12/04/07

Senhor Pinto de Sousa: Forte em Chocolate


Muito bem... Por força da boa educação e do bom-senso, deixei o Primeiro Ministro falar primeiro; agora falo eu.

Rola pela praça pública o Ovo de Colombo da vida académica do senhor engenheiro técnico (ai que mal que soa...) Pinto de Sousa.
Teve irregularidades?, não teve?, favorecimentos?, promiscuidades?... Pesa a polémica no que é a sua governação?, interessa sequer o tema ao País?

Como eu o vejo, muito se resume à epifania que tive ao pequeno-almoço: a vida académica do senhor Pinto de Sousa é uma caixa de Chocapic...

...Um autêntico "formato conveniência".

Não me meto entre o Ministro do Ensino Superior e Marques Mendes.
(Um, que subserviente
e regozijadinho louva o Pinto de Sousa-aluno "de certa maneira exemplar", outro, delirante, que clama por "investigações independentes" à procura de nada.)
Tenho uma opinião própria.

O confrangedor número do serão de ontem foi uma humilhação.
Mas muito menos para o Primeiro-Ministro que para um País incrédulo e chocado.
Ver o chefe do "Governo" despejar os bolsos do seu passado sobre a mesa da opinião pública foi espectáculo degradante que nunca esperei vir a ver.
Num formato absurdo e insultuosamente vendido ao espectador como "entrevista-de-balanço-de-dois-anos-de-mandato-porque-até-agora-o-PM-não-tivera-agenda-e-para-piorar-feita-por-jornalistas-pagos-pelo-próprio-Estado-em-que-aproveita-para-de-passagem-dar-umas-dicas-sobre-a-escandaleira-em-que-se-vê-envolvido".

Mais confrangedor ainda, resultar a triste emissão da total inépcia do Primeiro-Ministro em enfrentar a borrasca que se lhe formou sobre a cabeça.
Primeiro persuadindo a imprensa de que "não havia notícia" - fiando-se na sua influência -, depois dissuadindo a imprensa de dar notícias sob ameaça de "processos legais" - fiando-se no seu poderio -, finalmente refugiando-se no silêncio de um esquecimento que acabou por não acontecer - fiando-se na sua inteligência.
Num total fracasso de gestão.

E o que resta é Chocapic.

* Sócrates escolheu a UnI para acabar a licenciatura por "ficar perto do ISEL" (as severas dificuldades de mobilidade que toda a gente lhe conhece assim o ditaram);
* Escolheu a UnI para acabar a licenciatura pelo "prestígio da universidade" "pelo menos naquela altura" (enquanto sacode a responsabilidade pela sua bagunça de secretaria);
* Cumpriu um plano de estudos talhado à medida da sua "turma", a que um professor ministraria quatro cadeiras e um outro Inglês Técnico, "resumido a duas folhas manuscritas e com a menção quase ilegível de algumas disciplinas, sem data nem assinatura";
* Cumpriu o plano de estudos, ministraradas quatro cadeiras por um socialista duas vezes integrante de "Governos" PS com o senhor Pinto de Sousa (primeiro como co-integrante, depois por si próprio admitido no "Governo"), e a última pelo próprio reitor da universidade, Luis Arouca, disposto a excepcionalmente dar uma cadeira que nem sequer seria curricular;
* Recentemente Luis Arouca dizia à imprensa "nunca ter dado qualquer aula nem feito qualquer avaliação a Sócrates";
* "Frederico Oliveira Pinto, primeiro presidente do conselho científico da UnI e, na altura, professor de todas as cadeiras de Cálculo das licenciaturas de Engenharia, afirmou nunca ter visto José Sócrates naquela instituição";
* "Frederico Oliveira Pinto adiantou que o processo de licenciatura do primeiro-ministro decorreu sem o seu conhecimento, uma vez que o plano de equivalências e de estudos de Sócrates «não foi submetido a apreciação de qualquer órgão académico»".
* O diploma do senhor Pinto de Sousa foi emitido num solarengo Domingo, com assinaturas de Luís Arouca e de sua filha - reitor e chefe dos serviços administrativos da UnI, respectivamente;
* O senhor Pinto de Sousa disse não se lembrar já dos seus numerosos dois professores da UnI, quando confrontado com as "especificidades" da sua formação;
* Os documentos que provam a licenciatura de Sócrates, exibem o nome do aluno "manuscrito sem quaisquer referências adicionais, apenas com uma rubrica dos professores das cadeiras";
* Luís Arouca, reitor na UnI, praeclaro e acumulante docente de Inglês Técnico do senhor Pinto de Sousa, forneceu aos jornalistas versões variadas e incompletas do que seria o "dossier da licenciatura" do aluno na UnI - de uma das vezes faltando documentos com a identidade dos docentes das suas cadeiras, de outra pautas de classificação que contrariavam as do certificado de habilitações final.

