25/01/07

A TLEBS socialista

Não sejam queixinhas e leiam o post até ao fim...


"Era uma vez um absurdo que vivia numa casinha no meio da floresta com a sua mãezinha..."

A história é longa e difícil de resumir.
Mas cá vai.

Uns senhores de um Governo que já lá vai, deram à luz uma coisa chamada TLEBS (Terminologia Linguística dos Ensinos Básico e Secundário) que nem sonhavam que nunca chegariam a ver crescer.

Essa TLEBS nasceu da cabeça retorcida de uma intelectualidade sociopolítica obcecada pela imortalidade histórica, como ferramenta definitiva de formatação da Língua Portuguesa as we knew it.
Graças à TLEBS, todas as pontas soltas, todas as lacunas, todos os equívocos do estudo, do ensino e da aprendizagem da linguística pátria, seriam depurados, aparados fora como excrecências de uma Língua renormalizada, reactualizada e unívoca.

Mas estamos em Portugal. Não esquecer.

Foram arregimentados uma série de carolas das áreas da Língua e Línguística (que reza a história nunca chegaram a encontrar-se no decurso do processo para comparar notas, com o resultado que se viu!) e esgalharam a Nova Terminologia.

Havia que pô-la a andar.

Pelo que o Governo Santana Lopes, da eminente pedagoga Ministra Maria do Carmo Seabra e do descentralizado em Aveiro Secretário de Estado da Educação Diogo Feio, a colocou "à experiência" por três anos.
Nas cobaias do costume: alunos, professores e Encarregados de Educação.

Mas o tal Governo foi, ele próprio, posto a andar e entrou em cena o actual Governo socialista.

Aqui o enredo adensa-se, entre a obrigação deste de dar continuidade à "experiência", a aceitação tácita e voluntarista da herança que aprofundou - deu continuidade à "experiência" e dilatou-a no tempo - o seu apadrinhamento e as barracadas que se seguiram.

Como sempre, o País foi apanhado (por culpa própria) a dormir.
Foi aberta a comporta da "experiência" ao segundo, ao terceiro ciclos de escolaridade e ao secundário, sem ninguém tugir nem mugir.
Foi dada ordem de marcha aos professores de Português e Língua Portuguesa para começar a leccionar a TLEBS no 5º, 7º e 10º anos sem qualquer preparação adequada para o efeito.
Foram editados manuais, gramáticas, dicionários, livros, materiais pedagógicos diversos, sem uma certificação científica da conformidade com a TLEBS - isto é, cheios de bacoradas.
Em suma, foi auto-generalizada a "experiência" a todos os ciclos que inicialmente se previa que abrangesse, sem que o próprio Ministério da Educação tivesse fechado o processo de construção da TLEBS ou, muito menos, definido como seria ministrada e avaliada no trabalho com os alunos.

Depois, finalmente, a "sociedade civil" começou a acordar.
Entre os cientifico-ressabiados, os politicamente interessados, os desencantados, os revoltados, os ignorados e outros que tais, começou a crescer uma onda de contestação que talvez já não se esperasse.
Ameaçando chegar ao Zé Povinho votador. Que é onde reside o perigo dos Governos.

Com cuspo e uns bocados de adesivo, a TLEBS lá foi sendo usada no dia-a-dia da aprendizagem da Língua nas nossas escolas, nos tais anos lectivos.
(Que Desenrascanso é uma pós-graduação dos professores portugueses.)

A graça (?) da coisa é o sentimento de profundíssima insegurança no trabalho quotidiano, numa prática que devia primar pela solidez: a do ensino.
A TLEBS entrou no limbo: nem está verdadeiramente a ser "experimentada" por amostra - já grassa generalizada nas escolas do País e é trabalhada como adquirida - nem está ainda a valer - como não acabou ainda o prazo da "experiência", não se sabe (mesmo) se vingará.

