19/10/06

À velocidade da luz


Houve quem se chocasse com as declarações do senhor Secretário de Estado Adjunto da Indústria e da Inovação, António Castro Guerra.
Mas o que disse, vindo da boca de quem o disse, não é grande "inovação".

Disse o cavalheiro, aos microfones, para quem quis ouvir e difundir, que a culpa do aumento de 15,7 por cento da electricidade para os consumidores domésticos em 2007 é do próprio consumidor, porque esteve vários anos a pagar menos do que devia.

Ora, fora o atraso mental do político que diz uma coisa destas (depois de dita nada interessa "o quereria dizer..."), fica o tal espanto só para alguns.

É que o que o senhor Secretário de Estado Adjunto diz, é exactamente o que diz o senhor Secretário de Estado da Educação (que como os professores são beneficiários da distinção de ser professor, têm de suportar o sistema às costas), ou o senhor Ministro da Saúde (que como os portugueses teimam em ficar doentes e recorrer ao seu Ministério, têm de ficar sem urgências), ou do que diz o senhor Primeiro-Ministro (que como estamos em maré baixa da economia, temos de pagar uma Ota e um TGV). Não há qualquer distinção.
Encontra-se um bode expiatório, larga-se-lhe a culpa em cima e pronto. Qual nexo, qual lógica, qual quê...
Basta que esteja infimamente contaminado com o objecto em discussão, estabelece-se uma correlação "à Lagardère” e está resolvido.
...Por isso não há novidade.

A única diferença foi que o senhor Secretário de Estado Adjunto imprimiu outro boost à sua intervenção.
À velocidade da luz, como aqueles tipos do Shakespear completo em 97 minutos, o senhor pretendeu contar a história completa da atitude governativa portuguesa numa penada; daí o traço largo, alguns borrões, o ter transposto os contornos da tela.

Fora a injustiça (que eu nunca deixei de pagar o que me foi pedido pela EDP, portanto não tinha nada a "pagar mais"), registo apenas o sinal. Mais um.
De que há algo que está a correr muitíssimo mal e de que andamos todos um bocado adormecidos - a deixar correr o tempo, que não corre senão contra nós.

Abençoados os que não são "de referência".

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