30/09/08

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O pedronunesnomundo.blogspot.com pede encarecidamente aos seus clientes e amigos que, pelo amor de Deus! parem de aceder a este endereço para saber mais do que se passa no enfadonho Mundo do seu autor.

Após a mudança de casa para o endereço http://pedronunesnomundo.wordpress.com/, várias possibilidades se colocam ao teimoso navegador da net:
1 - Adicionar este novo endereço nos seus Favoritos;
2 - Actualizar o link que tenham colocado nalgum lado com o novo endereço;
3 - Colar no frigorífico o novo endereço para o aprender de cor;
4 - Fazer deste novo endereço a sua nova homepage para poupar trabalho (ahahahahah!...).

O que é certo é que já não se justifica a quantidade de hits diários deste ex-blog, quase superior ao actual, uma vez que aqui... já não mora ninguém...
(...E pode estar por dias a eliminação definitiva deste venerável chaço.)

Agradeço, assim, se possível, a melhor compreensão e a possível colaboração.

A Gerência.

03/09/08

A Saída...


405 posts depois, abandono o Blogger.
Dois anos e três meses depois...

...E tenho pena.

É ser parvo, apegarmo-nos a coisas tão ridículas quanto o paradoxo conceptual de um espaço na net.
[Um blog não existe! Basicamente é uma pilha de teclas batidas armazenada num servidor americano!]

Mas convençam-me disso, tantas e tantas horas volvidas - de falta de sono, de falta de contacto, de falta de realidade - neste quarto de brincar, mergulhado em informação, inventando bonecos, esculpindo ideias, destilando palavras arrumadas por ordem
, a lê-las, a relê-las, a apagá-las, a repeti-las, até obter uma coisa que vagamente previa, um berloque desejado para pendurar nesta montra de humilde loja de bairro...

Devemos ser gratos à terra de onde brotamos.
...Talvez seja só por isso.

Aqui comecei a blogar.
(Que a minha geração foi parteira do blogar mas teve que o aprender.)
Aqui me tornei um crente.
(Insatisfeito por vezes, mas incapaz de soltar-me.)
Aqui acredito possível o encontro das vontades. O triunfo da última chama da sumida humanidade.

Por isso não é uma saída. Será só...

02/09/08

"Olhe, Vai Tomar Duas Colheres de Hexiom Antes de Deitar..."


O Desculpem Qualquer Coisinha resolveu contribuir para as minhas parcas horas de sono, apresentando-me o Hexiom.

Agradeço-lhe, com a voz embargada. (Talvez do avançado da hora...)



(O raça do jogo é mesmo viciante, carago!)

29/08/08

Idiotas Chipados


Está consumada. Uma barbaridade que nunca julguei possível.

O chipamento da vida dos cidadãos.

Claro que "apenas" nos carros em que se deslocam.
Claro que "só" por motivos utilitários e reactivos a uma insegurança que, como não respeita nada nem niguém, tem resposta pronta e adequada de quem nos "governa".

Claro que é para o nosso bem....
Claro!


O que acontece é que cada vez menos gosto desta sociedade em que vivo.
Cada vez mais me inquieta que esteja a criar um filho inocente - futuro cidadão - para o entregar nas mãos de um monstro silencioso.
E por imperativos de moral e de razão não estar a artilhá-lo com as ferramentas de violência adequadas a responder-lhe, quando velho não me couber já a mim lutar num combate de uma outra dimensão, com a vitalidade que então já não terei.


Há muito que a questão do "divórcio entre cidadãos e os seus governantes" está ultrapassada...
[...O "divórcio" entre os cidadãos e o próprio "sistema democrático" que os rege nunca sequer esteve sobre a mesa, na medida em que ninguém se "divorcia" de algo a que nunca esteve intimamente ligado.]

...Hoje - resultado de um intrincado processo e de uma intrincada manipulação - os cidadãos estão divorciados de si mesmos. Cada qual já não procura saber o que pode fazer pela Nação, mas também já nem lhe interessa saber o que a "Nação" pode fazer por si - exercício penoso de intelecto e civismo a que ninguém se sujeita - cortado em qualquer sentido o cordão umbilical que o ligaria à comunidade dos seus semelhantes.

Hoje, o cidadão divorciado de si mesmo não procura intervir sobre o seu meio, atrofiado na sua iniciativa.
Não procura intervir sobre a quem, de forma diferida, poderia caberia essa intervenção, atrofiado na sua voz.
Hoje, o cidadão constitui o isolamento a sua forma de integração social.
[Que ai
nda que conducente à sua fragilidade e ao seu - inevitável - desespero, tanto o seduz pela ociosidade como lhe surge difuso na anestesia pop do mediatismo e do consumo.]


E, desenraizado, perde os seus referenciais. O seu contexto, a sua identidade e o seu auto-respeito.
Perde a noção de uma origem e de um futuro colectivos - cuja alusão o enchem de um espanto genuíno e de uma indiferença exuberante, nascidos da ignorância, da inconsciência e do orgulho.
Perde o sentido da sua existência.

E está pronto para a ceifa.

