09/02/07

Num mundo sem PC...


Bons velhos tempos aqueles... Em que não havia PC.

Em que não era preciso pensar dez vezes antes falar ou fazer, com medo de importunar uma mentalidade politico-correctamente tão sensível...

Tempos em que a medida de todas as coisas era mesmo mais a consciência de cada um do que a consciência informal hegemónica e sinistramente abstracta que nos rege.

Bons tempos, em que o Herman José cantava "Saca o saca-rolhas, abre o garrafão. Viver sem vinho não presta." e não havia movimentos cívicos nem associações a atirar-se pela janela pela violação dos bons costumes.
Um actor de quem toda a gente referia à data com grande descontracção a bissexualidade, que nunca foi obstáculo à sua fulgurante carreira, e que todos toleram hoje depois de revelada a implicação nos Parques Eduardos VIIs e companhia.
Manda o politicamente correcto...


Velhos tempos em que o "sexista" e "chauvinista" Benny Hill fazia sketches a correr atrás de moçoilas ou sobre um cowboy chamado Halitosis Kid, que tinha um parceiro efeminado, trajado de rosa e envergando malinha, chamado Gay Chevalier.
Um Benny Hill que ainda hoje é tábua de salvação para muitos aspirantes a cómico sem criatividade, que ao contrário dele recorrem ao humor da alarvidade mais grosseira, e graças a ele fazem dinheiro e nome.






Bons tempos em que os Monty Python ensinavam que "não se deve ser mal-educado" no trato com árabes, israelitas, italianos, e outros, gozando com o que seria hoje o politicamente correcto agachamento perante todas as outras culturas, complexados e reféns os ocidentais de uma "Humanidade" congestiva por overdose.


Lá vai o tempo de um Rui Veloso aspirante a vedeta a cantar que o Chico Fininho ia "Gingando pela rua sempre cheio de speed", "com a merda na algibeira".
...Um "speed" que se podia não ser o que parecia, compensava com uma "merda" que não era das que cheirava, mas das que se consomem.
Sem que nada de ruim lhe desse cabo das gloriosas décadas de carreira...


Ou da Tonicha, que nos anos 70 cantava o "Tu és o Zé Que Fumas, tu és o fumador, tu és o mariquinhas, tu és o meu amor".
Sem arrancarem campanhas anti-tabágicas nem ser chamada a desgraçada de homófoba ou discriminatória.
OK, não se pode dizer que a Tonicha não tenha tido uma violenta morte artística...
Mas não foi por isto de certeza.

Ou o tempo de um Paulo de Carvalho que no Fado do Bacalhau do Ary dos Santos dizia "E até aquilo que se faz à mão, sem bacalhau, nunca mais faço".
(Sem comentários...)

Já o politicamente correcto se encarregou de tornear o "Sebastião, come tudo, tudo, tudo", que agora, graças a Deus já não "chega a casa e dá porrada na mulher" na cantilena infantil...

Etc....

Mas o que é que eu quero dizer com isto?
Que antes é que era bom? Que os barbarismos de outrora fazem cá falta hoje?

Não. Nem por isso. Se não evoluíssemos estávamos mal...

Apenas me lembro muitas vezes que essa coisa do "politicamente correcto" não foi inventado para dar felicidade a ninguém.
Parecem aqueles normativos europeus da fruta calibrada: pode estar tudo bichado, não saber a nada, mas à vista até brilha.

Tal e qual.
Os burocratas do pensamento, os tarefeiros da intelectualidade, os normalizadores de laboratório fizeram, está feito.
Belas relações sociais, calibradas, higiénicas, agradáveis ao toque a à vista.

Mesmo que o bicho e a podridão lá habitem enterrados.

"Olha que vais para o castigo!..."

1 comentário:

papidamati disse...

Sem PC ...? Estás a referir-te a Portugal ...? Antes de 1961 com a chegada de Álvaro Cunhal a Secretário-geral ...!?!? LOL
Aquele abraço ...
Bom fim de semana com um cheirinho a maresia no http://www.chapasbatidas.blogspot.com/