Dá-se mais valor ao que não se tem?
É capaz...
E como espelho, desvaloriza-se o que se dá como adquirido.
Hoje em Portugal há um couro (ou coiro) de vozes contra os professores.
Como iludi-lo?
Contra a sua preparação, empenho, desempenho, remuneração, progressão, horário e calendário de trabalho, atribuições, competências...
Daria para perguntar a esses perfeitos a rodos o que acham que não está "errado" com os professores.
É tranquilizante (para eles e para o poder político), porque pensando assim se vive a ilusão de ter encontrado respostas automáticas e credíveis para o desencanto, a inadaptação, a violência, o insucesso de uma juventude que deveria ser promissora.
Vive-se a ilusão de ter encontrado a resposta para a inconsequência de um processo que sempre prometeu às sociedades a garantia de segurança e tranquilidade do seu futuro - o desenvolvimento integral do indivíduo na escola (como outrora).
Mas o mundo hoje é feio.
Não é melhor nem pior que o de ontem. É feio.
É duro e agreste, como sempre foi. Mas somam-se-lhe o cinismo e a desilusão íntima, a desconfiança em si mesmo.
O que é avassalador.
Por isso o pânico, por isso a tristeza.
Por isso a culpabilização, a descredibilização dos professores aos olhos do vulgo.
Por isso o desencanto dos professores, a sua impotência e revolta perante a injustiça.
Por isso a dúvida secreta e incómoda sobre continuar ou não num jogo fatídico de desgaste e de perda.
Se não se acredita, veja-se!
Veja-se no Reino Unido. (Aqui, aqui, ou aqui.)
Ou na França. (Aqui.)
Ou na Alemanha (Aqui.)
Ou no Canadá (Aqui.)
Ou na Bélgica. (Aqui ou aqui.)
Em muita parte deste mundo ocidental moderno... Diferentes agentes, mesmas histórias.
A "nossa novidade" é estarmos a chegar às portas deste problema tão mais tarde quanto chegamos sempre aos abalos sociais que varrem a a Europa.
E como bons carneirinhos, sem tino para nos governarmos, vamos atrás dos outros, pelas alegrias ou pelas tristezas, pelos sucessos (?) ou pelos fracassos, nunca aproveitando o compasso de espera da chegada dessas novidades para as enfrentarmos e debelarmos, preparados.
Leia-se o excerto do texto de um reitor belga de uma faculdade formadora de professores, sobre tudo isto.
"A propos de la pénurie de profs de sciences
Pierre Marage
Doyen de la Faculté des Sciences de l’ULB
On semble avoir enfin pris conscience, ces derniers jours, de la pénurie de professeurs de
sciences dans l’enseignement secondaire.
Les raisons de la pénurie actuelle sont assez évidentes, mais il importe d’en tirer toutes les conséquences.
Le recrutement de professeurs de sciences souffre évidemment de l’image
malheureusement très négative – et injuste ! – du métier d’enseignant : dévalorisation
sociale, crises à répétition, problèmes récurrents de financement, missions de plus en plus
lourdes et complexes face à des adolescents souvent peu motivés par le manque de
perspectives professionnelles, conditions de travail pénibles, violences à l’école,
dispersion des horaires sur plusieurs établissements, nécessité pour les jeunes enseignants
de préparer au pied levé de nombreux cours différents, souvent hors de leur discipline,
instabilité des nominations, etc.
D’autre part, le recrutement d’enseignants souffre de la forte concurrence d’autres
secteurs sur le marché de l’emploi. Les jeunes scientifiques ne sont tout simplement pas
assez nombreux. "
Estamos a cometer os mesmos erros. Estamos a replicar resultados.
Que dizem os professores? Estão à espera de quê?
1 comentário:
é esta sensibilidade, esta vertente humana que distinguem um Professor do resto... de uma ministra, por exemplo. e essas faculdades só se adquirem no terreno.
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