Quando o Presidente da República promulga o decreto-lei que permitirá a instalação de chips (...não, não são batatas!) em todos os veículos motorizados, sob pretextos de "facilitar o trabalho das forças de segurança, que terão acesso à informação sobre inspecção periódica e seguro automóvel", "permitir o reconhecimento de veículos acidentados e abandonados" e "ser utilizado na cobrança de portagens e outras taxas rodoviárias", "entende que as dúvidas relativas à reserva da intimidade da vida privada podem ser resolvidas pelo Governo".

Ora, tanto os motivos alegados estão pela insignificância cobertos de ridículo, como o laçarote formal dado à ameaça da privacidade dos cidadãos acrescenta à estupefacção toda a repulsa possível.


Não existe motivo plausível para o controlo em tempo real da circulação individual.
Para a sua vigilância.
Para a sua indexação.
Para o seu arquivamento metódico.
Para a sua consulta cirúrgica.

Nem motivo plausível, nem justificação aceitável.

Só numa Nação em que mais por folclore que por convicção se desfraldam os pendões da luta democrática, se admite que se venda em hasta a liberdade de agir do cidadão.
...Porque é dela que se trata!
Se alguém não é livre no resguardo dos seus movimentos, é coarctado neles.

E quando a segurança dos cidadãos é prometida às mãos - não só dos políticos, mas - de um "Governo" que nasceu e vive sob o signo da manipulação, todo o alarme social seria justificado...


...Não fosse já o alarme social o último ingrediente necessário ao caldo da desarticulação da cidadania.

Cidadãos entorpecidos, superficiais e
impotentes, não necessitam senão de um empurrão para que aos seus olhos qualquer fórmula manhosa de salvamento seja providencial.
"A criminalidade crescente requer actos radicais."
[Aterrorizar/controlar. Enfraquecer/dominar.]

Primeiro, sob o olhar de uma câmara indiscreta, omnipresente, em circuito fechado
paternal sobre o homem...
...Depois, sob uma mesma câmara,
fria e penetrante, cerrado no abraço esmagador de um círculo fechado sem apelo.

("Tal e qual como nos States..." - Pela boca tantos morrem...)
Tal como no livro de Orwell.


Mas contra a probabilidade, parece ter aparecido quem ouvisse a notícia.
Quem se pusesse a pensar e tirasse conclusão.
Parece que até houve mesmo alguém com opinião. E que ousou partilhá-la.
E que na largura da net chamou outros a fazê-lo.
...E que de novo mostrou que isso é fácil e é fértil.

Não fui eu, mas aderi. Porque o medo e a revolta também os transporto em mim.
Por mim,
por quem passa a meu lado, por aqueles que me seguem e pelos que hão-de vir...
Porque o desgosto galopante de viver no idiotismo também me revolta as entranhas!

Por continuar a crer que a corja que nos apouca nada pode contra nós.
Queiramos. Façamos. Ousemos.
E ser livre pode ser já.

27/08/08

Requintes de Malvadez

A net está repleta de uma fauna variada e rica.

Entre os anjinhos e os canalhas, os egoístas e os generosos, os lorpas e os sábios, os estetas e os alarves, os arruaças e os betinhos, navegamos aos sacões num mar encarpado onde, se incertos governamos a nossa balsa, nenhuma esperança existe de o domar.

No entanto, por vezes, de passagem, ao largo, vemos uma bóia que luz, um foguete lançado por alguém que ajuda...
...A encontrar alguma coisa de jeito nesta viável desolação de lixo e caos.

O blog chama-se Quintus. Nada demais.

Tem ideias, opiniões, bonecos... e requintes de malvadez!

De cada vez que o
Clavis Prophetarum lança um dos seus enigmas, já percebi que um formigueiro de cuscos se precipitam sobre os livros, a net, as vizinhas mais velhas, para o desvendar primeiro e somar pontos com a resposta certa.
Inclusive eu... (Que já o pus nos meus
links.)

Tão simples, que espantam: os terríficos "Quids".

...Quem se atreve?

"Say What?!..."

Há algum tempo atrás, a Mais Dia batia no iogurte.
Não para o tornar cremoso mas para lhe dar educação - que o magano teimava em atropelar a Língua que o sustenta.

Suspeita-se contudo que o problema não fique por aí.

Vide o exemplo...


"Miminhos"?... Em "buraquinhos"?!...
Mas que história é esta?...

Parece-me mais que este iogurte para a família está, isso sim, a atravessar uma espécie de crise exibicionista.

"Slave to the Rythm"

Uma das melhores canções de sempre.
Um dos melhores clips de sempre...

[Não fosse sempre tão superlativa a nossa opinião das coisas...]

...Hoje tornado impossível pelo Politicamente Correcto, que nos envenena: "Ai que horror, falar de pretos e brancos!", "Ai que horror, tanta nudez!", "Ai que horror, uma criancinha explorada!".

Como somos hoje - mais - puros e fúteis...

Grace Jones e uma overdose de 80's.

Apreciem.






Rhythm is both the song's manical and it''s demonic charge.
It is the original breath , it is the whisper of unremitting demand.
What do you still want to be said of the singer?

Ladies and gentlemen, miss Grace Jones:
Slave to the Rythm.

I'm just playin' around, baby......

Work all day,
as men who know
wheels must turn
to keep the flow.

Build on up,
don't break the chain,
sparks will fly
when the whistle blows.

