04/12/06

Morte silenciosa

Dia 1 de Dezembro - Dia Mundial da Luta Contra a SIDA.



Quando o maior genocídio do planeta é o provocado pela SIDA, que galga fronteiras e mentalidades, há que pensar e agir.


Mais ainda.
Há que "pensar" e "agir", mas antes ainda fazer uma coisa sem a qual não é possível nem pensar nem ag
ir - ainda que hoje em dia não se pretenda que se faça - que é parar.

Parar para pensar e poder escolher.
Parar antes de agir, para agir em consciência.

Hoje, o "politicamente correcto" (filosofia dos acríticos) aconselha a que não se pare.
"Parar" é uma coerção da liberdade individual de avançar.
"Parar" é uma repressão do impulso criativo e apaixonado do movimento.
"Parar" é uma manifestação de temorosidade, de superstição, de recalcamento, de tacanhez.

Mas o que é certo, certinho, é que o campeão no combate ao flagelo SIDA vem sendo o Uganda. Ah pois!...
O Uganda que irrita tanta gente tão "sapiente", com a sua chamada política "ABC" - "Abstinence-Being Faithful-Condom" (por esta ordem!).
Isto é: num território africano em que grassa a SIDA, a melhor protecção é evitar o contacto sexual de risco ("branco é, galinha o põe"...), não indo ao ponto de abandonar o sexo, o mais seguro é a fidelidade a um parceiro ("cai no chão, fica amarelo"...) e não optando por nenhuma destas, usar o preservativo nos contactos esporádicos!

Evidente e eficaz!...

Ora, esta política "ABC" do Presidente Yoweri Museveni, irritou e irrita muito boa gente. (Independentemente do sucesso de ter reduzido numa década o massacre das mortes por SIDA no Uganda em 2/3!)
É que também o "humanitarismo", também a "ajudinha ao Terceiro Mundo", são por vezes bons negócios; reais jogos de poder. E ninguém quer ser minimizado por uma espécie de País com aspirações a governar-se segundo as suas ideias e práticas, independente da superiormente capaz assistencialidade ocidental! (Por exemplo, organizações internacionais que a gente bem conhece e que movimentam muitos milhões de dólares anuais em "assistência do tipo pronto-a-vestir"!)

Portanto, vale tudo para deitar abaixo a "ABC" - repito: apesar dos resultados notáveis, já a alastrar a países vizinhos - "porque não se adequa à realidade socioeconómica e à estratégia local ideal", "porque está dominada por uma mentalidade religiosa repressiva de comportamentos", "porque age em consonância com o discurso da administração americana", "porque não promove o sexo seguro" (o Uganda distribui anualmente milhões de preservativos gratuitos!...), etc.

Mas o que interessa aos ugandeses é que a sua situação deles continue a melhorar.
Ao mundo, interessa que se apliquem as estratégias mais eficazes, aqui e ali, no combate à disseminação da doença, minorando o sofrimento e a desolação...

E a nós, tão "civilizados" e "pós-modernos" que somos, que possamos aprender sempre alguma coisa com os outros.

Nesta caso, por exemplo... a parar.

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