SECÇÃO "ESCRITA EM DIA"
Pois é: parece que João Jardim ganhou de novo as eleições da Madeira.
...Numa sequência ininterrupta de quantas vitórias eleitorais? Duas dezenas? Três dezenas?
E não só ganhou ganhou de novo, como de novo cilindrou a oposição - PS à cabeça, reduzido na Madeira ao valor relativo de 15 e qualquer coisa por cento.
Com quase dois terços do Parlamento Regional do seu lado, mais um mandato se avizinha em que, por mais não poder, a oposição definhará, e o Governo Jardim, por poder em demasia, continuará a ignorar tudo e todos.
E ainda que não caiamos no vício do requentamento do assunto político - arrastando-o quatro anos de mandato - será sempre motivo de análise o caso eleitoral, o cataclismo em urna, o genocídio plebiscitário.
Facto consumado perante o qual já nada resta aos detractores de Jardim fazer.
Diga-se em verdade que a campanha foi confrangedoramente pobre.
O resultado antecipado condicionou por completo palavras e gestos, reduzidos a pantomimas e espasmos convencionados...
(João Jardim a chamar "gente rasca" aos seus opositores, que intrinsecamente não potenciariam o normal equilíbrio partidário na Madeira - conceito válido, embrulhado num habitual papel de muito mau gosto.
Jacinto Serrão a acusar Jardim de delapidar a Madeira e de ter sido "colaboracionista do fascismo" (!!!) - sob a trágica dificuldade em admitir o paradoxal desenvolvimento de uma região portuguesa ultraperiférica elevada a um patamar social muito além do alcançado pelo Portugal do contnent.)
...E quando novidades houve, só favoreceram Alberto João.
Paulo Portas, beato, casto e platinado, a apelar perante as câmaras de televisão "à contenção nos gastos" e à "decência" financeira dos malandros do PS e do PSD, ...a quatro dias do final da campanha!
Alguém do BE a reconhecer, mesmo que a posteriori, que os madeirenses "votaram contra uma «lei errada»".)
...E assim se explica a vaga de votos num mesmo sentido.
Não me custa reafirmar que sou um grande admirador de um certo João Jardim, o madeirense.
Ainda que não de outro Jardim, o madeireiro.
Quando o madeirense Jardim "faz três inaugurações por dia" durante a campanha, isto é: quando tem para inaugurar obra sua que enche até ao bordo a agenda de campanha do madeireiro Presidente do Governo Regional, tal tanto não é irrelevante para os ilhéus da Madeira como não o é para mim próprio. Que o assinalo e valorizo.
Quando o madeirense Jardim se demite da Presidência do Governo, sacudindo a pressão a que o machão "Governo" metropolitano o quis sujeitar, merece o meu total apoio e concordância; que perde quando o madeireiro Alberto João se furta a reger-se por regras básicas e universais de funcionamento da democracia, como a definição de um quadro de incompatibilidades para o exercício do serviço público.
Quando a 25 de Abril deste ano inaugurou "uma estrada mandada construir pelo Governo Regional", aproveitando para "assinalar os 33 anos" da revolução, estamos do mesmo lado. Pois denunciou - mais uma de tantas vezes - que "foi para o desenvolvimento dos portugueses que se fez a «Revolução dos Cravos» e não para «retórica mentirosa»". Mas como pode ser suportado o madeireiro que (a ser verdade) teria lamentado a morte de um trabalhador da construção, associando-a aos transtornos de agenda que o acidente provocaria ao seu programa de campanha?
Contudo, admiro Alberto João Jardim. Ah pois!
Um político com defeitos públicos desfraldados e provocantes. Ao contrário de outros, com defeitozinhos privados e mesquinhos.
Um homem frontal. Ao contrário da casta dominante de castrados que nos governa.
Um governante de ideais, projectos e riscos. Ao contrário dos tíbios de verbo fácil que pululam e infestam uma política paralisada pelo politicamente correcto.
Tíbios como aqueles a quem o deputado socialista madeirense Maximiano Martins "acusou" - tíbio, ele próprio - de falta de solidariedade com o PS-Madeira, depois de o PS nacional se ter acobardado a dar a cara no terreno, no arquipélago, ao lado de um Jacinto Serrão que teve uma luta que não pediu e para a qual não estava manifestamente preparado.
Em última análise é aí que ficamos na questão madeirense.
No apoio a um "Governo" mais maniqueísta que razoável, mais contumaz que convicto, mais autoritário que respeitável, mais dividido que plural, apesar das campanhas a seu favor...
...Ou no apoio a um Governo Regional mais autocrata que dialogante, mais populista que popular, mas progressista e não limitador - como confirma o insuspeito Jerónimo de Sousa - da vida democrática dos seus cidadãos, apesar das campanhas em seu demérito...
E a cada um cabe a responsabilidade última de se tecer no que sempre foi e vai continuando a ser o intrincado bordado da Madeira.
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