E digo-o sempre; não é de hoje.
(Contrariamente a alguns canoras que, de repente, viram raiar deslumbrados o brilho das riscas e das estrelas, dependente do resultado alcançado pelos democratas!)

Recordo-me enfim do que cívica e democraticamente disse o cívico e democrata sr. engº Pinto de Sousa, nosso Primeiro, na noite da sua vitória legislativa, relativamente aos seus adversários: "Espero que tenham aprendido a lição."
Os democratas e os bem-pensantes americanos aprenderam a lição, de facto, nas últimas presidenciais: a campanha de denegrecimento da figura do Presidente e do homem George W. Bush, por mais saborosa que tenha sido, não compensou.

Desta feita, jogaram-se os factos e os dados, e o povo falou.

Como se esperava. Espera-se que bem.

09/11/06

Presidir


Há muitas maneiras de estar. Como há muitas maneiras de ser. Nenhuma forçosamente correcta, muitas necessariamente lícitas.
...Antiquíssimo e irresolúvel paradoxo.

Variem a construção pessoal de cada um, a sua história de vida, a sua formação, a perspectiva que tenham de si, dos outros, do mundo, da vida, a sua força interior (racionalizante?, problematizadora?, dinâmica?), o seu espírito (atento?, empenhado?, mobilizado?, empreendedor?), a sua moral e a sua ética, varie qualquer um destes elementos e cada um percorrerá um caminho pessoal tão peculiar quanto a forma como o trilha.

Assim é na política.
Assim é a política. Cheia de homens e mulheres não só inevitavelmente diferentes entre si, mas distintos nas suas formas de estar presentes, de escutar, d
e entender, de relacionar-se com a realidade e de agir com e sobre ela.

Quando em opinião publicada na edição de 07 de Novembro do Jornal Triângulo o Presidente da Junta de Freguesia de Loures resgatou à má-consciência envergonhada de alguns a necessidade absoluta de assumir a dimensão religiosa do património cultural de um povo, marcou uma posição pessoal, cívica e política importantes.
Deu conta aos leitores, na primeira pessoa, da sua forma de ser e de estar.

Partindo de Luther King, "Chega um dia em que é preciso assumir uma posição que não é nem segura, nem política, nem popular, mas que tem de ser assumida porque é a que está certa", reforçou as palavras de Madeleine Albright, segundo a qual a sensibilidade ao religioso deve ser uma das preocupações da política e dos políticos.

A dimensão cultural da religião; a dimensão religiosa na cultura; a acção ética sobre a sociedade, isto é, a acção política.

O reconhecimento e o conhecimento do fenómeno religioso nas suas várias facetas (inclusive a sua experimentação) munem o homem, e por decurso o político, de uma maior compreensão dos seus actos e dos do outro, em sentido estreito e lato.
Reconhecendo o que há na sua sensibilidade, na sua perspectiva, na sua identidade própria, de uma tradição diversamente rica, o homem alarga as perspectivas de sucesso de um auto-entendimento e de um entendimento no contacto com o outro.
(Não beliscando a laicidade de Estados ou entidades civis, impessoais, universais e mediadores.)

Contrariando uma certa "tendência" fashion pós-moderna e militante para a arreligiosidade - já nem sequer para o próprio ateísmo, que involuntariamente adere à encenação do confronto do Homem com o divino - a opinião do Presidente da Junta de Freguesia de Loures teve a coragem de assumir-se organicamente resultante de um conjunto de fontes de sensibilidade culturais, uma delas a sua própria abertura à religião, e a clarividência de denunciar a hipocrisia de uma campanha convencionada contra o religioso - que numa dimensão antropológica não se configura como "alternativa intelectual".

Ao opor-se ao argumentário e à prática dos eunucos culturais da (forte?) "tendência" arreligiosa, a atitude de João Nunes corporiza o verbo "presidir".
Mais do que na acepção corrente da "chefia" ou "liderança", na da "presença" e do "afrontamento".
Etimologicamente "presidir", ou "prae"-"sedere", significa "estar sentado, colocado", "face a, perante".
Porque é disso que se trata nesta questão: de firmar posição clara, de demarcar espaço próprio, mesmo que não contra, em função directa de algo. De clarificar uma posição relativa, sem margens cinzentas de dúvida.

