26/03/07

Os Pequenos Portugueses


A noite televisiva de Domingo foi mesmo um espanto.
Não estivesse o vídeo tão encostado e teria sido coisa para mais tarde recordar...

Poucas vezes uma emissão televisiva terá tido um ambiente tão de cortar à faca.
Várias tinham sido já as dicas de que Salazar ganharia a noite (isto é, de que a RTP - em primeiro lugar - ia ter de engolir um sapo XXL) e todos se foram comportando durante o serão como preparados para que acontecesse o que acabou por acontecer.

Começando pelo evidente pânico de Maria Elisa.
Com a larguíssima rodagem que tem nestas coisas, hesitou, gaguejou em frases de cinco palavras, justificou-se e ao programa diminuindo-lhe o peso da votação que produziria - deselegantemente, diga-se, depois de ter andado meses a impingir ao País a chamadinha patriótica a €0,60...
...Desculpou-se, tentando absurdamente descolar-se do resultado da sondagem que aconteceria no SEU programa - como se hoje alguém normal a carimbasse de fascista por ter abrilhantado a azarada soirée -, chamando a si a resistência cívica ao resultado que a dada altura viu irremediavelmente consumado.
Espectáculo triste.

Passando pelos dichotes dos presentes, muito "antisalazaristas".
Ana Gomes, rudimentar e rasteira.
Leonor Pinhão, supletiva e supérflua.
Odete Santos, endemoninhada e enfadonha.

Acabando no "defensor" de Salazar, Jaime Nogueira Pinto...
(Que partindo do princípio que um homem daqueles não se "obriga" a ir ali fazer um papel daqueles, deve ter tido com a experiência dos meses mais lamentáveis da sua vida.)
...Que procurando defender o indefensável "Grande Português" de Santa Comba acabou por largar uma pérola próxima de "foi positivo para os povos africanos lutarem contra Portugal para obter a independência, porque assim cimentaram uma noção de Estado que vizinhos seus que receberam mais facilmente a independência ainda hoje não têm"!
"- Então munt' óbrigadinho!..."

Um ambiente de hospício coroado com apoteótico final...

...Pingado apenas por uma gota da lucidez do defensor do Marquês, Rosado Fernandes, que perante o desfecho do retrato social deste País disse com as letras todas "A culpa é dos que roeram a corda! Agora aqui têm."
Uma coisa destas, uma espécie de programa que alargou em sondagem, que retraiu para concurso, que terminou apelidado de "passatempo", produziu o resultado mais mirabolante, mais espectacular, mais escandaloso, mais inacreditável, o mais inadmissível em democracia: 60,1% de votos válidos - isto é: perto de 96.000 pessoas - reconhecendo como "Maior Português" um de dois homens cujo ideal político para Portugal foi o de um País agrilhoado.


Episódio sombrio da História que por conveniência de todos a todos convém arrumar como um pesadelo imaterial de uma noite de Primavera.

...E como a sorte dos malandros é muita porque muitos tem a obrá-la, na segunda-feira o DN não trazia senão uma amostra de notícia na primeira sobre o assunto, ...e o resto foi nada.


Hoje, o episódio já lá vai, sem grande alarido, que notícias há muitas, e o que dá dinheiro mediático é vender papel novo e não papel reciclado.

"Mais vale"; acha Portugal.

Que perguntarmo-nos nos olhos que coisa é esta que somos hoje...

Bem pode a RTP insistir em vai-não-vira plantar no header da página do "Grande Salazar" o general Humberto Delgado, que o mal está feito e não dá para desfazê-lo.

Enfim, qual a novidade?
Muito pasto do mesmo, para bucho de Pequenos Portugueses.

1 comentário:

desculpeqqc disse...

É infinita a estupidez do português!

Só há uma conclusão a tirar desta palhaçada:
O resultado obtido deve-se sobretudo ao que se fez (e ao que não se fez), desde o 25 de Abril até hoje!
Agora e para não destoar, andamos todos perder mais tempo a dissertar sobre o assunto.