06/06/07

O estado da Nação

Portugal é um País sem alma.

Não sei se alguma vez a teve. Se a terá perdido no percurso.
Se a saga da Conquista aos mouros, se a gesta dos Descobrimentos, se o projecto colonial, momentos em que Portugal foi epicentro e motor de um mundo atento, nos fizeram crescer de alguma forma, se nos ensinaram algo que já não transportemos hoje. Que nos caracterizasse, que nos estruturasse, que nos guiasse agora - que dolorosamente nos falta.

Defendo que não. Que tal crescimento nunca existiu.

Para o bem e para o mal, um espanhol sabe quem é. Como um francês, um inglês, um alemão.
Sabem quem são porque sabem quem têm ao seu lado. E na identidade, na especificidade que reconhecem no conjunto dos seus, reflectem-se e compreendem-se a si mesmos.

Os portugueses não.

Portugal é uma mole esquizofrénica - confundida amiúde sem inocência com um grupo heterogénio ou plural - de interesses indolentemente aceites como sinónimo de vontades, num delírio auto-gerido de horizonte imediato (na forma e na substância), comprimida na prensa mecânica da apatia.

Mas é pior que isto.

Portugal é um feudo lato de dois tipos de oligarcas.

Os oligarcas da sociedade. Que vão e vêm, em ciclo e em círculo. Que assumem rotativamente relevo na logística do hospício e concertam entre si irmãmente a partilha do naco público. Ladeados cúmplices pelos seus desiguais, apajentados servilmente por uma corte oficial de subalternos, seguidos de perto por uma horda sedenta da sua vez.

E os oligarcas da mentalidade. Os que saídos de vários caldeirões de mixórdia cultural constituem um círculo cerrado de admissão controlada, recruta iniciática, sinalética críptica e quotização periódica. Um pastiche trapalhão de moral, ética, política, estética, filosofia,..., dúctil ao extremo das histriónicas propostas dos seus associados; inflexível perante a heterodoxia dos ingénuos leigos. Que tutelam militarmente a superfície mental e intelectual da Nação, incluso o espaço aéreo.

Dois grupos de oligarcas que são um só.
O dos péssimos portugueses, vergonha da nossa suja e esbofeteada cara, que impunemente ocupam lugar um no nosso meio.

Mas o pior de tudo está ainda noutra morada.

Quando no jogo dum mundo mercantil, global e frio, que desde o início da História põe e dispõe de nações, populações, continentes, trupes de bairro exibem as suas rábulas de ditame paroquial.

Quem manda no mundo - isto é: no exíguo Portugal - é o poder religioso! É o poder da política! É o poder económico!
Sendo que nenhum dos três tem cá a sua origem, escolheu ter cá uma sede, ou delegação executiva.
Daí vivermos na contingência de cumprirmos o calendário da nossa vida em conjunto, de acordo com regras ditadas....

...Mas vivermos ainda cobertos da camada de ridículo de vivermos encenando, representando, aplaudindo ou mesmo sequer tolerando a momice e a monice do corso grosseiro e grotesco da sociedade portuguesa, é a pura crueldade.
Como à indignidade, à desonra, ao desespero, ao derradeiro insulto, acrescer ainda a farsa.

Viver em terra queimada - Pátria estéril - sem presente nem futuro, se a alma não for encontrada.

10 de junho e a Nação.

1 comentário:

Anónimo disse...

pedro

excelente, tu pp. pena que a Alma, a Lusa, se abra, se extenue, faça maravilhar pelo poder da escrita em situações particularmente tristes como esta. o do sentir português que em desgraça. cada vez mais, se deixa cair.

um beijo

AM