Mais gente parasse para olhar... Para reflectir. Mais gente avançasse e se assumisse...
(Não importaria quando, onde ou sobre quê.)
Mais gente aceitasse o desafio democrático à cidadania.

Um País estúpido "cadáver que procria"..., por favor, mais não!

08/11/06

Tapa-buracos

Eu que sou tão ingénuo, fiquei dividido.

Por um lado, a oposição parlamentar diz que as medidas anunciadas pelo sr. engº para aumentar a colecta fiscal da banca são inócuas, por outro, vejo uma primeira página destas, em que o pobre do sr. engº aparece como um McArthur da pevide.

Cá para mim está tudo a ser enrolado (só...) mais uma vez.

Em primeiro lugar, não são só as "oposições" a afirmar que se as "medidas" governamentais na área se ficarem pelo anunciado, passamos de parados a quietos e a banca continuará a folgar como sempre.

Em segundo, não é grande o aspecto de anunciar medidas de justiça fiscal sobre a banca no dia da discussão do Orçamento de Estado para 2007, quando as medidas são apresentadas como não fazendo parte do pacote e de entrada em vigor prometida para daí a trinta Janeiros.
De que é que se está a falar afinal? Afinal o que é que se discutiu naquela sala? Há distinção entre resposta política a interpelações ao Governo e cortinas de fumo para enlear?


Em terceiro, é um péssimo sinal que o Primeiro-Ministro apresente as referidas medidas como retaliação aos lucros faraónicos da banca.
Julgava eu que a honra fiscal dos contribuintes era universal e compulsiva, cega e imparcial. E que o Estado mais não fazia que a impor a quem dela se esquecesse.
Afinal, parece (olhem as coisas que se descobrem!) que o Governo se envolve em campanhas contra alvos sociais, por motivos discricionários (quem diria?...).
Ao apropriar-se da linguagem esquerdista do "combate ao capital" reconheceu que a guerra - de Alecrim e Manjerona - que abriu com a banca - para papalvo calar - não é senão o resultado desesperado de não poder mais encaixar politicamente um discurso populista mas com fundamento, que lhe destapava a careca, que lhe denunciava a cobardia, a inépcia e o desleixo de não impor a justiça fiscal como lhe compete.


E como resposta, um tapa-buracos. Que para a "opinião pública" que é, chega e sobra!

...Mas isto é a leitura de um ingénuo.

07/11/06

Grandes Portugueses



Mestre Jedi Yoda; ?, 896 BBY – Dagobah, 4 ABY


Sem dúvida, um tipo que fará parte da lista.

Eh pá!... Mas o gajo nem sequer é humano!...
Olha, deixa lá, leva na mesma o meu voto.

Faltas dos professores - o milagre português

Ah, o cheiro fresco da propaganda pela manhã!...
Nada como o País começar a jornada com um cafezinho e as primeiras do dia.

...Parece que a coisa está a levar volta na Educação.
Os malandros dos professores, que refinam a malvadez simples de serem funcionários públicos, estão a ganhar juizinho. Andam a faltar menos 40%.

Dito assim, seco.

Não sei se é verdade, se não.
Só sei que há coisas a esclarecer.

Em primeiro lugar, as "faltas dos professores".

Sempre achei que, como em todas as profissões, há bons e maus, blábláblá...
Como há quem falte e quem não.
Como há quem falte desmioladamente e quem falte quando precisa.
Como há quem falte ao abrigo do regime de faltas que o rege e quem não o respeite.
Como há quem falte e, apesar de faltar, assegure muito melhor a concretização do trabalho acordado com o empegador, que outrem que sem falha está diariamente no seu posto a encher balões.
Estamos a falar de quê, especificamente? A generalizar o quê, ao certo?