Never stop the action,
keep it up, keep it up.

Never stop the action,
keep it up.

Work to the rhythm,
live to the rhythm,
love to the rhythm,
slave to the rhythm.

Axe to wood,
in ancient time.
Man machine,
power line.

Fire burns,
hearts beat strong.
Sing out loud
the chain gang song.

Never stop the action,
keep it up, keep it up.

Never stop the action,
keep it up.

Breath to the rhythm,
dance to the rhythm,
work to the rhythm,
live to the rhythm.
Love to the rhythm,
you slave to the rhythm.

26/08/08

Pedro Nunes no Mundo Americano

Tenho uma surpresa para todos!

Parece que as regras das eleições americanas mudaram à última da hora!
...E eu decidi avançar.

Agradeço por isso o vosso maior apoio!...

(Apesar de a campanha já não estar a correr nada mal.)










Com uma piscadela de olho ao Retrossexual.

Dezanove Séculos Vos Contemplam


Para os lados da Turquia ocorreu um achado arqueológico.

Quando no fim deste mês
arqueólogos resgatavam à terra a antiga cidade soterrada de Sagalassos, destruída por um terramoto por volta do século VI da Era de Cristo, depararam com o antigo lugar de uns banhosa públicos e neles com uma grandiosa estátua...

...Do imperador Marco Aurélio.

Marcus Aurelius Antoninus Augustus; 26 de Abril de 121 a 17 de março de 180.

Já lhe fiz alusão, em certo post. Imperador, homem, filósofo, autor...
Uma figura relevante na História da Humanidade.

Que agora nos revisita.


E não posso deixar de sentir profundamente que esta chegada acontece inesperada.
Sem aviso, sem preparação, sem sentido.

Quando, dezanove séculos depois, a imagem de Marco Aurélio ressurge do ventre da terra, que contas podemos nós prestar-lhe?
[A ele ou a qualquer outro homem que, não tendo conseguido vencer a lei do tempo, nos tenha deixado a sua presença, as suas palavras, as suas ideias, o seu ensinamento...]
Em que aproveitámos nós, durante dezanove séculos, o caminho de consciência e dever que desbravou?
Em que transformámos nós, hipócritas civilizados e higiénicos, o seu sólido ancoradouro moral? Humano, familiar, social, político...

Muitas vezes regresso à leitura dos Pensamentos de Marco Aurélio.
À sua serenidade, à sua simplicidade, à proposta da plenitude possível numa vida passageira.
Tão diferentes na dignidade das fórmulas de pacotilha para uma vida alegre, que nos sitiam.
Tão diferentes em humildade das sentenças sobre passado e futuro dos pensadores distróficos que nos acossam.
Tão diferentes em generosidade das ideologias informais que cegam os nossos olhos e nos levam titeritados...
...Dezanove séculos depois, tão esmagadoramente intemporais.


Para quem por aqui passe - invariavelmente uma pessoa de quem eu gosto - uma prenda.

Não "de mim". Mas, irrompendo gloriosa de uma pesada terra impotente, da voz de um homem são.

Guia de bolso condensado para consultar avulso, a gosto, a tempo.





Objectivos de Vida
"Não te deixes distrair com os incidentes que te chegam de fora.
Reserva-te um tempo livre para aprender qualquer coisa de bom e deixa-te de vaguear sem rumo. Já é tempo de te guardares duma vida de errância.
Bem loucos, com efeito, são aqueles que, por serem intriguistas, sentem o cansaço da vida e não têm um fim a que dirijam os seus esforços e, para o dizer de uma vez, as suas ideias.
"


A Força do Presente
"Fosse a tua vida três mil anos e até mesmo dez mil, lembra-te sempre que ninguém perde outra vida que aquela que lhe tocou viver e que só se vive aquela que se perde.
Assim, a mais longa e a mais curta vida se equivalem. O presente é igual para todos e o que se perde é, por isso mesmo, igual.
O que se perde surge como a perda de um segundo. Com efeito, não é o passado ou o futuro que perdemos; como poderia alguém arrebatar-nos o que não temos?

Por isso toma sentido, a toda a hora, nestas duas coisas: primeiramente, que tudo, desde toda a eternidade, apresenta aspecto idêntico e passa pelos mesmos ciclos e pouco importa assistir ao mesmo espectáculo duzentos anos ou toda a eternidade; depois, que tanto perde o homem que morre carregado de anos como o que conta breves dias, consistindo a perda no momento presente; não se pode perder o que não se tem."



