Posto de forma curta e grossa.
Escândalo para os que olham o PSD como "partido fundador da democracia" (...e histórias da carochinha dessas) e porque a Somague é uma empresa de respeito da nossa praça - como é que se admite acontecer um descalabro destes?...
Escândalo para os que já vêem há muirto tempo a política portuguesa como uma rameira pouco asseada, de quem tanto estas práticas como outras que andem acoitadas não são senão naturais e previsíveis, encontrando-lhe refundados motivos de censura e desprezo.
Eu situo-me entre as duas perspectivas.
Tanto me merece respeito a instituição PSD (caso contrário não me respeitaria a mim mesmo) como à partida qualquer entidade individual, colectiva, pública, privada, nacional, estrangeira - por um elementar princípio de humildade cívica...
...Como - fruto da idade? - já não é de hoje uma profunda desconfiança que nutro sobre todas as interacções sociais e políticas, que desembocam amiúde nestas e noutras brincadeiras.
Que a palhaçada, a sê-la assim reconhecida, mora noutro lado.
Para os mais mais alheados, três recortes de imprensa, à laia de ilustração, para enquadrar a coisa.
Recorte 1. Licínio Bastos detido no Brasil por suspeitas de corrupção, agita as águas do rectângulo, financiador que foi da campanha de Aníbal Araújo, empresário socialista, como deputado do PS no circulo Fora da Europa, nas legislativas de 2005.
(...E tendo cedido instalações para uma sede da campanha presidencial de Cavaco Silva - por quem foi já condecorado.)
E mais uma Somague a compor o ramalhete...
Ora, e como é que isto ilustra a pobreza de mentalidade portuguesa? Em que é que isto faz luz sobre o caminho?
Decerto não pela via popularucha de café e esquina de "apertar com eles", de "cadeia" e cacete, de endurecimento da legislação eleitoral, de financiamento dos partidos e de exercício de cargos públicos.
Para isso, teríamos de ter a montante uma opinião pública que verdadeiramente censurasse as más práticas - quando somos civicamente um povo de bananas e de amorfos - e um sistema de justiça que garantisse a implacável aplicação dos preceitos - não uma justiça-peneira de malha larga, permeável, conivente, amesentada, criminosamente negligente ela mesma.
A solução está à vista e chama-se transparência.
Se o nosso País não adoptar um sistema próximo do americano no que diz respeito à publicidade da esfera de influências em que se move a política, jamais se auto-regulará como podem prever exemplos decalcados à marreta de países civilizados.
Só a obrigatoriedade de divulgação dos "lobbies" que intervêm na vida política por via do seu financiamento dá uma mínima garantia de mudança de rumo.
Não colocando o enfoque na enganadora, manipulável e envergonhada contabilidade, mas forçando uma mentalidade de abertura, frontalidade e coragem na atribuição e aceitação de apoios. Escrutinável à luz do sol pelo cidadão atento.
Quem foram os financiadores queques de um PP populista e extremo? Quem foram os financiadores de um PSD e de um PS "partidos de poder"?, o que deram?, quanto? e em que momentos? Quem e como contribuiu para o cescimento de um PCP "latifundiário do imobiliário"? Quem foram os surpreendentes pais financeiros do único projecto parlamentar de extrema-esquerda da modernidade democrática portuguesa, chamado BE?
Nenhuma destas questões pode já ter resposta cabal.
Mas o futuro vai ainda a trempo. Se ao acabar com o jogo de escondidas acabarmos com as suspeições e em grande medida com as jogatanas.
Claro que podemos passar o resto da nossa vida tal como estamos.
E até acharmos que estamos bem. (Como o acham os próprios partidos.)
Mas a continuarmos assim, a única exclamação legítima saída da boca de cidadãos com alguma consciência e pudor, perante estes e tantos outros casos que hão-de seguir-se não será outra que: "Só!..."
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