Irregularidades?, favorecimentos?, promiscuidades?...
Uma intrincada história, com evidente "formato de conveniência" e absoluta falta de clarificação.

Há quem sugira que a culpa deste bailado é dos blogs. Que na inconveniente modernidade levantam lebres como esta sem medos de donos que não têm, com os meios incensuráveis que a net coloca à sua disposição.
Há quem sugira que a culpa é da imprensa. Que se apega a histórias da vida privada das figuras públicas em vez de às "grandes questões".
Há quem desenterre as "cabalas", sempre úteis nestas ocasiões.
O que é estranho é que poucos admitam desbragadamente a pouca-vergonha latente em toda esta saga.
A evidência da mixórdia que vai na sociedade portuguesa, manietada por facções de uma mesma malfeitoria transpartidária, tentacular, contaminante, cleptómana e supralegal, cujo aparecimento desdenhoso mais uma vez ocorre em plena luz do dia em completa impunidade.

Em última análise, cada um acredita no que quer. No que está formatado para acreditar. Como lhe é permitido admiti-lo.

Mas para quem milita fielmente desde há dois anos na virtude do senhor Pinto de Sousa - cimento de um PS fracturado e céptico, garante de um "Governo" frágil e hipercentralizado - homem novo da política, da democracia, do civismo, perfeito de corpo e de espírito, aconselha-se uma pausa. Uma reflexão honesta.

A quem desde há dois anos escuda o senhor Pinto de Sousa das línguas do mundo com a superioridade das suas intenções e a lisura das suas práticas, escudando na sua altiva figura a pequena fé pessoal, aconselha-se o recolhimento. Pudor nas palavras e nos actos.

Porque se é certo que o Primeiro-Ministro saiu "vitorioso" da espécie de prestação política televisiva de ontem - pelo menos asssim a imprensa obediente o declara e as rigorosas sondagens telefónicas confirmam -

não é menos verdade que a reconstituição da sua carreira pública permite a construção do perfil de uma personalidade deformada.
Ou não indo mais longe, pelo menos tão deformada como a de demais protagonistas políticos; o que à sua escala divina já é mau o suficiente.

Cada vez mais somos uns tablóides. Que chafurdam no escândalo pelo ruído e pela poeira mas que não lhes retiram, por mais óbvias, as severas e dolorosas consequências.
Uns brasileiros. Rendidos ao princípio que já ousamos verbalizar do "desde que ele governe"... Abrindo desavergonhadamente a porta da condescendência à transgressão e à indignidade. Actualizando a paleta da ética, raspadas as cores secas da vigilância e da censura, e deixado em branco o que cabe a cada um de responsabilidade e crescimento.

Contrariamente à banalidade do senhor professor doutor engenheiro calista picheleiro Pinto de Sousa, que dava os que "
temem as tempestades" a acabarem "rastejando", apetece-me perguntar como será o céu de quem passe uma vida inteira a rastejar, a serpentear invertebrado por entre os pés, as pedras e o esterco do caminho...

Pesa a polémica no que é a sua governação?
Por mais que viva Pinto de Sousa, nunca se dirá decerto de si o que se pode dizer hoje de Sousa Franco.

4 comentários:

dia-a-dia disse...

Eu já estava a estranhar a demora deste post... :D

Só uma curiosidade: inverte lá a caixinha do Chocapic e conta-nos da data de validade impressa. Ainda temos de esperar muito tempo?

;)

dia-a-dia disse...

Ah! E quanto ao polvo... não tenhas dúvidas.

;)

Anónimo disse...

olá professor, tal como o professor pediu está aqui o meu blog:

http://shadow-turbo.blogspot.com

Unknown disse...

O pântano anunciado em 2001 alastra, nauseabundo...