O Controle do Suportável
"Tudo o que acontece, acontece de forma que naturalmente o podes suportar ou naturalmente o não podes suportar.
Se é coisa que naturalmente és capaz de suportar, não protestes, senão mais depressa deitarás tudo por terra.
Lembra-te, todavia, que és naturalmente capaz de suportar tudo o que de ti depende tornar suportável e tolerável; basta que consideres que é o teu interesse ou o teu dever impor-te esse trabalho.
"



Serenidade da Alma
"C
hamas infortúnio para o ser humano aquilo que não é um obstáculo à sua natureza?
Que queres? Aquilo que te sucede impede-te, por acaso, de ser justo, magnânimo, sóbrio, reflectido, prudente, sincero, modesto, livre, e de possuir as outras virtudes cuja posse assegura à natureza do ser humano a felicidade que lhe é própria?
Não te esqueças doravante, contra tudo aquilo que te possa trazer aflição, de recorrer a este princípio: «Acontecer-me isso não é uma desgraça; suportá-lo corajosamente é uma felicidade».
"


Viver Sempre Perfeitamente Feliz
"Viver sempre perfeitamente feliz.
A nossa alma tem em si mesma esse poder, de ficar indiferente perante as coisas indiferentes. Ficará indiferente se considerar cada uma delas analiticamente e em bloco, lembrando-se que nenhuma nos impõe opinião a seu respeito nem nos vem solicitar; os objectos estão aí imóveis e somos nós que formamos os nossos juízos sobre eles e os entalhamos, por dizê-lo assim, em nós mesmos; e está em nosso poder não os gravar e, se eles se insinuam nalgum cantinho da alma, apagá-los de repente.
"


As Coisas Humanas São Efémeras E Sem Valor
"Pensa de contínuo em quantos médicos morreram, eles que tinham tanta vez carregado o sobrolho à cabeceira dos seus doentes; quantos astrólogos que julgaram maravilhar os outros predizendo-lhes a morte; quantos filósofos após uma infinidade de ásperas disputas sobre a morte e a imortalidade; quantos príncipes depois de terem dado a morte a tanta gente; quantos tiranos que, como se fossem imortais, abusaram, com uma arrogância nunca vista, do poder, a ponto de atentarem contra a vida humana. Quantas cidades, se assim podemos dizer, morreram de raiz: Heliqué, Pompeia, Herculano, e outras que não têm conto! Enumera agora, um após outro todos aqueles que conheceste. Este, depois de prestar os últimos serviços àquele, foi posto de pés juntos no leito fúnebre por um terceiro a quem também chegou a sua vez.
E em tão pouco espaço de tempo! Em suma, as coisas humanas é considerá-las como efémeras e sem valor: ontem, um pouco de greda; amanhã, múmia e um punhado de cinzas. Esta minúscula duração vive-a em sintonia com a natureza e chega ao fim com a alma contente: como a azeitona madura que tombasse abençoando a terra que a criou e dando graças à árvore que a deixou crescer."



O Retiro da Alma
"Há quem procure lugares de retiro no campo, na praia, na montanha; e acontece-te também desejar estas coisas em grau subido.
Mas tudo isto revela uma grande simplicidade de espírito, porque podemos, sempre que assim o quisermos, encontrar retiro em nós mesmos.
Em parte alguma se encontra lugar mais tranquilo, mais isento de ruídos, que na alma, sobretudo quando se tem dentro dela aqueles bens sobre que basta inclinar-se para que logo se recobre toda a liberdade de espírito, e por liberdade de espírito, outra coisa não quero dizer que o estado de uma alma bem ordenada.
Assegura-te constantemente um tal retiro e renova-te nele. Nele encontrarás essas máximas concisas e essenciais; que uma vez encontradas dissolverão o tédio e logo te hão-de restituir, curado de irritações, ao ambiente a que regressas.
"



A Fidelidade a Nós Próprios
"De certo modo, o homem é um ser que nos está intimamente ligado, na medida em que lhe devemos fazer bem e suportá-lo.
Mas desde que alguns deles me impeçam de praticar os actos que estão em relação íntima comigo mesmo, o homem passa à categoria dos seres que me são indiferentes, exactamente como o sol, o vento, o animal feroz.
É certo que podem entravar alguma coisa da minha actividade; mas o meu querer espontâneo, as minhas disposições interiores não conhecem entraves, graças ao poder de agir sob desígnio e de derrubar os obstáculos. Com efeito, a inteligência derruba e põe de banda, para atingir o fim que a orienta, todo o obstáculo à sua actividade. O que lhe embaraçava a acção favorece-a; o que lhe barrava o caminho ajuda-a a progredir
."



"O homem comum é exigente com os outros; o homem superior é exigente consigo mesmo."

Marco Aurélio - Pensamentos
(via Citador.pt)

08/08/08

A Grande Festa


Estou a assistir em directo à grande festa da inauguração dos Jogos Olímpicos de Pequim.

Os gritos, o caos, o banho de sangue, a complexa coreografia da fuga à tortura por exercer o direito à palavra ou ao acto, a mentira, a hipocrisia do palco internacional.
Impressionante.
Um espectáculo de uma magnificência e de uma originalidade dignas em retrato da nação que o produziu.


Não me digam que não estão a ver...

Ou pelo menos no mesmo canal...

21/07/08

Mais Ausente



A caminho de férias, ficar ainda mais ausente.

Ausente da ausência.
Numa pausa na pausa.

"Sempre Ausente", do António Variações - Anjo da Guarda; 1983.
Porque há coisas simples muito bonitas.

Apreciem. Muito. Tudo.

Um Ano e Mais Um



Mais um aniversário.
Assinalado fora de tempo. Claro.

Dois anos depois, quase trezentos pretextos depois para marcar presença numa net sem rostos, bolo para todos...

Comemoração não sei de quê.
As dúvidas persistem.
"Qual o propósito?"

