11/06/08

"Que Soy Muy Macho!"


A "Política" ainda é como o outro. Agora para machões não há pachorra.
"Política", o ter opiniões, o tomar partidos, o extremar posições, o ponderar, o conceder, o decidir, o toma-lá-dá-cá, a dinâmica, o processo inacabável, as frustrações, as pequenas vitórias pírricas do dia-a-dia... Como se tudo na vida não fosse "político" ou não tivesse de "político" alguma coisa.

Agora machões - sobretudo daqueles de vozinha rachada e rabo-de-fora - tirem-mos da frente, por favor.

Não há paciência para esta gesta dos poderosos de gabinete, que enxameia q.b. todos os partidos, mas que sobressai quando são "poder". Que perante a adversidade mais depressa se exaltam - esganiçados - do que respondem com ponderação.
Mas que perante o confronto directo fogem e vão barricar-se num gabinete de onde mandam dizer "a bola é minha" ou "o meu pai é maior que o teu".

Com um (sector do) País totalmente atónito (e o resto indiferente na sua azáfama entre a gasolineira mais barata e a loja dos LCDs-para-ver-o-Euro).


Ora, para mim, S. Exª o Sr. Ministro da Agricultura, do Desenvolvimento Rural e das Pescas é um perfeito espécime.
- Saliento que à perfeita semelhança do seu Chefe de Executivo, o Exmo. Sr. Pinto de Sousa, que sob a pátina de macho só afronta quem não se organiza, só enfrenta quem não o enfrenta a si. -

É notícia dos dias de hoje a paragem nacional dos
transportadores rodoviários do País, promovidos pela carestia dos combustíveis de parasitados a sangrados...
...Paragem que como qualquer leigo perceberá compromete todo a cadeia de consumo. Não basta que os produtos existam. É necessário que cheguem aos pontos de venda para serem comprados.

Os transportadores bradam que não há condições para desenvolver com um mínimo de margem de lucro a sua actividade, que o "Governo" assiste impávido sem intervir e ameaçam parar o País económico.
O Governo retesa-se na resposta de que não é nada consigo.
Os manifestantes revidam e não desarmam.
O País adivinha que à semelhança do que aconteceu com os pescadores, o "Governo" acabará por ceder, não reconhecendo nunca que pecou pelo atraso e pelo desleixo, que quebra perante a pressão e que é cada vez mais triste persistir
ainda no boneco do "Gobierno Muy Macho".


Quem não se lembra já do fio da história?

Gasóleo a montar cêntimos, pescadores sufocados pelos custos, confronto do "Governo" com uma responsabilidade que tem de ir além do pôr nas mãos do Tempo, as exigências dos homens do mar, a reacção espertalhota do Sr. Ministro Das Pescas e Outras Coisas, a greve à faina, a casmurrice sitiada de não querer ponderar,
os bloqueios, a revelação da concepção calculista da "governação", a destruição de pescado, a miserável cobardia do Ministro a FUGIR aos pescadores, o desabafo do "Governo" que não pode e põe nas mãos do Tempo, a sua chantagem esganiçada, o seu recuo e a pastilha anestésica que se continua a fazer engolir - por exemplo no DN com duas entrevistas ao Ministro numa semana! - de que não vale a pena apertar este "Governo" porque não só ninguém sabe mais que ele como ele não cede a pressões...



Neste momento são os transportes.

Os efeitos da paralisação já se fazem notar na crescente falta de combustível nos postos de abastecimento ou na ruptura no armazenamento do leite produzido em várias explorações que não conseguem escoá-lo e os camiões da Jerónimo Martins tivera
m de sair da sua base logística sob escolta da unidade de intervenção da GNR - como coluna militar, combóio de valores ou transporte de material perigoso que fosse.

O "Governo" reuniu-se com a ANTRAM para "encontrar soluções" para a crise - ainda sem sucesso - e perspectiva a descoberta de soluções giras para sanar o tumulto.
Depois de cenas de agressão e uma morte.
Depois de
um País quase paralisado (e ainda nesse risco).
Depois de não ter mostrado qualquer abertura a diálogo.

A questão é "porquê?".

Porquê persistir neste travesti de uma autoridade sem respeito, numa sabedoria sem senso, num caminho que cada vez mais se afunila a cada nova situação que surge, cobrindo de ridículo o País?
Porquê persistir num expediente que já se viu não ser mais que isso?
- Só se for porque resulta. Porque os portugueses são bons de engodar; ontem, hoje e sempre -

Temos o Diabo na cabrada. O País a degradar-se socialmente a olhos vistos.
E
este caçador é cada vez mais um caçado.



Não esqueçamos que estamos em Junho.
Mês da Ponte de memória. Junho de 1994.

Em que um bloqueio da Ponte Sobre o Tejo por causa de aumentos de portagem para a margem Sul - problema que muitos dizem ter sido mais da esfera governativa que os actuais mas que visava muitíssimo menos portugueses - derrubou um Governo, num episódio de opereta.
(Porque pessoas se uniram. Porque cidadãos não transigiram.)



Era bom que o "Governo descesse à terra.
Que se deixasse de números e de ares. De miudices.
Que não faltasse no contacto com o povo.
Que se habituasse de uma vez a manter os canais de comunicação abertos com a Nação...
...
Uma ponte.

E que figuras patéticas de tão machonas que são, como algumas que por aí assombram, deixassem de falar. De aparecer. De existir mediaticamente.
Entretivessem-se lá na palhaçada uns com os outros...
("Sócrates é divertido fora do trabalho.")

Para machões incompetentes é que não há
mesmo pachorra nenhuma.

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