22/11/06

"Uma mensagem imperial"

"O imperador – assim dizem – enviou-te, súbdito solitário e lastimável, sombra ínfima ante o sol imperial, refugiada na mais remota distância, justamente a ti o imperador enviou, do leito de morte, uma mensagem.
Fez ajoelhar-se o mensageiro ao pé da cama e sussurrou-lhe a mensagem no ouvido; tão importante lhe parecia, que mandou repeti-la em seu próprio ouvido. Assentindo com a cabeça, confirmou a exatidão das palavras. E, diante da turba reunida para assistir à sua morte – haviam derrubado todas as paredes impeditivas, e na escadaria em curva ampla e elevada, dispostos em círculo, estavam os grandes do império –, diante de todos, despachou o mensageiro.
De pronto, este se pôs em marcha, homem vigoroso, incansável.
Estendendo ora um braço, ora outro, abre passagem em meio à multidão; quando encontra obstáculo, aponta no peito a insígnia do sol; avança facilmente, como ninguém. Mas a multidão é enorme; suas moradas não têm fim. Fosse livre o terreno, como voaria, breve ouvirias na porta o golpe magnífico de seu punho. Mas, ao contrário, esforça-se inutilmente; comprime-se nos aposentos do palácio central; jamais conseguirá atravessá-los; e se conseguisse, de nada valeria; precisaria de empenhar-se em descer as escadas; e se as vencesse, de nada valeria; teria que percorrer os pátios; e depois dos pátios, o segundo palácio circundante; e novamente escadas e pátios; e mais outro palácio; e assim por milénios; e quando finalmente escapasse pelo último portão – mas isto nunca, nunca poderia acontecer – chegaria apenas à capital, o centro do mundo, onde se acumula a prodigiosa escória. Ninguém consegue passar por aí, muito menos com
a mensagem de um morto.
Mas, sentado à janela, tu a imaginas, enquanto a noite cai."

Franz Kafka

(Obrigado à cantinho)

2 comentários:

Anónimo disse...

tv pudesse dizer, simplesmente, "olá mensageiro!"
... porque os nossos desígnios, aqueles para que estamos destinados, só não se cumprem se nós não quisermos. é essa a condenação dos que crêem. dos não desistentes. dos que esperam e desejam.

Anónimo disse...

os que ouvem com o coração, não precisam de palavras. e não ocorrem ao minimo sinal pois estão sempre ali, junto a nós.
também gostei muito desta metáfora kafkiana.