Dizia o Ministério em Novembro de 2006 que não estava tomada uma
"decisão final e definitiva" sobre o futuro da TLEBS, não excluindo "qualquer cenário", "desde a [sua] generalização [...] ao seu abandono ou reconversão total"!
Que, aliás, a generalização só poderia acontecer "quando os professores se [sentissem] preparados e seguros sobre esta opção".
Circulando por essa altura no mercado gramáticas, dicionários, manuais escolares adquiridos e utilizados pelos alunos, e estando na escola a TLEBS a ser ensinada pelos professores, nunca tidos nem achados!

Perante a possibilidade de a TLEBS ser "generalizada" (!!!) aos 4.º, 6.º e 8.º anos em 2007/2008, colocou-se a questão da renovação dos manuais escolares de Língua Portuguesa do 8º ano, que teriam de contemplar a TLEBS, por força de ter sido ministrada já este ano aos alunos do 7º!...
Novo imbróglio.

Com o ovo entalado, o Ministério da Educação produziu então agora um Ofício-Circular singular.

Enquanto se descarta bruta da paternidade da TLEBS atirando-a para o colo dos "outros", enquanto propagandeia o bem social que anda a tentar fazer às economias familiares através de um novo calendário de adopção de manuais, enquanto salienta o espírito de "negociação" das suas decisões (!?), explica que tudo leva o seu tempo, "o
processo de avaliação e certificação tornar-se-ia muito difícil nessas circunstâncias".
Isto é, não há mudança de manuais do 8º ano no próximo ano lectivo.

Restava dizer que não há, não por causa destas razões, mas porque o Ministério da Educação não sabe neste momento o que há-de fazer à TLEBS.

Daí a loucura de se repetir que se está em "experiência"; de com ela a correr "promover a revisão científica da Terminologia"; de nesta altura "promover a produção de um referencial didáctico para a Terminologia Linguística nos diversos níveis de ensino"; de, tendo começado a ministrá-la em Setembro, "prosseguir um programa de formação contínua de docentes para a utilização da Terminologia"; de depois de vendidas toneladas de materiais "permitir a produção de manuais e outros suportes pedagógicos adequados ao ensino da estrutura da língua de forma harmonizada e cientificamente rigorosa"; e de, depois destes investimento todo, "avaliar a eficácia da utilização da Terminologia por parte dos professores no ensino do português", como quem diz: "ver se vale a pena avançar com ela"!!!!!

Estou farto que brinquem comigo.
E com os meus alunos.
E com os nossos filhos.
E com os nossos impostos.
E com os nossos votos.

Mas como estou sozinho nesta revolta, resta-me assinar a petição contra este nojo feito política, ética, "Educação".

Vou assinar a petição online (até fim de Janeiro) contra esta introdução no ensino da TLEBS.

Até porque, como se diz neste Ofício-Circular: "a TLEBS é um instrumento a utilizar [pelos professores] como profissionais do ensino da língua, e não para administração directa aos alunos"!!!

TLEBS?
Que fique o PS com ela, que bem precisa.


3 comentários:

Anónimo disse...

Mais que apoiado!

Anónimo disse...

desta vez nem penses que vais carregar o peso do mundo sozinho... até pq sabes o que penso da dita. enqt orient. tive de a fazer valer embora sp a tenha incutido na perspectiva literária. n ensina a ler, a escrever ou a interpretar. os meus meninos de 12º continuam sem saber mto bem como dividir e classificar orações mas já sabem que as concordãncias verbais são imprescindíveis entre outros, para se fazerem compreender. facultem-nos mais horas de port na carga horária dos alunos para podermos ir além do ensino da literatura e deixem-se de fórmulas linguísticas, arrumadas em compartimentos, fazendo parecer que a Língua Portuguesa são meros conceitos, sem coesão. n porque assim fosse mas pela maioria assim entendida. a dita, como qq outra sua semelhante, n pode ser ministrada em doses, através de umas quantas aulas de gramática. nem mm enqt repres. me preocupei com o andamento e a importância da t... e aqui para nós, o ministério tb n... vejam-se os exames de 12º pq, sim, nem eles sabem como "hádem" de descalçar esta bota.
classificação do post: óptimo!

Anónimo disse...

MT Bom o texto, mas o stor nao escreva tanto que faz mal ao dedos e depois nao pode escrever no quadro :P

JP, Nº12