23/08/06

Este homem é um mentiroso

Jorge Miguel de Melo Viana Pedreira, Secretário de Estado Adjunto e da Educação do Governo de Sócrates - cuja vida e obra auguram um percurso glorioso.

Além dos curiosos timings da saída de resultados e afins da presente fase do concurso de professores, outra anormalidade ministerial grave ocorreu.

Milhares de professores habilitados académica e profissionalmente para a docência de Língua Portuguesa e Francesa pertencentes a Quadro de Zona Pedagógica viram-se ultrapassados na colocação em escolas por colegas seus contratados, isto é, menos graduados.
Por exemplo, ...eu.

...E de forma expedita (sempre a maldita "forma expedita"...) apareceu o senhor Secretário de Estado nos órgãos de comunicação a rejeitar a existência de erro do Ministério na colocação dos professores de Português-Francês e Francês, explicando que "não há nenhum erro nas listas" e que «os grupos de línguas foram divididos», verificando-se que a maioria dos docentes que podiam leccionar Português e Francês optou pelo Português.

O que para quem esteja de fora é assunto embrulhado em pratas com um laçarote extravagante no cocuruto.
Pior é para quem está por dentro e sabe dos pormenores da coisa.

Diz o Secretário de Estado que «os grupos de línguas foram divididos», o que é verdade: por alta recriação deste Ministério o antigo Grupo Disciplinar de Português e Francês, o 8ºB, que englobava os docentes habilitados para a docência de ambas as línguas, deu lugar a dois novos, distintos, o 300 de Português e o 320 de Francês (tendo-se passado o mesmo com as línguas Inglesa e Alemã).
Mas é uma leviandade dizer que "não há nenhum erro nas listas". Não haverá "erros", eventualmente, mas é próprio de quem não tem vergonha dizer que "verificando-se que a maioria dos docentes que podiam leccionar Português e Francês optou pelo Português". É uma safadeza não esclarecer que se não houve "erros" houve claramente "enganos".

Basta seguir este link e ler como o Manual de Candidatura instruía sobre a matéria os professores candidatos a estes grupos:

"- GRUPOS DE RECRUTAMENTO - PRINCIPAIS CONSELHOS AOS CANDIDATOS
Para que a candidatura inteligente seja realizada com sucesso, os candidatos devem prestar especialatenção aos seguintes pontos:
7.1 Os candidatos pertencentes aos quadros dos antigos grupos de docência 8ºA (Português,Latim e Grego) e 8ºB (Português e Francês) devem reportar-se ao grupo de recrutamentode Português, código 300.
7.2 Os candidatos pertencentes aos quadros do antigo grupo de docência 9º grupo (Inglês eAlemão) devem reportar-se ao grupo de recrutamento Inglês, código 330
."

Isto tanto lá está escarrapachado que qualquer pessoa pode ir lê-lo com os seus próprios olhos (vão lá num rápido antes que tirem!...).
Tanto era letra de regra que as próprias secretarias instruíram os candidatos de Português e Francês de Quadro de Zona Pedagógica a colocar no boletim de candidatura a opção pelo Grupo 300, de acordo com as instruções que elas mesmas receberam dos serviços centrais, ...e ficar à espera do que o Ministério estivesse a cozinhar.
E quem é que arriscaria ir contra directivas e deliberadamente não "realizar a candidatura com sucesso"?

A anormalidade do caso dá-se quando os candidatos Quadros de Zona Pedagógica foram instados a concorrer assim, de acordo com as instruções escritas, e os seus colegas em regime de contratados foram deixados à liberdade de concorrer como mais lhes aprouvesse.
Resultado: 600 professores do QZP (…dizem eles mas não acredito que sejam tão poucos) ficaram por colocar nesta fase do concurso, ultrapassados pelos seus colegas, menos graduados, que puderam escolher os grupos mais vantajosos para colocação, e milhares de outros, tendo obtido afectação, não foram colocados em escolas da sua opção, a leccionar no Grupo Disciplinar de Francês que prefeririam, para o qual estavam habilitados.

Mas não. Prever e prevenir esta ocorrência era demais.
Era pedir demasiada lógica, exigir demasiado sentido a um Concurso de colocação de professores tradicionalmente indolente, trapalhão e catalizador de uma faceta gangrenosa com que o Ensino se debate.

Por isso, (onde é que eu já escrevi isto?...) o que é que eu tenho a agradecer a esta gente? A sua competente vigilância e labor?

Devo sentir-me em dívida para com quem me diz em público que “está convicto” de que “será encontrada solução para os docentes que agora terão ficado com horário zero” (os tais professores que por exemplo após uma década de profissão não foram colocados pelo Ministério da Educação), se o cavalheiro é objectivamente parte do problema que eu tenho de ver resolvido como cidadão e profissional do Ensino?

O período de afectação dos professores do Quadro de Zona Pedagógica decorre até ao final de Setembro", repete o senhor, insistentemente, "não haverá prejuízo de carreira" para os docentes...

Sinto que no caso devo dar o benefício da dúvida, acreditando estar perante alguém que que não sabe mesmo o que diz e da gravidade de o dizer.
Porque temo seriamente que este homem não seja apenas e só um mentiroso.

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