09/11/06

Presidir


Há muitas maneiras de estar. Como há muitas maneiras de ser. Nenhuma forçosamente correcta, muitas necessariamente lícitas.
...Antiquíssimo e irresolúvel paradoxo.

Variem a construção pessoal de cada um, a sua história de vida, a sua formação, a perspectiva que tenham de si, dos outros, do mundo, da vida, a sua força interior (racionalizante?, problematizadora?, dinâmica?), o seu espírito (atento?, empenhado?, mobilizado?, empreendedor?), a sua moral e a sua ética, varie qualquer um destes elementos e cada um percorrerá um caminho pessoal tão peculiar quanto a forma como o trilha.

Assim é na política.
Assim é a política. Cheia de homens e mulheres não só inevitavelmente diferentes entre si, mas distintos nas suas formas de estar presentes, de escutar, d
e entender, de relacionar-se com a realidade e de agir com e sobre ela.

Quando em opinião publicada na edição de 07 de Novembro do Jornal Triângulo o Presidente da Junta de Freguesia de Loures resgatou à má-consciência envergonhada de alguns a necessidade absoluta de assumir a dimensão religiosa do património cultural de um povo, marcou uma posição pessoal, cívica e política importantes.
Deu conta aos leitores, na primeira pessoa, da sua forma de ser e de estar.

Partindo de Luther King, "Chega um dia em que é preciso assumir uma posição que não é nem segura, nem política, nem popular, mas que tem de ser assumida porque é a que está certa", reforçou as palavras de Madeleine Albright, segundo a qual a sensibilidade ao religioso deve ser uma das preocupações da política e dos políticos.

A dimensão cultural da religião; a dimensão religiosa na cultura; a acção ética sobre a sociedade, isto é, a acção política.

O reconhecimento e o conhecimento do fenómeno religioso nas suas várias facetas (inclusive a sua experimentação) munem o homem, e por decurso o político, de uma maior compreensão dos seus actos e dos do outro, em sentido estreito e lato.
Reconhecendo o que há na sua sensibilidade, na sua perspectiva, na sua identidade própria, de uma tradição diversamente rica, o homem alarga as perspectivas de sucesso de um auto-entendimento e de um entendimento no contacto com o outro.
(Não beliscando a laicidade de Estados ou entidades civis, impessoais, universais e mediadores.)

Contrariando uma certa "tendência" fashion pós-moderna e militante para a arreligiosidade - já nem sequer para o próprio ateísmo, que involuntariamente adere à encenação do confronto do Homem com o divino - a opinião do Presidente da Junta de Freguesia de Loures teve a coragem de assumir-se organicamente resultante de um conjunto de fontes de sensibilidade culturais, uma delas a sua própria abertura à religião, e a clarividência de denunciar a hipocrisia de uma campanha convencionada contra o religioso - que numa dimensão antropológica não se configura como "alternativa intelectual".

Ao opor-se ao argumentário e à prática dos eunucos culturais da (forte?) "tendência" arreligiosa, a atitude de João Nunes corporiza o verbo "presidir".
Mais do que na acepção corrente da "chefia" ou "liderança", na da "presença" e do "afrontamento".
Etimologicamente "presidir", ou "prae"-"sedere", significa "estar sentado, colocado", "face a, perante".
Porque é disso que se trata nesta questão: de firmar posição clara, de demarcar espaço próprio, mesmo que não contra, em função directa de algo. De clarificar uma posição relativa, sem margens cinzentas de dúvida.

Mais gente parasse para olhar... Para reflectir. Mais gente avançasse e se assumisse...
(Não importaria quando, onde ou sobre quê.)
Mais gente aceitasse o desafio democrático à cidadania.

Um País estúpido "cadáver que procria"..., por favor, mais não!

2 comentários:

Anónimo disse...

Pedro?????


Estás a dizer bem do Presidente da Junta de Loures????

Faz-nos uma visita para ver se ficas melhor.

Ehehehehehehehe

Pedro_Nunes_no_Mundo disse...

Não estás a fazer jus às nossas longas e ponderadas conversas...

Haverá mesmo surpresa em tudo isto?