07/11/06

Faltas dos professores - o milagre português

Ah, o cheiro fresco da propaganda pela manhã!...
Nada como o País começar a jornada com um cafezinho e as primeiras do dia.

...Parece que a coisa está a levar volta na Educação.
Os malandros dos professores, que refinam a malvadez simples de serem funcionários públicos, estão a ganhar juizinho. Andam a faltar menos 40%.

Dito assim, seco.

Não sei se é verdade, se não.
Só sei que há coisas a esclarecer.

Em primeiro lugar, as "faltas dos professores".

Sempre achei que, como em todas as profissões, há bons e maus, blábláblá...
Como há quem falte e quem não.
Como há quem falte desmioladamente e quem falte quando precisa.
Como há quem falte ao abrigo do regime de faltas que o rege e quem não o respeite.
Como há quem falte e, apesar de faltar, assegure muito melhor a concretização do trabalho acordado com o empegador, que outrem que sem falha está diariamente no seu posto a encher balões.
Estamos a falar de quê, especificamente? A generalizar o quê, ao certo?

E os professores destacam-se realmente no absentismo laboral da média do resto do povo?
E uma "falta" de um professor transporta um peso ético tão mais grave que uma "falta" de um outro trabalhador qualquer?
E as faltas dos professores minam a estrutura de um sistema de ensino racional, assertivo e eficaz, que de outra forma seria um sucesso, não o sendo agora?...

Tretas! Muitas tretas!
Sempre me pareceu esta das "faltas dos professores" ao mesmo tempo uma discussão fulcral e uma enorme banhada.

Em segundo lugar, estar a "haver menos faltas dos professores".
A ser verdade, porque será?

Já ouvi a teoria do efeito da norma que obriga agora um professor que falta a deixar previamente o plano da sua aula, para que seja executado em aula de substituição.
Não me cheira!
Como é que uma bandidagem que faltasse sem controlo nem consciência se coibiria, perante uma norma destas, de deixar abandonado de vésperas na escola um papeleto qualquer copiado em dez (já que o controlo pedagógico ou didáctico que o validaria não está previsto em lado nenhum) e de faltar de qualquer forma?
A "bandidagem" não existe e não será por aí.

Já me disseram que os professores estão amedrontados pela perspectiva do efeito retroactivo sobre o início do ano lectivo de um novo normativo a entrar em vigor em Janeiro...
Não é credível.
Os professores não são - em média - atrasados mentais e por isso compreendem que um normativo saído em 2007 não pode retroactivamente penalizar ou deixar de penalizar o que ficou para trás. (Não que o Governo Sócrates não seja vezeiro nestas tentativas de "retroactividade"...)
Por aí não será tão pouco.

Vou mais pelo efeito da força da propaganda... ao contrário!

É velha e tem barbas, a boa da propaganda.
Sempre serviu para mobilizar (manipular) em tempo de crise vontades e energias vitais para a vitória de uma parte, eventualmente adormecidas pelas circunstâncias e a precisar de um abanãozito desencadeador.

Mas ao contrário! Que com este Ministério (Governo) nada é às direitas.

Ao montar uma campanha agressiva e rasteira de descrédito dos professores, alinhados na praça pública para a tosquia da tesoura das finanças do País, a senhora Ministra da Educação obteve um efeito tão caprichoso quanto surpreendente: a "melhoria de comportamento" dos ditos docentes!

Numa lógica de "Rai's ma partam s'aquela gaja m'há-de tirar o amor-próprio!!", a senhora Ministra conseguiu que os professores mais prevaricadores passassem a atinar-se, mesmo como forma de lho atirar à cara em tempo de convulsão...

Caso para dizer: "Senhora Ministra, por favor, não desista!"
Abençoada mulher!

Ficam duas curiosidades.

Se isso a vai livrar de ser remodelada (ela já não andava com boa cara...).
É que o País, apesar destes elevados préstimos, já não lhe acha graça nenhuma há algum tempo.

E se os jornalistas portugueses não sabem fazer cabeçalhos melhores que os que nos põem em dúvida se quem falta são os professores se são os alunos!

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