23/01/07

Ele fala, fala, fala... Ainda!

Ele há temas, tão sensíveis e "fracturantes", que a sua análise e debate sempre acarreta a virulência e a acutilância de opiniões.

Há-os.
Como o aborto.

Por essa razão o Ex-Presidente da República, Dr Jorge Sampaio, não conseguiu conter-se, vindo a terreiro dar o seu contributo cívico.

Acontece que sabemos bem de quem falamos: o lacónico, profundo e relevante Dr Jorge Sampaio.
Homem que tanto nos habituou ao caco e à linearidade das suas intervenções, durante dez anos de mandatos.

O distinto cidadão (agora de corpo inteiro, já sem necessidade de recurso ao "panamá do cidadão" ostentado na cabeça) diz-nos que está "
«espantado» e «triste» com alguns dos argumentos apresentados a propósito do referendo sobre a Interrupção Voluntária da Gravidez" - "aborto", em português corrente.
«Numa perspectiva de observador", fica "um pouco espantado, um pouco triste com alguns argumentos, já que não é a primeira vez que este debate se faz», acrescenta.

Bem, por um lado, dou-lhe razão. Ou dá-ma ele a mim.
"Já não é a primeira vez que este debate se faz". Como não é a primeira vez que esta campanha é suscitada. Como não é a primeira vez que este referendo se realiza....
O que (como eu digo sem descanso) os torna requentados, redundantes, racionalmente translúcidos. ("Mais valia marcar uma data para votar e passar por cima desta «campanha»!", deixei eu escapar numa conversa noutro dia...)

Parece é divergir o Dr Sampaio na obrigação de "diversidade", de "variedade", dos argumentos hoje esgrimidos.
(O que é espantoso, discutindo as mesmas pessoas os mesmos assuntos nos mesmos
termos de há oito anos atrás!)
Nesta campanha pré-referendo o que o Dr Sampaio queria eram "variedades".

Mas se está tão preocupado que "ao fim de tantos anos de democracia [seja necessário] ter a capacidade de perceber o outro [de forma a] não transpormos algumas fronteiras que não são compatíveis com um debate democrático, sincero e franco», porque não começar o próprio por ter a capacidade de dar-se ele mesmo a perceber ao "outro"?

Por uma vez na vida, falar a direito, dizer ao que vem, desemerdar-se de uma vez, libertando-se da incapacidade crónica que tem de fazer frutificar as suas palavras!!!

Se continua com aquela mania do "Andem cá que eu quero ensinar-vos uma coisa fundamental sobre a democracia, a sinceridade e a franqueza: «Fico um pouco espantado, um pouco triste com alguns argumentos, já que já não é a primeira vez que se ouvem e se arriscam a ultrapassar algumas fronteiras»", mais vale é
calar-se bem calado e esperar de caneta em punho pelo dia do referendo sem nos chatear a cabeça.

Porque "debate «dignificador»" é cada vez mais aquele em que o senhor não entra.

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