Se julgar que algum, estou enganado.
A vida é muito mais larga que isto. Sonhos por cumprir.
E cada minuto gasto é um minuto irremediavelmente perdido.

Se disser que não, como explicar-me?
O que faço aqui? Diluviando letras atrás de letras, fios de palavras, ribeiros de frases, marés de discursos...
...Para nada?
E porque sinto sempre que tenho de voltar?



Cada um escolhe as suas Fúrias.
Mesmo sem se dar conta.

Criaturas das Profundezas, forças de Criação - cuja energia consome e destói.
Parteiras para a vida, mas Ira dos Mortos - insatisfação, nostalgia, remorso e vazio.

Ainda assim, justiceiras brutais, niveladoras da Vida desregrada do Homem falível.

No dia do aniversário coloquei o post da geração blog.
Pode ser que a voragem nos poupe, ao não nos consumir de vez...

20/07/08

Se Querem Que Eu Vos Conte


Posso? Agora?...
Querem que eu conte?

Tem sido bem divertido ver aparecer na boca dos génios do pensamento as palavras "Quinta da Fonte".
Divertido. Surrealista.

Quando a Fernanda Câncio - sim, essa - fala da Fonte, ponho-me eu a pensar: "
Ah, pois, ela sabe do que fala, que a sua santa avozinha morava lá num T2."
Ou o António Vitorino - "
Ah, sim, a caminho das Assembleias Gerais do Santander-Totta é vê-lo a beber mines no Café Mourão."
Ou o Marcelo Rebelo de Sousa. Que como qualquer mortal também tem Google Earth em casa, o que lhe dá alguma noção de para que lado é que a Fonte fica.

Eu sei um pouco do que falo.
Eu sei onde é e o que é a Quinta da Fonte.

...Eu, o Geolouco, a MaisDia, o Jaime, a Loba, a AbelhaMaia, a I.R., o F.F. e tantos outros compadres a quem por razões que nós sabemos tiro o meu chapéu.



Já passei três vezes pela E.B. 2,3 do Alto do Moinho e uma pela
famosa - e até polémica -E.B. 2,3 da Apelação.

O que me fez ir ao baú repescar o Projecto Educativo da E.B. 2,3 da Apelação, cuja elaboração coordenei em 2000, com base na informação oficial disponível à altura.

Dizia então o Projecto Educativo, na "Caracterização do Meio Escolar"...

«A FREGUESIA DA APELAÇÃO:
O nome “Apelação” parece ter a sua origem numa peste ocorrida há vários séculos em Lisboa e arredores. A população veio refugiar-se neste lugar, que não estava afectado, “apellando” à protecção de Nª Sr.ª da Encarnação. Passou a freguesia em 1594. [...]
Em 1991, segundo o censo efectuado, tinha 3419 habitantes. Com base na actualização dos cadernos eleitorais de 1998, calcula-se que a população da Freguesia seja de 9000 habitantes, tendo já em atenção os novos realojamentos da Quinta da Fonte. A Freguesia da Apelação tem uma elevada densidade populacional, sendo superior à média do Concelho, [...] com forte grau de urbanização. [...]
Praticamente não há população a trabalhar no sector primário, no entanto o sector secundário ocupa 51,6% e o terciário 46,9%. Predominam os operários industriais, tendo grande peso os indiferenciados – as actividades ligadas aos serviços pessoais e domésticos absorvem um grande número de postos de trabalho.

OS BAIRROS DA APELAÇÃO[...]
O BAIRRO DA QUINTA DA FONTE

A Urbanização da Quinta da Fonte é um empreendimento composto por um total de 776 fogos, destinados a realojamento. Pertencendo a maioria dos fogos à Câmara Municipal de Loures.
Metade dos residentes são provenientes da freguesia do Prior Velho, do Bairro Tete e da Quinta da Serra. 20% são provenientes da Quinta do Carmo, Freguesia da Portela. Os restantes 30% provêm de outras freguesias. Consequentemente, verifica-se uma grande diversidade socio-geográfica da população residente.
Há que considerar também uma grande diferenciação etnico-cultural que, segundo estudos feitos pela C.M.L., apontam para uma presença de 40% de famílias de etnia africana, 39% de famílias de etnia cigana e 21% de etnia branca. Numa análise por nacionalidade dos indivíduos residentes, predomina a nacionalidade portuguesa (71%), embora coabite com diferentes outras: cabo-verdiana, guineense, são-tomeense.
Segundo os mesmos estudos, a população idosa representa apenas 4% do total de indivíduos e 79% da população tem até 34 anos.
É de salientar que se verificam baixos escalões de rendimento, nomeadamente devido ao fraco grau de escolaridade, às baixas qualificações profissionais, ao desemprego e vínculo laboral precário. Numa análise por agregado familiar, o escalão de rendimento mais representativo é o de 55.000$ - 100.000$00. [...]
A população activa desenvolve a sua actividade profissional na venda ambulante (maioria), na construção civil e em actividades ligadas a serviços domésticos e de limpeza.»




Uma povoação centenária de perfil rural avassalada nos anos 90 pela implantação de um maciço populacional edificado; uma sub-sociedade implantada mas não harmonizada ou integrada que desde então tentou o equilíbrio da influência e dos espaços; uma força de trabalho desqualificada terrivelmente vulnerável à instabilidade socio-económica; uma comunidade com as virtudes e os vícios de uma juventude em risco.

