Foi Domingo, e como de costume Marcelo Rebelo de Sousa lá perorou sobre tudo e nada com aquele ar um pouco louco de quem está em privação de sono desde a adolescência.
Estou à vontade para falar do senhor, porque continuo a gabar-lhe as qualidades de espírito que ninguém pode contestar, como lhe recrimino graves defeitos de personalidade que sempre lhe apontei.
Não precisei do número da saída da TVI e das "pressões" que o pobrezinho teria sofrido a dada altura da sua indefesa carreira de opinador vindas dos papões da política para passar a dizer bem dele, nem me modela o juízo sobre a sua crónica este ou aquele sentido das suas derramadas opiniões.
Consumo-o com moderação.
O senhor falou esta semana (já cá faltava...) sobre a marcha de professores de 5 de Outubro.
Banalidades à parte (acha muito bem que se reforme o ensino em dadas partes - claro! -, que se afinem os processos de avaliação de desempenho como forma de diferenciação - óbvio! -, que a Ministra está a errar ao tratar os professores como responsáveis pelo estado da educação - evidente! ) deu a sua sentença sobre o futuro imediato e seus desenvolvimentos.
Disse ter dúvidas sobre o benefício prático e negocial das greves alinhavadas. Já somos dois.
Que não está certo de que os professores ganhem assim para a sua causa alunos e pais. Escrevi-o eu aqui, não há muitos dias.
Mas a opinião do senhor sobre a reacção mais inteligente dos professores face à situação actual é que foi de truz.
Segundo o opinador, seria fácil...
Uma vez que o processo que o Ministério da Educação pretende implementar é tão complexo e burocrático (nomeadamente na questão das "avaliações" dos docentes), o melhor que os professores faziam era deixar aprovar e pôr em campo o novo ECD e mais tarde seria claro para todos que tinha parâmetros desadequados (!!!).
Bom, o senhor acha que quando há propostas desajustadas, o povão deve deixá-las introduzir, correr, borregar, e só depois alguém pronunciar-se?!...
Se o senhor reconhece que a linha de discurso do Ministério da Educação tem sido a da culpabilização na rua dos professores, sugere que estes aceitem o que lhes é imposto, como lhes é imposto, com a fundamentação com que o é, decorrida de um princípio tácito de que há uma bandidagem que tem de levar mão pesada?
Só por brincadeira!
Não foi o senhor que à frente de um partido político se opôs um dia a um Totonegócio?
E noutra ocasião a uma proposta de Regionalização?
E ainda a uma outra proposta de despenalização do aborto?
(Combates que, aliás, fruto da sua inteligência ganhou na totalidade...)
Porque o fez? Porque não permitiu que o Parlamento aprovasse esses diplomas?
Porque não permitiu que se talhasse o País em regiões?
Ou que se passasse a abortar noutras circunstâncias?
Ou que se desse mais umas massas aos clubes de bola oriundas do jogo da Santa Casa?
...E depois logo se via.
Se desse buraco, arranjava-se um remendo qualquer.
Fê-lo, talvez por haver na vida momentos em que temos de marcar posições firmes, sob pena de nos vermos confundidos com os débeis de alma e inteligência que anuem a tudo...
Só é pena, depois de tanta observação, análise e sistematização, faltar ao senhor um bocado de capacidade de auto-crítica.
É que assim, este Homo Sapiens (Sapiens), criatura arvorada (com alguma propriedade) em esgalhadora de verdades televisivas, corre o risco de se ver reduzido a um boneco, ao cromo patético de um mero homossapiens.
Uma criatura já não tanto "homo" latino - do "homem"- , mas mais "homo" grego - de "semelhante, igual, conforme, repetido".
Já não tanto um homem com capacidade pensante, mas um vulgar pensador cíclico, esgotado, bem comportado, dramaticamente previsível, prisioneiro do constrangimento sebáceo da sua inteligência.
08/10/06
Homossapiens
Continentes à Deriva
Coutada do pensamento,
O Polvo Unívoco jamais será vencívoco,
Prof. Martelo,
Uma tal de Educação
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