18/01/07

Chocapics, Canal Panda e Pentium4

"Qual a relevância das novas tecnologias no processo de formação de uma criança de cinco anos?

Ter cinco anos de vida hoje não será talvez diferente de os ter tido num tempo passado: a fragilidade, a inconsciência das regras da vida, a dependência dos seus maiores, a incerteza do futuro… Mas também a curiosidade, o espírito de aventura, o olhar sem preconceitos, a capacidade ilimitada para absorver em grandes doses o mistério do universo desconhecido.

Características que, conjugadas com um mundo actual em mutação rápida, em vertiginosa evolução tecnológica, se tornam exponenciais e produzem resultados muito interessantes.

Dizia um pai ao filho, a quem permitira rodar consigo o lugar ao computador, numa paragem do trabalho:
– M., o que é que aconteceu ao trabalho que eu estava a fazer? Fechaste a janela?!...
– Não. Minimizei…

Hoje, as tecnologias não têm de ser aprendidas por uma criança de cinco anos. Fazem parte da sua vida. Acompanham-na como um animal de estimação, crescendo consigo. A tal ponto que, além da sua familiarização com estas, se impõe aos pais e educadores uma pedagogia de doseamento, uma formação para a contenção no seu uso, tal a intensa e íntima proximidade com elas.

São diversas as presenças das tecnologias (daria vontade de dizer “novas” e ”não tão novas assim”) na vida do nosso filho, como são diversos os benefícios que delas adivinhamos para a sua aprendizagem e desenvolvimento.

No momento em que empunha um rato de computador e o manipula quase de forma tão eficaz como nós – e infinitamente melhor que a avó! – percebe-se a evolução que a sua motricidade fina sofreu, tal como a sua coordenação espacial virtual num monitor.

Ao rotinar a procura e a escolha em menus do sistema operativo, apreende informalmente o código da organização em subclasses utilizado na gestão de um PC.

Sabendo lançar uma exploração na Internet – reconhecendo o ícone de entrada – e conseguindo no motor de busca pré-definido fazer uma procura elementar de conteúdos (“– No Sapo escrevo «texto editora», faço «Enter», depois carrego no que diz «Júnior» e já está.”), o mini-nauta rasgou a sua entrada numa dimensão infinita de conhecimento de si, dos outros e do mundo, que a sua maravilhosa ingenuidade não lhe permite ainda apreender.

Ao abrir a ferramenta básica de desenho do sistema, e entretendo-se nela rabiscando abundantemente, já não só a motricidade como a noção espacial são estimuladas, mas também a noção de interacção e de intencionalidade na utilização do computador; a noção da capacidade de o utilizador usar a ferramenta-computador para produzir algo (“– Mãe, posso imprimir?...”). E, porque não?, ao usar a ferramenta de desenho, não estará também a estimular a sua sensibilidade estética?…

Igualmente software educativo que aparece no mercado e a que o nosso filho tenha acesso contribui para o seu desenvolvimento de competências: o cálculo, a escrita, o raciocínio lógico, etc.

Mas limitássemo-nos a um mero processador de texto... O facto de poder alterar o tamanho do texto, a sua cor, a sua forma, constituem estímulos simples mas reais à descoberta da composição da palavra e da frase. (Há que referir a idade precoce com que o M. aprendeu as letras do alfabeto e os algarismos, o que lhe confere hoje algum facilidade na “edição de texto” à sua escala infantil, mas em nenhum caso deve ser subestimada a motivação para a leitura e para a escrita que as ferramentas informáticas encarnam.)

E o uso de um DVD, de um vídeogravador, de uma consola de jogos (as tais “não tão novas tecnologias”), todos contribuem para desenvolver capacidades ao nível da autonomia, da destreza, da persistência, da memória, da lógica, do conhecimento do mundo, etc…

Em última análise, da capacidade de sociabilização.

Muito longe ainda da sua adolescência multimédia, a tecnologia é já hoje interesse partilhado pelo nosso filho com a generalidade das crianças da mesma idade. Factor relevante de aproximação e identificação de grupos em construção.

Hoje, as tecnologias fazem parte da vida em crescimento do M..
São-lhe familiares. Intuitivas. Naturais. Como a todas as crianças de cinco anos que lhes têm acesso.

O que coloca sobre os adultos, em especial pais e educadores, uma responsabilidade dupla.
Por um lado a de formar as crianças e os jovens para uma sã e regrada utilização destas, mas ao mesmo tempo a de lhes facultar a possibilidade de as explorar, de as aproveitar ao máximo, potenciando-lhes características e faculdades, ao serviço do seu desenvolvimento. Sob pena de as encararmos menos como possibilidades em aberto mas mais como flagrantes oportunidades perdidas.

Um percurso faseado, até ao dia em que nos aperceberemos que são já os nossos filhos e alunos que têm a tecnologia a ensinar-nos."

S. Nunes
P. Nunes

3 comentários:

dia-a-dia disse...

É que não duvides disso nem por um instante!

;)

Anónimo disse...

"Human Interfaces Guidelines" produzido e editado pela Apple Computer, certamente fará parte da minha lista.

Relativo a "As Grandes Revoluções Contemporaneas"

P.S. Leia, Srª Ministra, leia...

José Leite disse...

Bonito blog! Tiro respeitosamente o meu chapéu!!!