Um caldo inconsistente que fervia já assim há quase dez anos atrás...

Agora, tiros, agitação, choque das boas consciências.



Pude dizer no outro dia, no Fórum TSF, que antes de tudo há na discussão superficial da Fonte muita contaminação por asneira (talvez deliberada).

1º - "Esta foi uma rixa pontual. Apesar das tensões vividas no bairro, este é um cenário atípico."
Não, não é. Sei-o e afirmo-o. E mesmo quem fingisse que não o saber não poderia iludir notícias como as de Março do ano passado, com "carros incendiados e tiros disparados" na Fonte, por "jovens", durante a noite.

2º - "Estes foram desacatos provocados por desavenças entre vizinhos, que como problemas pessoais não podem confundir-se com choques rácicos."
De facto não podem. Mas porque os conflitos raciais descambam em tiroteio e as "desavenças" acabam como há algum tempo atrás com uma larga saída da urbanização de ciganos desavindos entre si.

3º - "Os moradores da Fonte são vítimas da sociedade."
Em certa medida. Apenas.
O realojamento destes moradores foi feito em condições sociais a muitos títulos condenáveis. Mas não é menos verdade que foram - em grande parte - resgatados da miséria sanitária da vida que levavam em bairros de lata.
Atingido por estes um patamar de condições básicas de vida, competia-lhes - bem entendido, aos que nunca o fizeram - lutar pela fuga a uma dependência crónica dos rendimentos garantidos que eu pago (90% desta população, avançaram os jornais).
A actividade da(s) "venda(s) ambulante(s)" de ciganos não os auto-qualifica para exigir o que alguns moradores esforçados e honrados (ciganos ou não) exigem ao poder tutelar.
A importação a grosso de famílias africanas - com a conivência de um Estado relapso - até ao vigésimo grau de parentesco, para fogos e urbanizações que não expandem, não revela qualquer capacidade da parte deste grupo social de conceber para si mesmo um plano integrador na sociedade com condições mínimas de bem-estar.
...E miúdos que vão à escola receber a única refeição decente do dia, apenas senhas para o passe, o apoio financeiro da Acção Escolar, uma palavra de conforto, o conselho básico de higiene, são factos diários que competiria a estes grupos acautelar.
Dar o peixe e a cana e pôr a mesa e pré-mastigá-lo e vê-lo ficar na borda do prato? É demais.

4º - "O poder político tem estado atento ao isolamento social."
Em situações destas apenas releva se o problema está resolvido ou não.
Se em Loures o Presidente da Câmara foi politicamente colhido pela situação como que por um touro, também merece o que lhe acontecer. Dizer que lhe tem dado "atenção muito especial" é não dizer nada. Confessar-se "convencido que alguns problemas que surgiram no início do realojamento dos habitantes da Quinta da Fonte estavam solucionados" é invocar uma inadmissível ignorância. Recordar que "há pouco tempo numa festa na Quinta da Fonte [...] tudo estava tranquilo e pacífico" é de uma pobreza demolidora.
Se o Presidente da República vai à Apelação para as fotos e para as palmas validar a mudança da realidade, é ele que leva os tiros que só resvalam nele pela baixíssima qualidade da nossa imprensa. A intervenção dos jovens é fulcral, mas "têm conseguido melhorar o ambiente na freguesia e no bairro da Quinta da Fonte"? Dependerá deles? E que prtessão tem feito o PR para provocar respostas eficazes?
Se o ex-PR Jorge Sampaio diz com o descaramento superior de um Presidente da Aliança para as Civilizações da ONU que "os eventos ocorridos neste bairro não surpreendem pelos problemas que se vêem há alguns anos relacionados com habitação, escolaridade, segurança social e apoio social e profissional destas pessoas", importa confrontá-lo com os dois mandatos na Presidência e a mesma questão que se coloca a Cavaco Silva.
E sobre as culpas dos Governos sucessivos?, e sobre as deste "Governo"... tanto haveria a dizer.



E o resultado é que como sempre estamos desamparados, estamos sós, estamos mal conduzidos e mal defendidos pelos nossos eleitos.
Como sempre todos são vítimas e ninguém é culpado de nada.
Como sempre a "informação" é espectáculo, mais que responsabilidade. E as tretas derrubam qualquer resistência - dizia a Governadora Civil de Lisboa "Será dado tempo às partes para se acalmarem"...

Como sempre a Natureza se encarregará de encontrar uma solução.
neste caso como a do organismo preponderante englutir um menor.

Não quer dizer é que vamos no caminho certo.
Ou em qualquer caminho que seja.
Apenas o de deixar a Natureza englutir grupo a grupo entre si, até à aniquilação total.

Única coisa que cinicamente se aproveita: a bofetada àqueles que maquinalmente apelidam tudo e todos de "racista" por mera expressão de opinião franca.
Esses andam caladinhos, depois do deboche verbal dos últimos dias trocado entre "os ciganos" e "os pretos".

A este assunto, ainda se há-de voltar.
Por força das circunstâncias.

