23/12/06

Natal, a paz e a boa-vontade dos homens da terra.


Certamente coisas da velhice, estas...
Mas isto do "Natal" provoca-me uma exaustão crescente. Uma saturação progressiva e acumulada de anos.

Numa época tão vácua como outra qualquer, cristalizam-se concentrados as intenções e os voluntarismos que durante um ano inteiro, tíbios e egoístas, se retraíram nas palavras e nos actos.
...Que culposamente se retraíram.
E assiste-se esmagado à hipérbole de uma coreografia redentora, aos maneirismos mesclados de tradições e automatismos.

"Festa da família"? Apenas.
Mas que diferença deste encontro de família para qualquer outro?
(À parte de M.A. estar comigo?)
Recordar amigos? Sim. Mas como se eles esquecessem...

O que é realmente frustrante, numa época tão pirilampada e cheia de grinaldas e iluminações kitsch nas ruas e papel de embrulho rasgado mas dobrado a preceito e fitas cortadas e laçadas à medida e enchentes de gente, manadas sem vontade própria a que pertenço por natureza, comedoras de fritos e passas - que o "Ano Novo" funciona exactamente da mesma forma -, é que se pretexta a época com o nascimento de um boneco de massa deitado num semi-círculo também colorido, também iluminado, também decorado, a que ora se condescende na sujidade do desagradável musgo, ora se adere sazonalmente na montagem de umas peças design quaisquer, alusivas "à quadra" mas sem perda da sobriedade.

Frustrante para um homem para quem a referência de Jesus Cristo não se confunde com a do Pai Natal.
Nem o seu legado se mistura com o consumarismo.
Nem as tradições de um povo se confundem com as traições à identidade de uma modernidade global e mixordeira.

O Natal. Que chega e passa.
À medida e usança da vontade de cada homem que o aproveite para tornar-se melhor.

2 comentários:

Anónimo disse...

é a impotência. como explicar a uma criança que nem todos têm de ter luzes na varanda, pais natal alpinistas, árvores a preceito logo no início de novembro, que o tempo dos carros de supermercado a abarrotar não tem de ser igual para todos, que o "ainda não tenho aquele brinquedo" perde toda a sua importância quando existem brechas a ameaçar a babel da nossa existência diária? não, não é desculpa esfarrapada para os nossos próprios intentos envergonhados. é o olhar à nossa volta e descobrir que a nossa diferença é escandalosa aos olhos dos demais como se estivéssemos expostos em campo aberto, à espera do dedo que nos aponta.

Anónimo disse...

ah! esqueci-me de dizer que venci a impotência(?) ensinando a espera porque, afinal, cada coisa tem o seu tempo... não sendo muito consolador, foi o possível.