E os professores destacam-se realmente no absentismo laboral da média do resto do povo?
E uma "falta" de um professor transporta um peso ético tão mais grave que uma "falta" de um outro trabalhador qualquer?
E as faltas dos professores minam a estrutura de um sistema de ensino racional, assertivo e eficaz, que de outra forma seria um sucesso, não o sendo agora?...

Tretas! Muitas tretas!
Sempre me pareceu esta das "faltas dos professores" ao mesmo tempo uma discussão fulcral e uma enorme banhada.

Em segundo lugar, estar a "haver menos faltas dos professores".
A ser verdade, porque será?

Já ouvi a teoria do efeito da norma que obriga agora um professor que falta a deixar previamente o plano da sua aula, para que seja executado em aula de substituição.
Não me cheira!
Como é que uma bandidagem que faltasse sem controlo nem consciência se coibiria, perante uma norma destas, de deixar abandonado de vésperas na escola um papeleto qualquer copiado em dez (já que o controlo pedagógico ou didáctico que o validaria não está previsto em lado nenhum) e de faltar de qualquer forma?
A "bandidagem" não existe e não será por aí.

Já me disseram que os professores estão amedrontados pela perspectiva do efeito retroactivo sobre o início do ano lectivo de um novo normativo a entrar em vigor em Janeiro...
Não é credível.
Os professores não são - em média - atrasados mentais e por isso compreendem que um normativo saído em 2007 não pode retroactivamente penalizar ou deixar de penalizar o que ficou para trás. (Não que o Governo Sócrates não seja vezeiro nestas tentativas de "retroactividade"...)
Por aí não será tão pouco.

Vou mais pelo efeito da força da propaganda... ao contrário!

É velha e tem barbas, a boa da propaganda.
Sempre serviu para mobilizar (manipular) em tempo de crise vontades e energias vitais para a vitória de uma parte, eventualmente adormecidas pelas circunstâncias e a precisar de um abanãozito desencadeador.

Mas ao contrário! Que com este Ministério (Governo) nada é às direitas.

Ao montar uma campanha agressiva e rasteira de descrédito dos professores, alinhados na praça pública para a tosquia da tesoura das finanças do País, a senhora Ministra da Educação obteve um efeito tão caprichoso quanto surpreendente: a "melhoria de comportamento" dos ditos docentes!

Numa lógica de "Rai's ma partam s'aquela gaja m'há-de tirar o amor-próprio!!", a senhora Ministra conseguiu que os professores mais prevaricadores passassem a atinar-se, mesmo como forma de lho atirar à cara em tempo de convulsão...

Caso para dizer: "Senhora Ministra, por favor, não desista!"
Abençoada mulher!

Ficam duas curiosidades.

Se isso a vai livrar de ser remodelada (ela já não andava com boa cara...).
É que o País, apesar destes elevados préstimos, já não lhe acha graça nenhuma há algum tempo.

E se os jornalistas portugueses não sabem fazer cabeçalhos melhores que os que nos põem em dúvida se quem falta são os professores se são os alunos!

Muro das lamentações

«Sou contra a ideia de todos os muros», terá dito o Ministro dos Negócios Estrangeiros, Luís Amado.
Metendo a sua colherada no conflito de alvenaria que opõe Estados Unidos e México.


Portugal subscreveu "a crítica dos países ibero-americanos à construção pelos americanos de um muro" na fronteira com os vizinhos mexicanos.
(E a subscrição portuguesa deve ter sido muito relevante...)


Perante um salto (tendencialmente) descontrolado de imigração mexicana sobre os Estados Unidos, e face às críticas ferozes a um acréscimo de policiamento ou militarização de uma fronteira soberana, aparece esta solução.
Mais barata, eficaz, testada com sucesso (...) historicamente e menos abrasiva.

É uma solução triste. Defender-se fechando-se.

Mas não só é uma solução, como é uma solução num problema que sob nenhuma perspectiva nos diz respeito.
Que só pelo nosso maldito vício de irmos metediços pôr-nos em bicos de pés em côros de velhas - na fisga de nos servir de muito! - se justifica.