19/07/08

"Ginjando Pela Rua"


Encontrei no Mais Dia Menos Dia um post engraçado.
Sobre uma gravíssima aleivosia gramatical que por aí desfila de salto e cabelo solto...

"Gravíssima", entenda-se, aos olhos de quem a vê.
...Ou, melhor, de quem a perceba.

Daí a graça do post.

Já muitas vezes dei por mima a correr com os olhos a ementa de um restaurante, um folheto de instruções, um texto publicitário, os movimentos de lábios de um falador, com olhito inquisitório, na ânsia maquinal - mas benévola - de topar a construção, a falha de concordância, a falta de pontuação, um lapso de ortografia,...
...Como descrito do texto.

Sei que muita gente engrossa esta fileira da Língua.
Do respeito, da atenção, da defesa, do combate. Mesmo sem especial formação, mesmo sem obrigação.
Mas essa comum tarefa de zelar pelo Português acaba em obsessão para o prof de uma Língua.
É mais forte do que nós.

Lembro-me de um caso em Óbidos. Na última Chocolatada,



Em que fui a um café. Em que fiz o meu consumo. Em que o trouxe ensacado.
Depois do que fora, à porta, fiz um compasso de espera já não sei por que motivo.

E, claro, de saco na mão, lá começou o escrutínio...


E deparou-se-me aos olhos uma coisa do outro mundo - ainda que camuflada.

Duas "ginjas" apregoadas. Num papel de tom diferente...
...Que me apressei a escavar.



Revelando a escavação que onde as "ginjas" se apresentavam, já outra coisa morara:



as "gingas" de um idiota.

Não faço ideia o que interesse topar com um tal achado.
Decerto, menos que nada.

Mas mais uma vez demonstro, à científica exaustão, que mais que estar no ensino está em nós a profissão...

18/07/08

O Porco do Futebol


Lembrei-me outra vez (...como se me tivesse esquecido) porque é que não olho para o futebol como a generalidade de um País embasbacado pela bola. "Benfiquista desde pequenino" - como o outro - sei que não mudo de camisola.
Mas também sei que isso das camisolas não me leva nem a deitar dinheiro à rua nem sequer a perder horas de sono ou de vigília. (Apenas uns minutos a escrever posts...)

Porque a nobre de uma coisa lá qualquer sobre "desporto" e "competição" e "clubes" e tretas, não é mais que uma memória colada a fotos de homens de outros tempos, de bigodes retorcidos de equipas de ciclismo.

Hoje o futebol é, principalmente, uma rematada pocilga.

Entre a podridão das negociatas entre clubes, dirigentes, empresários de jogadores, patrocinadores, federações, ligas, autarquias, governos, instituições internacionais e outros que mais, dificilmente sobressaem ilhas de noventa minutos semanais em que o futebol agonizante esperneia atenção.



Que se possa conceber anos a fio dirigismo desportivo sinónimo de práticas irregulares, ilícitas ou criminosas impunes, é inaceitável.
É inaceitável que estruturas clubísticas exerçam
impunemente mandatos de disputa de uma coutada tolerada de influência e manipulação.
Não se pode aceitar a simulação da purificação da bola pela perseguição cirúrgica a indivíduos singulares.
Como não se pode aceitar o gozo transcendente do sistema legal por esses mesmos indivíduos, intocáveis porque participantes de uma orgia muito coloridamente concorrida.
É inaceitável a triste figura de usar estratagemas baixos e suicidários para compensar fracassos e impotência para afirmar-se desportivamente no momento e tempo certos.
...
E ninguém que lhe ponha a mão. Porque não interessa a ninguém com poder que se lha ponha.

Por isso impressiona a javardice desse mundo.



Ainda assim a pureza dos adeptos, à mistura com alguma ingenuidade e um colossal gosto por telenovelas e bonecos, leva muitos fervorosos a seguir cegos pelas cores os clubes e as caras.
A criar facções, fábulas e fé numa coisa que não os alimenta nem os favorece.

Admito que - numa lógica de quem vai ao cinema ou ao Oceanário - possa gostar-se de ver bola, que seja um passatempo, um interesse, uma curiosidade enciclopédica, uma fixação, uma mania.

No meu caso, como não gosto assim tanto de confusão mal explicada entre realidade e ficção, verdade e simulacro, acho - alguma - piada a isto e, como as pessoas normais não se preocupam com as suas próprias escolhas, eu também não e passo em frente.

16/07/08

Em Exame - O Resgate da Tropa Fandanga

(...Sim, Ainda...)




O Mundo é redondo.
O meu e o nosso.

E as ideias e os factos rodopiam numa órbita que - se estivéssemos totalmente despertos - nos serviriam de bandeja o confronto e o contraste entre todas as coisas que passaram e todas as que acabarão por vir.

"Exames Nacionais do Ensino Básico?"
"O Resgate do Soldado Ryan!"




Em 1998, um filme esmagador de Spielberg - ainda na memória de todos - contava a história real do Capitão Miller (Tom Hanks), do seu 2º Batalhão de Rangers, do épico Desembarque Aliado na Normandia a 6 de Junho de 1945 e de uma bizarra missão recebida no cenário de combate.

O resgate para a segurança do lar de um jovem soldado, James Ryan, que o Estado Maior Americano decide devolver aos braços da dolorosa mãe...
...Que perdera sucessivos, na torcionária Guerra Mundial, os seus outros três filhos.



Com o que de absurdo tal encerra.

Como se conciliam na cabeça de homens comuns o propósito violento e glorioso de desembarcar na Europa Continental para derrubar o exército nazi e o propósito benévolo e banal de correr a paisagem francesa à procura de um homem para salvá-lo?
Como se conciliam na cabeça de homens comuns a salvação imperiosa da vida de um homem e o risco da vida de todos os outros oito que o procuram?

- Tensões de um grande argumento. -


"O Resgate do Soldado Ryan?"
"Exames Nacionais do Ensino Básico!"

Segundo o Ministério, todos os dias nesta terra de Deus 170.000 professores abordam as costas da Educação em "higgins" apinhados, tensos e inquietos, numa moderna Normandia.
...Com o equipamento e o treino considerados adequados, adivinham que nem um nem outro garantem o sucesso da sua perigosa missão, aguardando nas frágeis barcaças oscilantes que rasgam o espaço o sinal do desembarque e do confronto...

Cada professor, inseguro, impotente, vulnerável, expectante, obriga-se a confiar a sua vida aos camaradas de armas - que sabe poderem falhar sob a pressão, sob o cansaço, sob o medo, como ele próprio - e numa Providência abstracta cujas regras dificilmente entende, única entidade que pode no último momento poupá-lo ao holocausto.

Todos os dias mais de 170.000 professores galgam em corrida e adrenalina os passadiços tombados sobre a água baixa das praias da Educação.



...Na esperança infundada e inconsciente de ganhar ali a batalha que lhe cabe - e outra, e outra, que se lhe seguirão - de uma Guerra Total em que se joga a Nação, em que se joga o futuro, mas que sente que depende menos de si que de estratégias traçadas na segurança de uma qualquer secretária no conforto de um qualquer gabinete.


E há uma personagem exemplar que para mim se evidencia neste drama: o soldado Daniel Jackson (Barry Pepper).
Atirador furtivo do batalhão de Miller, homem de fé e alma de filósofo.


Quando os oito errantes cruzam os campos da Normandia na busca absurda de um homem a quem vão dar as melhores e as piores notícias da sua vida, Jackson não pode deixar de manifestar ao seu comandante a estupefacção que tem dentro de si sobre os desígnios de um destino caprichoso que não controla.



Jackson reconhece o seu dom divino para a guerra.
Mas não percebe como pode qualquer Força Superior colocá-lo logicamente e ao seu dom natural no local mais improvável para o aplicar.
Numa situação em que aquele aparentemente se torne mais banal e inútil.

"Como seria diferente se o seu dedo certeiro pudesse premir o gatilho infalível não em plena paisagem campestre do litoral de França mas em Berlim, na direcção de um Hitler cuja morte, num segundo, ditaria o fim da Guerra e o reinício da História..."

Este diálogo, é tido em grupo. Em marcha. À laia de um discurso peripatético numa academia grega.
Sobretudo entre Jackson e o capitão Miller. Que numa deliciosa coincidência - e para estupefacção dos seus homens e do público - era... professor na sua anterior vida civil.

Jackson expande o seu raciocínio sobre o absurdo que une aqueles homens, numa sequência absurda também ela mas enternecedora.
Em que parece que Miller regressou à sua sala de aula, com aqueles homens ferozes-por-fora pela mão.
Pedindo-lhes uma opinião que adivinha paciente que não será a mais acertada, reforçando Jackson a desenvolver o seu pensamento, observando a correcção da exposição, chamando todos os camaradas a contrapor, e os mais incrédulos à partilha da aprendizagem daquele momento...
Superior, cúmplice, humano.



Quando os professores portugueses partem para missões absurdas diárias como os Exames Nacionais, fazem-no como missão. Que não contestam. Que cumprem.
Como sempre.
E pagam-se da simples felicidade do regressar...

Sujeitos ao risco e à solidão.
À incerteza e à frustração.

Sentem que excluídos das razões de quem ordena não são mais que um utensílio. Meio para um fim misterioso.
Que são carne para canhão. Matéria-prima à pazada numa prensa ou num caldeiro, revolvida e requentada.

Sentem que valem mais que isso.
Que são um recurso apoucado. Que por estupidez ou maldade se mantém subnutrido.
...Conscientes de ser pilares de uma força poderosa que sustenta o bem comum.

Há os que chegam. Os que vão. Uns que se perdem. Os que tombam.
Como em campo de batalha.

Uns dias Jackson - lúcidos e inconformados - outros Miller - serenos e repetindo-se que têm de segurar responsáveis os fiapos de uma manta que não o é.

A Educação.
E a paz?

Com uma curiosidade: os professores portugueses, devido à humidade atlântica, esquecem-se muito amiúde que estão no meio da guerra.

O que frequentemente é fatal.
Para si e para quem está à volta.

11/07/08

Quem Por Aqui Passe... III

Muita gente por aqui passa.
Ou, mesmo se não muita, muita para mim...



...Como aquela minha visita repetida de Carcavelos, Lisboa.
Que sempre me evoca o jogo do que está perto e do que está longe. Uma praia. Vivida aqui. Sonhada Além.