Haja paciência!

06/11/06

Quem tem um Sampaio não precisa de um Nostradamus

Santana Lopes. O nome diz tudo.

De Encoberto
a descoberto, de aspirante a desesperante, da promessa à pressa, a sua história contou-se em poucos meses, sob o signo da fugacidade e da incompletude.

O que não impede que o homem não tenha guardado muitas e boas razões de queixa do tratamento que teve às mãos dos bem-pensantes que muito bem lhe fizeram a cama em que o lorpa se deitou.

Mais que razão tem ele para o patético número da birra do morto em que chama "batoteiro" ao engº Sócrates, invejando o conforto político de que goza o PM socialista, um conforto tão laboratorialmente manipulado como o rosário das agruras que lhe foram acontecendo.

DÚVIDAS?...

Os de boa memória lembrar-se-ão do comunicado ao País do então Presidente Jorge Sampaio.
Tarde e a más horas (tanto foi o tempo que lhe levou a esgalhar um discurso justificativo à Nação), lá deu aos portugueses a esmola de u
ma explicação da dissolução de uma Assembleia da República democraticamente eleita e em regulares funções, contando com uma maioria estável constituída como suporte a um Governo empossado meses antes pelo dito.

Mas não sei se toda a gente terá bem presentes as suas palavras...
É que são muito engraçadas de ouvir, com um ouvido em Dezembro de 2004... e outro em Novembro de 2006!

Dizia o dr. Sampaio, então Presidente:

"Quando, no início do Verão passado, [...] optei, após cuidadosa ponderação, por não dissolver a Assembleia da República e nomear o dr. Pedro Santana Lopes Primeiro-Ministro, [...] decidi nesse sentido porque a maioria parlamentar me garantiu poder gerar um novo Governo estável, consistente e credível, que cumprisse o programa apresentado para a legislatura e fosse capaz de merecer a confiança do país e de mobilizar os portugueses para vencer os desafios inadiáveis que enfrentamos."
[...]
No discurso que fiz no momento em que empossei o Governo, reafirmei [que] : 'A conjuntura nacional, bem como o delicado contexto internacional, impõem ao Governo uma particular lucidez nas políticas e um rigor na gestão governativa, tal como aconselham a realizar obra consistente e estruturante na solução dos problemas'.
[...]
Entretanto, [...] depois de lhe ter assegurado todas as condições necessárias para o desempenho da sua missão, o país assistiu a uma série de episódios que ensombrou decisivamente a credibilidade do Governo e a sua capacidade para enfrentar a crise que o país vive. Refiro-me a sucessivos incidentes e declarações, contradições e descoordenações que contribuíram para o desprestígio do Governo, dos seus membros e das instituições, em geral. Dispenso-me de os mencionar um a um, pois são do conhecimento do país. A sucessão negativa desses acontecimentos [...] criou uma grave crise [...] na relação de confiança entre o Estado e a sociedade [e do] prestígio das instituições democráticas.
[...]
Não fiquei surdo às vozes que defendem que o Orçamento para 2005 não responde satisfatoriamente às exigências de efectiva consolidação orçamental, condição necessária para se prosseguir o esforço de redução do défice público que os nossos compromissos internacionais e as necessidades do nosso desenvolvimento futuro tornaram indispensável. Entendi, no entanto, e sem que se possa ver nisso contradição, que era preferível dispormos de um Orçamento aprovado que assegurasse, desde o início do ano, o normal funcionamento da Administração Pública [...]."

Hoje já não há Sampaio, já não há Santana, mas estas palavras continuam frescas do dia...

Apesar de, como em tudo na vida, até um visionário como Sampaio poder errar nas suas previsões.
Afinal, dizia ele aos portugueses a acabar a tal comunicação ao País:

"Vem aí, espero, um tempo de debate, de confronto de ideias, de elevação e exigência democráticas, [...] serenidade, tolerância para com as opiniões diversas [...]."

...Eu também ainda estou à espera.